De cavalo morto a cão dopado: 4 vezes em que a Globo foi acusada de maltratar animais

Globo

América causou polêmica ao ignorar maus-tratos aos animais em rodeios (Imagem: Divulgação / Globo)

Há exatos dois anos, a criação do Dia Nacional do Protetor de Animais, celebrado anualmente no dia 10 de agosto, passou a reconhecer toda pessoa física e integrante de organização sem fins lucrativos que desempenham atividades gratuitamente que busquem proteger, cuidar, conscientizar e resgatar animais em condições de vulnerabilidade.

Por várias vezes, esses protetores denunciaram supostas agressões contra os animais em programas de TV e buscaram alertar a população, muitas vezes sem respaldo da Justiça e com muita dificuldade de dialogar com os responsáveis por essas produções, entre eles autores e diretores conhecidos pelo grande público.

Confira 4 momentos em que produções da Globo foram denunciadas:

A Casa das Sete Mulheres

Para ativistas, morte de cavalo em A Casa das Sete Mulheres foi convincente demais para ser fictícia (Imagem: Divulgação / Globo)

Cavalo morto em A Casa das Sete Mulheres (2003)

Em 2003, através de um making of exibido no programa Vídeo Show, membros do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal perceberam que um cavalo provavelmente havia sido morto de verdade durante a gravação de uma cena na minissérie A Casa das Sete Mulheres. Sob o comando de Jayme Monjardim, o animal cambaleou e tombou após receber um tiro de um dos personagens da trama.

A ONG cobrou explicações do diretor e da Globo na época, mas não obteve respostas. Para os integrantes, no entanto, não restaram dúvidas quanto ao crime praticado nos bastidores.

“(A cena) nos pareceu convincente demais, e cavalos não são tão bons atores. Ou o cavalo mereceria um Oscar de interpretação, ou o sr. Jayme Monjardim matou estupidamente um pobre animal para gravar uma cena perfeitamente dispensável. Como ele nunca nos respondeu, ficamos com a segunda hipótese”, acusou o texto publicado pelos integrantes da ONG no jornal Folha de São Paulo, na época.

América

ONG tentou dialogar com autora e diretor de América para discutir abordagem dos rodeios, mas não obteve resposta (Imagem: Divulgação / Globo)

Rodeios em América (2005)

Dois anos após A Casa das Sete Mulheres, Jayme Monjardim voltou a ser procurado pelos integrantes do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, desta vez para dialogar sobre a escolha dos rodeios para um dos núcleos principais de América. Os militantes lembraram que o diretor já havia retratado a tradição das festas de peão pelo país na novela Ana Raio e Zé Trovão, exibida entre 1990 e 1991 pela extinta TV Manchete.

“Quando soube que entre outros temas os rodeios seriam abordados, fiquei desanimada. Essa atividade teve um enorme ‘boom’ no Brasil após a novela Ana Raio e Zé Trovão’ e desde então muitos abusos têm sido cometidos com a proliferação de empresas de rodeio, verdadeiros caça-níqueis que grassam em torno das grandes cidades e que conseguimos com grande esforço reduzir”, escreveu a diretora do grupo, Sônia Fonseca, que chegou a marcar uma reunião com o Jayme e com a autora Glória Perez, mas ambos desistiram do encontro dias depois.

A protetora lembrou que os animais em rodeios são vítimas de tortura para “garantir o show”, e que essas agressões foram comprovadas pela Universidade de São Paulo. “O boi é aterrorizado e submetido a dor no condicionamento para corcovear, ou bem é submetido a um sedém com arames e ganchos até no próprio espetáculo. Choques elétricos são rotineiros, assim como outras práticas de tortura, só para o deleite de uma platéia histérica ávida de tombos, fraturas e outras boçalidades”, denunciou Sônia.

Além do FNPDA, América foi criticada por outras organizações não governamentais, inclusive de fora do país, e foi alvo de boicote em comunidades do Orkut, em época em que as redes sociais ainda não tinham grande alcance no país.

O Tempo Não Para

Atriz mirim revelou que cachorro era dopado nas cenas da novela O Tempo Não Para (Imagem: Divulgação / Globo)

Cachorro dopado em O Tempo Não Para (2018)

Em setembro 2018, a Globo voltou a ser alvo de Entidades protetoras dos animais após a atriz mirim Natthalia Gonçalves, de O Tempo Não Para, revelar ao vivo no Vídeo Show que o cachorro que aparecia na trama, da raça fox terrier, era dopado para se manter quieto durante as gravações da trama.

“A gente tem o truque de deixar ele deitado, só que agora, como a gente não está com a comida, não dá para fazer. E também, às vezes, dão anestesia, porque ele não para quieto”, contou a menina. Surpreendida, a apresentadora Sophia Abrahão desmentiu a informação. “Anestesia? Ai, meu Deus. Não dão anestesia, estão falando aqui. O cachorro é fofo mesmo”, desconversou.

No final do programa, a coordenadora de cena da novela foi ao estúdio para  voltar a desmentir a atriz mirim. “Então, eu estou aqui para esclarecer uma situação. A gente usa o adestramento sempre com recompensa positiva. No set, sempre tem o adestrador e um veterinário que acompanham os animais que a gente grava. A gente usa os truques e dá uma recompensa”, afirmou.

“Se não foi feito o uso do medicamento, a Globo precisa constatar o trabalho de adestramento diante de seu público, afinal de contas a acusação é grave e a anestesia poderia ter causado a morte do animal”, lembrou um protetor, na época.

Segundo Sol

Adriana Esteves maltratou galinha em cena de Segundo Sol (Imagem: Reprodução / Globo)

Galinha arremessada em Segundo Sol (2018)

Também em 2018, uma sequência de cenas veiculadas em Segundo Sol gerou críticas de ONGs e de internautas comuns nas redes sociais. Na trama de João Emanuel Carneiro, Laureta (Adriana Esteves) apareceu enforcando e arremessando uma galinha que estava na mesa de jantar de sua mãe, Dulce (Renata Sorrah). Em outro momento, a vilã deu um tapa em outra ave que estava na casa.

O militante Fábio Chaves, criador do grupo vegano Vista-se, repercutiu as cenas em um vídeo publicado nas redes sociais e afirmou que a emissora estava dando mal exemplo ao público.

“Se ela fizesse isso com um cachorro, ninguém iria achar normal. Eu não sei como alguém aprova que uma cena dessa vai ao ar nos dias de hoje. Isso é mau trato aos animais em plena novela mais assistida do país”, detonou. A Globo não se manifestou na época.

Daniel Ribeiro
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Daniel Ribeiro

Daniel Ribeiro cobre televisão desde 2010. No RD1, ao longo de três passagens, já foi repórter e colunista. Especializado em fotografia, retorna ao site para assinar uma coluna que virou referência enquanto esteve à frente, a Curto-Circuito. Pode ser encontrado no Twitter através do @danielmiede ou no [email protected].