Velho e bom folhetim, embalado por nostalgia, garante boa estreia de “Verão 90”

Verão 90
Diogo Caruso, Melissa Nóbrega e João Bravo, como Jerônimo, Manuzita e João, em “Verão 90” (Imagem: Divulgação / Globo)

Analisar uma novela considerando apenas o primeiro capítulo é como julgar o livro pela capa. Mas… Que bela capa a de “Verão 90”, estreia desta terça-feira (29), às 19h. Embalagem e conteúdo prometem bom entretenimento pelos próximos meses. Ou ao menos boas referências para os saudosistas de plantão – de imagens de arquivo a “personagens da vida real” reproduzidos no enredo de Izabel de Oliveira e Paula Amaral, com direção artística de Jorge Fernando.

“Verão 90” acompanha a trajetória de Manuzita (Melissa Nóbrega), garota prodígio alçada ao posto de apresentadora do “Patotinha Mágica”, programa infantil (fictício) da Globo, no início dos anos 1980. A atração, contudo, começa a perder relevância, o que faz com que a mãe da pequena, Lidiane (Claudia Raia), promova, na encolha, um concurso para eleger o mais novo integrante da ‘Patotinha’. Os irmãos Guerreiro, João (João Bravo) e Jerônimo (Diogo Caruso), acabam eleitos – o primeiro pela colega de palco; o segundo pela mãe e empresária. A genitora dos garotos, porém, resiste à ideia. Janaína (Dira Paes) acaba cedendo, a princípio, até que, tempos depois, João adoece e o grupo chega ao fim, por conta de uma “cilada” armada por Lidiane e, quem diria, pelo menino Jerônimo.

O primeiro capítulo chegou ao fim com o reencontro de Manuzita (agora Isabelle Drummond) e João (Rafael Vitti); Jerônimo (Jesuíta Barbosa) segue flertando com a criminalidade. Toda essa história veio acompanhada de inúmeras referências, da “vida real” ou da ficção, “pescadas” pelo público que se habitou a assistir TV de olho na internet: a relação de Janaína e Jerônimo, a mãe batalhadora e o filho ordinário, repete Raquel (Regina Duarte) e Maria de Fátima (Gloria Pires), de “Vale Tudo” (1988); a relação de Manuzita e Lidiane repete estrelas prodígios como Angélica e Mara Maravilha, viviam, dizem, sob agenciamento e domínio de suas “mamães”; o Cachorrão (Luiz Henrique Nogueira), assistente de palco da “Patotinha Mágica”, parece ter sido inspirado em Priscila, estrela canina da “TV Colosso” (1993).

Há “citações” mais sutis: o ator Glauco Gomes surge em participação, à imagem e semelhança de Roberto Talma, falecido em 2015, diretor de clássicos como “Bebê a Bordo” (1988) e “Top Model” (1989) – e parceiro de Jorge Fernando em trabalhos como “Jogo da Vida” (1981), trama de Silvio de Abreu que revolucionou a faixa das 19h. Já o visual de Rafael Vitti lembra o de seu pai, João Vitti, na estreia deste na telinha, em “Despedida de Solteiro” (1992): os longos cabelos de Xampu (João) fizeram a fama do ator neste primeiro trabalho – que, curiosamente, chegou ao fim há exatos 26 anos. Além disso, a riquíssima pesquisa de imagens “costurou” as cenas, resgatando momentos do “Cassino do Chacrinha” (1982), lendária atração das tardes de sábado, ou a voz de Celso Freitas, hoje na Record, então no “Jornal Nacional”.

É claro que “Verão 90” não irá recorrer todo dia ao expediente nostálgico da estreia. É claro também que quem viveu os anos 1980 e 1990 vai entender todas as referências, enquanto o público mais jovem, alheio às décadas passadas, terá de ser fisgado pelo bom e velho folhetim – a rivalidade de Lidiane e Janaína e de João e Jerônimo, em disputa por Manuzita. Ao menos o primeiro capítulo – ou a capa – despertou aquela vontade de acompanhar a novela – ou folhear este almanaque.

O fim de “O Tempo Não Para”

Há 30 anos, e alguns dias, o país parava para ver a revelação do crime que marcou a reta final de “Vale Tudo”: quem matou Odete Roitman (Beatriz Segall)? A cena do assassinato, reprisada nesta segunda-feira (28) no Canal Viva, chegou ao primeiro lugar dos Trending Topics do Twitter. Prova da força não do mistério – basta jogar “Odete Roitman” no Google para descobrir quem deu cabo da megera –, mas do folhetim de Aguinaldo Silva, Gilberto Braga e Leonor Bassères, que se estendeu por 204 capítulos, mantendo, sempre, o interesse do público. O que terá acontecido então às novelas atuais, incapazes de tal façanha? Taí “O Tempo Não Para”, encerrada ontem, que não me deixa mentir.

A trama de Mário Teixeira estreou em 31 de julho do ano passado trazendo frescor à faixa das 19h. O primeiro capítulo pode ser considerado uma aula de roteiro: conhecemos os Sabino Machado, família do século XIX, congelados após o naufrágio de um navio na Patagônia, despertos em pleno século XXI. Seguiram-se dias e dias de uma trama frenética, inteligente, bem produzida e muito bem interpretada. Mas, com o avançar dos meses, a narrativa sucumbiu. Inúmeros conflitos oferecidos pela trama foram postos em segundo plano, ou abolidos, enquanto o enredo patinava em cima das tentativas dos vilões de eliminar Marocas (Juliana Paiva), bem como nas inúmeras declarações de amor desta e de Samuca (Nicolas Prattes).

“O Tempo Não Para” repetiu a trajetória de “I Love Paraisópolis”, trabalho anterior de Mário às 19h – em parceria com Alcides Nogueira –, também marcado pelo esvaziamento do roteiro com o avançar dos capítulos. E pela consequente queda de audiência, que também perseguiu a recém-encerrada trama das 19h, reflexo mais nítido do desinteresse causado por um folhetim ineficiente. Cabe destacar, porém, a garra do elenco, ao longo de toda a trajetória: Edson Celulari (Sabino), Juliana Paiva, Nicolas Prattes, Christiane Torloni (Carmem), Rosi Campos (Agustina), Milton Gonçalves (Eliseu), Felipe Simas (Elmo), Maria Eduarda de Carvalho (Miss Celine), Carol Macedo (Paulina), Olívia Araújo (Cesária), dentre outros.

Lamenta-se, porém, o mau aproveitamento de nomes como Regiane Alves (Mariacarla), João Baldasserini (Emílio / Lúcio) e Eva Wilma (Dra. Petra) – que talvez acrescentasse mais à narrativa se tivesse sido mantida em cena do primeiro ao último capítulo. Ainda, o deslize de Cleo como Betina, uma vilã equivocada em todos os sentidos, das motivações à interpretação. Com as devidas desculpas pelo trocadilho infame, “O Tempo Não Para” parou no tempo. Começou como “minutos de prazer”; terminou com a sensação de hora perdida.

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Duh Secco é “telemaníaco” desde criancinha. Em 2014, criou o blog “Vivo no Viva”, repercutindo novelas e demais atrações do Canal Viva. Foi contratado pela Globosat no ano seguinte. Integra o time do RD1 desde 2016, nas funções de repórter e colunista. Também está nas redes sociais e no YouTube (@DuhSecco), sempre reverenciando a história da TV e comentando as produções atuais.

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Duh Secco é  "telemaníaco" desde criancinha. Em 2014, criou o blog Vivo no Viva, repercutindo novelas e demais atrações do Canal Viva. Foi contratado pela Globosat no ano seguinte. Integra o time do RD1 desde 2016, nas funções de repórter e colunista. Também está nas redes sociais e no YouTube (@DuhSecco), sempre reverenciando a história da TV e comentando as produções atuais.