Renata Sorrah já foi mocinha e vilã, doida e lúdica, autoritária e submissa, mulher fatal e patinho feio. Uma das maiores atrizes deste país, Renata chega nesta terça-feira (21) aos 70 anos, quase 50 deles dedicados à arte. Na TV, estreou em “Um Gosto Amargo de Festa”, na Tupi, em 1969. Estreou na Globo no ano seguinte. O RD1 homenageia os 70 anos de Renata Sorrah listando 7 personagens inesquecíveis da atriz.
Em seu primeiro trabalho na emissora, “Assim na Terra como no Céu”, Sorrah vivia Nívea, uma moça da zona-sul carioca, por quem o Padre Vítor (Francisco Cuoco) abandona a batina. Antes do casamento, contudo, Nívea é assassinada. O público, entretanto, já havia se afeiçoado a personagem. E foram tantos os manifestos pela sua volta que o autor Dias Gomes acabou a resgatando em flashbacks, que ajudaram a elucidar o mistério em torno de sua morte. O êxito a catapultou para o estrelado: nos anos 70, emendou trabalhos; não passou um único ano fora do ar. Com Lina, em “O Casarão” (1976), veio o reconhecimento da crítica: o prêmio APCA de melhor atriz.
Em 1978, surgiu a oportunidade de viver, pela primeira vez, uma pobretona; no caso, a professora Selma, de “Sinal de Alerta”. Na primeira metade dos anos 80, diminuiu o ritmo. Como destaque, a arrivista Leonor, de “Brilhante”, que se casa com um homossexual por dinheiro. Após uma curta passagem pela Manchete, na minissérie “Tudo em Cima”, retorna à Globo como Carolina D’Ávila, uma das melhores personagens de “Roda de Fogo”. A princípio, uma mulher abnegada; depois, figura astuta que, abandonada pelo marido, casa-se com o maior inimigo dele para manter seu poder e status. Sua trança com laço de veludo e suas ombreiras viraram moda!
Com “Vale Tudo”, a consagração! Foi a novela de Heleninha Roitman, a artista plástica sensível destruída pelo alcoolismo e pela tirania da mãe Odete (Beatriz Segall) e do ex-marido Marco Aurélio (Reginaldo Faria). Renata transitou com maestria pelos altos e baixos da personagem; os momentos de euforia, com Heleninha alcoolizada dançando um “mambo caliente” ganharam status de meme com a reprise do folhetim no Viva. Já os de crise testaram o lado “estivador” de Sorrah, com páginas e páginas de texto, muito bem encenadas. Muitos dos surtos depressivos de Heleninha, no entanto, não foram vistos pelo público: sempre que um capítulo ficava grande demais, os autores optavam por cortar as falas da pobre coitada verborrágica…
O papel seguinte, a Mariana de “Rainha da Sucata”, também era cheio de sensibilidade. Bibliotecária e cinéfila, cai na teia de Renato Maia (Daniel Filho), interessado em tomar a herança para fazer frente à Maria do Carmo (Regina Duarte), meia-irmã de Mariana. Ao longo do tempo, a quarentona casta descobre estar sendo enganada e se aproxima de Jonas (Raul Cortez). Tarde demais: Renato continua a perturbando e termina por matá-la no final. Mas, ufa! Foi só um pesadelo da atormentada mocinha. Este foi o segundo e último encontro de Renata Sorrah e Silvio de Abreu, autor da novela, na ficção: antes ela havia feito uma participação em “Guerra dos Sexos”; os dois ainda se encontraram como atores em “A Próxima Atração” (1970).
Após tantos trabalhos de destaque, Renata foi alçada ao posto de protagonista em “Pedra Sobre Pedra”, sua segunda parceria com Aguinaldo Silva, coautor de “Vale Tudo”. A personagem, no entanto, não foi escrita para ela: Aguinaldo e seus parceiros, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares, planejavam contar com Betty Faria na pele de Pilar Batista, grande amor e desafeto de Murilo Pontes (Lima Duarte). Boni, então vice-presidente de operações da Globo, vetou a escalação por conta da ligação de Betty com outra personagem regionalista, “Tieta”. Pilar era mãe de Marina (Adriana Esteves); anos depois, Adriana e Renata dividiram a vilã Nazaré, de “Senhora do Destino”.
Renata reencontrou Aguinaldo em outra personagem marcante, a cafetina Zenilda, de “A Indomada”. E Gilberto Braga em “Pátria Minha”, com uma personagem pouco lembrada, mas de grande importância para a discussão de temas como virgindade e a proximidade de pais e filhos. Como Natália, ela presenteava a filha Alice (Cláudia Abreu), de 17 anos, com uma cama de casal, ao saber que a mocinha está de namoro com Nando (Rodrigo Santoro). Esta cena, claro, causou polêmica; mas o perfil de Natália, que fez de Alice uma produção independente, entre acertos e erros na educação da filha, permitia tal ousadia. Também embates memoráveis com grandes atrizes, como Marieta Severo (Loreta) e Vera Fischer (Lídia). Vale a pena ver de novo…
No início da década de 2000, fez diversas participações especiais, como “Andando Nas Nuvens” e “Celebridade”. Em 2004, um presente de Aguinaldo Silva: deixou de ser Heleninha Roitman para virar Nazaré Tedesco, “raposa gostosa e felpuda”, mola propulsora de toda a trama de “Senhora do Destino” – e, devido ao sucesso, estrela da novela do meio para o final. Com suas frases de efeito, comentários ácidos, autoconfiança e desfaçatez, Nazaré entrou para o rol das grandes vilãs da TV brasileira e já se colocou acima das “colegas de maldade”: com seu “Nazaré confusa”, tornou-se conhecida no mundo inteiro. Que bom! Renata merece o reconhecimento de todos os continentes. Palmas para ela!