Rainer Cadete sobre Visky: “Acho libertador trazer esse personagem à TV”

Rainer Cadete
Rainer Cadete venceu o Melhores do Ano – RD1 na categoria de ator coadjuvante (Imagem: Divulgação / Pedro Pinho)

Vencedor do prêmio Melhores do Ano – RD1, na categoria ator coadjuvante, Rainer Cadete, que está de férias na Europa, visitando países como Portugal e Itália, encontrou um tempo nas férias para conversar com o RD1. E o papo rendeu.

Feliz da vida com a estatueta que levou para casa, o ator dedicou o prêmio à mãe, dona Ronalda, e a todos os envolvidos no trabalho de Verdades Secretas 2, como o autor Walcyr Carrasco e a diretora Amora Mautner.

Aos 34 anos e pai de Pietro, Rainer fala da importância de Visky trazer à tona discussões, assuntos como a sexualidade e pluralidade quando falamos sobre masculinidade. Certo de que o personagem é libertador, ele frisa que cada um tem o direito a ter a própria sexualidade e isso sem interferências ou julgamentos.

“As pessoas não têm que aceitar nada! A sexualidade do outro pertence ao outro e não pode ser questionada. E o Visky surge para coloca na sala de estar da família brasileira esse e outros assuntos. É um caminho para a liberdade. E quanto mais liberdade, melhor, nesse sentido”, dispara.

Confira a íntegra da entrevista com Rainer Cadete:

Você ganhou o prêmio Melhores do Ano – RD1 na categoria ator coadjuvante. A estatueta é um reconhecimento pelo trabalho feito até hoje na TV?

Ganhar um prêmio é sempre algo muito especial. E esse é o primeiro que recebo dando vida ao Visky, de Verdades Secretas 2. A sensação é muito boa, principalmente, sendo um prêmio que teve a votação popular. É sinal de que o personagem atingiu o coração das pessoas. Eu fico feliz com esse prêmio porque exerço o meu ofício com muito carinho.

A quem dedica esse prêmio?

Eu gostaria de dedicar, primeiro, à minha mãe (dona Ronalda das Graças). Depois à Amora Mautner e ao Walcyr Carrasco. E, claro, a todos os meus colegas e parceiros de trabalho. É muita gente envolvida para sair esse resultado final do personagem. Ainda quero dedicar o prêmio todas que se sentem fora da caixinha, fora do padrão, os que se sentem diferentes. Gostaria de dar um viva para a pluralidade, para as várias maneiras de se performar a masculinidade.

Ao receber esse prêmio, passa pela cabeça toda a trajetória trilhada até aqui e, hoje, ser um dos protagonistas de Verdades Secretas 2?

Passa um filminho sim. E que vai desde a primeira vez que pisei num palco – para cantar em uma Igreja com a minha irmã –, até a primeira vez que interpretei um personagem – que foi um liquidificador, num teatro infantil. Eu me lembro até dos testes que fiz, de todos os nãos que recebi – e foram muitos, mas muitos! Então, é muito interessante receber um prêmio porque passa pela minha cabeça toda a luta que é travada no Brasil para se viver de arte no país.

Rainer Cadete
Rainer Cadete venceu o Melhores do Ano – RD1 na categoria de ator coadjuvante (Imagem: Divulgação / Pedro Pinho)

Visky traz à tona temas importantes para serem debatidos como a sexualidade? Isso é libertador?

O Visky me ensinou muito sobre liberdade, sobre a potência de ser o que ele é. Acho completamente libertador trazer esse personagem à TV porque é um corpo político neste momento do país. Um país onde se comete mais crime de homofobia e, ao mesmo tempo, é um país onde mais se consome pornografia transexual. Isso é um paradigma! Somo um país colonialista, embasado no patriarcado. Então, trazer o Visky e tudo o que ele representa com a sua história, é muito importante, e isso se a gente observar a história da teledramaturgia brasileira. Não há um personagem como ele… Geralmente, os personagens LGBTQIA+ se resumem naquela pegada do cômico. Mas o Visky transcende e levanta os debates. Adoro colocar o meu trabalho à disposição desses debates.

Precisamos de mais liberdade e menos hipocrisia?  

Com certeza! Acredito que estamos caminhando em direção a essa liberdade porque ninguém tem o direito de aceitar a sexualidade do outro. A não ser que a pessoa vá te pedir em casamento (risos). Porém, as pessoas não têm que aceitar nada! A sexualidade do outro pertence ao outro e não pode ser questionar. E nem se achar no direito de falar se é verdade ou não. Enfim, a sociedade é muito violenta em relação à sexualidade. Às vezes, numa escola uma criança que tem uma atitude diferente que foge ao padrão, ela já é apontada como gay ou lésbica. Porém, pode ser que essa pessoa ainda nem tenha descoberto a própria sexualidade. Então, é claro que algumas pessoas sofrem várias violências em relação à sexualidade e identidade de gênero. Isso é hipocrisia porque a gente não tem o direito de opinar sobre essas coisas. O Visky coloca na sala de estar da família brasileira esses assuntos. E esse é um caminho para a liberdade. Quanto mais liberdade, melhor, nesse sentido.

Em Verdades Secretas 2, Visky surgiu ousado nas cenas. Foi difícil entrar na nova fase do personagem?

Encarei o Visky, de Verdades Secretas 2, como um novo personagem. É obvio que a essência daquele da primeira versão e tudo o que eu já tinha estudado para fazer o Visky da dessa primeira versão, está presente. Mas não sou mais o mesmo, o nosso mundo não é mais o mesmo, então, o Visky não tinha como continuar sendo o mesmo. Ele mudou bastante, além de ganhar mais protagonismo na trama. Surgiu com outros questionamentos e desafios. Eu tive que modificar até o meu corpo, mais uma vez, porque achava que o Visky tinha um corpo diferente do meu. Ele foi um grande desafio para mim.

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Rainer Cadete venceu o Melhores do Ano – RD1 na categoria de ator coadjuvante (Imagem: Divulgação / Pedro Pinho)

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Márcio GomesMárcio Gomes
O carioca Márcio Gomes é apaixonado pelo jornalismo, tanto que o escolheu como profissão. Passou por diversas redações, já foi correspondente estrangeiro dos títulos da Editora Impala de Portugal como Nova Gente, Focus, Boa Forma, e editor na revista de BORDO. Escreveu para várias publicações como Elle, Capricho, Manchete, Desfile, Todateen, Shape, Seleções, Agência Estado/Estadão, O Fuxico, UOL, entre outros.