Historicamente a Globo acumula inimigos políticos. Em muitas vezes, porém, a emissora foi além da notícia e “jantou” algumas autoridades. Nos últimos dois anos, por exemplo, o canal carioca tem batido de frente com o presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido) e o prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos). Então, lembraremos hoje cinco momentos em que o veículo disparou contra políticos:
VEJA ESSA
Marcelo Crivella
Esta coluna não poderia deixar de começar a lista com o prefeito do Rio, que, nesta semana, foi alvo de uma grande denúncia da Globo, que revelou o grupo Guardiões do Crivella. Repórteres descobriram que funcionários eram supostamente pagos para evitar denúncias de cidadãos sobre problemas na Saúde da cidade e também atrapalhar reportagens do canal.
Porém, a “jantada” que vamos lembrar hoje aconteceu no ano passado, quando o político criticou a cobertura do veículo em tragédia por causa de um forte temporal. Além de detonar a empresa, ele mandou um “chega para lá” após questionamento de repórter e ainda acusou a Globo de querer “dinheiro na sua propaganda” e “Carnaval para vender”.
Em telejornal, a emissora respondeu: “A Globo cobriu uma tragédia que tirou a vida de 10 cariocas e cumpriu a obrigação jornalística de mostrar que a prefeitura demorou a acudir a população – 1 fato reconhecido pelo próprio prefeito, num momento raro de autocrítica. A Globo lamenta também as declarações descabidas de Marcelo Crivella quanto ao Carnaval. A Globo compra os direitos de transmissão das escolas de samba e paga 1 valor 6 vezes maior do que aquele que elas recebem de subvenção da Prefeitura”.
Jair Bolsonaro
E, assim como com o Crivella, o canal carioca tem tido uma grande rixa com o presidente da República. Antes mesmo do início do atual Governo, na época das eleições, a rede de televisão deu sinais de que a relação entre as partes seria bem complicada. São inúmeros os momentos em que os telejornais do veículo respondeu e alfinetou o político.
No entanto, o ápice e marcante momento foi quando o Brasil alcançou a triste marca de 100 mil mortes pela Covid-19 (agora já são mais de 120 mil). No JN daquele dia, 8 de agosto de 2020, William Bonner e Renata Vasconcellos subiram o tom contra Bolsonaro e apontaram erros cometidos por ele durante a pandemia.
“A pergunta que se impõe é: o presidente da república cumpriu esse dever [de investir na saúde]? Entre os governadores e prefeitos, quem cumpriu? Quem não cumpriu? Mais cedo ou mais tarde, o Brasil vai precisar de resposta para essas perguntas. É assim nas democracias e nas repúblicas em que todos temos direitos e deveres. E onde ninguém está acima da lei“, disparou Bonner.
Ainda no JN, os apresentadores lamentaram as vidas perdidas pela Covid-19: “Essa resposta vai ter que ser dada principalmente em respeito às famílias de mais de cem mil brasileiros mortos. Porque eles não podem ser vistos só como números”.
“E o Jornal Nacional não vai se cansar de repetir. Essas vidas perdidas eram de brasileiros como todos nós. Não eram pessoas que estavam fadadas a morrer por qualquer outro motivo. Elas morreram de Covid. Deixaram uma família em dor, amigos, colegas de trabalho, conhecidos. Nós não podemos nos anestesiar. Cem mil pessoas”, finalizou o famoso.
Foi uma dia difícil para o presidente. Inclusive, desde o dia do editorial, ele tenta na Justiça um pedido de resposta no JN. Até agora não conseguiu.
Lula
Os dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foram marcados por muitos atritos entre o político e a empresa da família Marinho. Entretanto, uma situação que foi ápice do mal-estar na relação entre as partes aconteceu em 2016, quando advogados do político solicitaram direito de resposta do Jornal Nacional.
Ao vivo, em um espaço com mais de sete minutos, o JN reagiu furioso contra o pedido de Lula. Na época, os três advogados do ex-presidente alegavam que o noticiário não procurou a defesa nem o Instituto Lula para se manifestarem sobre as acusações. “Isso não é verdade”, disparou a edição do telejornal.
“Como é praxe, a resposta do Instituto Lula foi enviada para todos os responsáveis por noticiários da TV Globo, GloboNews e G1. Não faz sentido que todos os telejornais peçam ao Instituto Lula a mesma nota várias vezes”, destacou o jornal, que ainda fez uma linha do tempo com os pedidos de resposta para a empresa.
A Globo tamém disparou: “A emissora não é parte nas investigações a que está sujeito o ex-presidente. Cumpre apenas a sua missão de informar o povo. Respaldada pela Constituição, continuará a fazê-lo, com serenidade, e sem nada a temer”. Uma jantada e tanto, hein?
Anthony Garotinho
O ex-governador do Rio também integra a lista dos desafetos da Globo. Em várias oportunidades ele fez questão de deixar isso claro com, inclusive, graves acusações. Até mesmo em um dos telejornais da emissora ele soltou o verbo.
Então candidato ao governo do Rio, Anthony Garotinho participou de entrevista no RJ1 e detonou a empresa. “Sou vítima de muitas perseguições. O sistema brasileiro é: acusação, que cabe ao promotor, você está falando de acusações, a defensoria pública ou o advogado defende e o juiz julga. Ou seja, acusação todo mundo tem, agora mesmo acusaram a Globo de estar envolvida em um desvio bilionário com laranjas e paraísos fiscais”, disse o político.
“Eu não sei se a Globo é culpada, eu até acho que é”, emendou ele. A apresentadora Mariana Gross não pensou duas vezes, cortou o convidado e reagiu: “Deputado, o tema aqui não é a TV Globo, a Globo não sonegou nada”.
O ex-governador seguiu com as acusações e a jornalista voltou a rebatê-lo: “Candidato, a Globo não sonegou nada, candidato. Deixo claro para o senhor”.
Após a situação embaraçosa ao vivo, a rede da família Marinho destacou que “não tem qualquer dívida em aberto com a Receita Federal com relação à aquisição dos direitos de transmissão da Copa do Mundo de 2002”.
Luiz Henrique Mandetta
Em plena pandemia do novo coronavírus, a emissora não engoliu muito bem uma crítica do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta para a imprensa. Logo no começo da quarentena, em março, o político afirmou que “às vezes os meios de comunicação são sórdidos”.
Em telejornal da Globo, Ana Paula Araújo defendeu o trabalho dos jornalistas e alfinetou o então ministro, dizendo que a fala foi uma maneira que Mandetta encontrou de agradar o presidente.
“O ministro da saúde encontrou uma outra maneira de agradar o presidente: criticou o trabalho da imprensa, afirmando que os meios de comunicação são sórdidos, porque na visão dele só vendem se a matéria for ruim. Na pandemia de um vírus letal contra o qual não há medicamente ou vacina é estarrecedor que ele não reconheça que o nosso trabalho, o trabalho de todos os colegas jornalistas, daqui da Globo, mas também de todos os veículos, é um remédio poderoso: dar informação para que o povo possa se proteger.”
“Há muitos trabalhos essenciais, dos médicos e enfermeiros em primeiro lugar, mas nós jornalistas estamos nas redações e nas ruas arriscando nossa saúde, para cumprir nossa missão. E fazemos isso com orgulho”, disparou a âncora.
Luiz Fábio Almeida é jornalista, produtor multimídia e um apaixonado pelo que acontece na televisão. É editor-chefe e colunista do RD1, onde escreve sobre TV, Audiências da TV e Streaming. Está nas redes sociais no @luizfabio_ca e também pode ser encontrado através do email [email protected]