Silvero Pereira fala da importância de Pantanal debater temas como a homofobia e o orgulho LGBTQIA+

Silvero Pereira
Silvero Pereira falou sobre a importância do seu personagem em Pantanal (Imagem: Divulgação / Globo)

Silvero Pereira tem roubado a cena em Pantanal. Emocionando os telespectadores com o seu Zaquieu – que ficou entre os assuntos mais comentados no Twitter –, o ator tem levantado questões importantes como a homofobia e o orgulho LGBTQIA+. E ele sabe da sua importância, do seu lugar de fala alcançado com muito trabalho.

“Eu sei que não dá para mudar toda a sociedade, mas se consigo mudar a realidade de outra pessoa, isso é gratificante. Vejo que valeu a pena ter feito tudo o que fiz como artista”, conta Silvero Pereira em entrevista exclusiva ao RD1.

Ciente de que o humor é capaz de transformar, o ator espera que com o trabalho na trama do horário nobre consiga fazer com que alguns questionem comportamentos e enxerguem que não cabe mais nos dias de hoje piadas ou deboches com temas LGBTQIA+.

“O humor é uma arma poderosíssima se a gente sabe utilizar de maneira correta. Afinal, ele também pode ser didático e pode conseguir mudar a cabeça das pessoas. O Zaquieu é diferente, com ações engraçadas, mas ele não e só isso! Tem sentimentos profundos que estão sendo bem explorados nessa nova versão, que está trazendo à tona temas importantes para serem discutidos. Não cabe mais nos dias de hoje piadas com esse tipo de situação”, dispara.

Confira a entrevista na íntegra:

RD1 – Zaquieu passou pelo Pantanal e trouxe à tona temas fortes para serem refletidos. Qual a mensagem você pretende passar no ar com esse trabalho?

Silvero Pereira – O que eu espero é que a gente comece a discutir como essas pequenas atitudes, essa violência pode ser extremamente dolorosa para quem sofre essas ações.

Ao dar vida a Zaquieu você espera encorajar pessoas a serem livres e não se anularem por ninguém?

Realmente, espero que isso aconteça porque o Zaquieu é um personagem cheio de vida. Porém, ao mesmo tempo, ele tem muitas cicatrizes. O Zaquieu tem uma história de sofrimento por conta de tudo o que já passou até se tornar quem ele é hoje. No entanto, ele luta pela sua liberdade e pelo seu direito de ser respeitado. Isso é o fundamental.

Na primeira versão o personagem foi vivido por João Alberto Pinheiro. Você se identificou com o Zaquieu?

Eu tenho o maior orgulho de hoje poder representar o João Alberto através do personagem. O meu desejo é honrar o trabalho do João Alberto, que me marcou de maneiras diferentes. Eu era uma criança que se identificava com aquilo, mas que negava esse personagem e vivia isso no meu dia a dia.

A medida que fui me tornando mais afeminado, que fui demonstrando a minha feminilidade, a de menino gay, eu sofria alguns ataques. Então, quando vi o Zaquieu tão feminino naquela versão, com toda aquela alegria de ser, eu sabia que aquilo era algo que era parecido comigo, mas que eu tentava me preservar.

Hoje, o meu Zaquieu é completamente diferente e pretende mostrar que a gente tem que ser assim, tem que ser a gente! E devo exigir que as pessoas me respeitem.

O personagem tem leveza. Acredita que através do humor, é possível educar e trazer à tona uma discussão importante sobre a homofobia e o orgulho LGBTQIA+?

O humor é uma arma poderosíssima se a gente sabe utilizar de maneira correta. Afinal, ele também pode ser didático e pode conseguir mudar a cabeça das pessoas. Não e só a tragédia que muda e nos faz pensar. O humor pode ser importante para isso.

O Zaquieu é um personagem diferente, com ações engraçadas, mas ele não é só isso! Ele tem sentimentos profundos que estão sendo bem explorados nessa nova versão. E trazendo à tona temas importantes para serem discutidos. Não cabe mais nos dias de hoje piadas e deboches com esse tipo de situação.

Podemos dizer que você ajudou a causar uma revolução LGBTQUIA+ no sertão?

Essa pergunta é muito feliz de ser respondida. Há pouco tempo completei 40 anos e recebi uma mensagem linda de um adolescente LGBTQUIA+ da minha cidade natal, Mombaça.

Ele disse que a partir do momento que conheceu a minha história, que me viu falando em uma palestra na escola que ele estudava, ele se sentiu mais encorajado de ser quem ele é! Isso me deu um orgulho imenso.

Eu sei que não dá para mudar toda a sociedade, mas se consigo mudar a realidade de outra pessoa, isso é gratificante, vejo que valeu a pena ter feito tudo o que fiz como artista.

O que ainda guarda do menino que saiu de Mombaça, em pleno Sertão do Ceará, para ganhar o país com a sua arte?

Eu guardo uma criança eterna. Eu saí de Mombaça com 12 anos de idade. Comecei a trabalhar aos oito. Depois fui morar em Fortaleza para trabalhar e estudar.

Não vivi a minha infância, esse período da magia da imaginação, de sonhar, de brincar, de ser livre… Mas trago ainda hoje essa alegria de criança infantil, da imaginação e olho para o mundo com admiração, com desejo de abraçar esse mundo com amor incondicional.

O que te encantou no Pantanal?

Não conhecia o Pantanal. Como telespectador, assisti a versão da novela de 1990. Quando entrei na fazenda do José Leôncio (Marcos Palmeira), eu chorei ao estar ali, pisando naquela varanda que assistia pela TV quando criança. A sensação que posso dizer que eu senti é que fui abraçado pela Natureza.

Esse contato com a Natureza trouxe reflexões?

Sou uma figura próxima da Natureza, que vivo a religiosidade a partir do candomblé, da umbanda, do batuque da nação, dos índios; acredito nas forças da Natureza e na minha conexão com ela que grita mais alto que qualquer outra interferência.

Aprendi que entre medo e respeito, ao entrar na mata você pode ter medo, mas é mais importante ter respeito pela Natureza. Porque ao perder o medo, ela entende isso e passa a te receber com mais encanto.

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Márcio GomesMárcio Gomes
O carioca Márcio Gomes é apaixonado pelo jornalismo, tanto que o escolheu como profissão. Passou por diversas redações, já foi correspondente estrangeiro dos títulos da Editora Impala de Portugal como Nova Gente, Focus, Boa Forma, e editor na revista de BORDO. Escreveu para várias publicações como Elle, Capricho, Manchete, Desfile, Todateen, Shape, Seleções, Agência Estado/Estadão, O Fuxico, UOL, entre outros.