Morando fora do Brasil há dois anos após inúmeras ameaças de morte, Jean Wyllys se permitiu voltar a praticar um dom que descobriu ainda na infância, o de desenhar. Em conversa com o jornal Extra, o ex-deputado federal, que não pôde se dedicar a arte quando era pequeno por causa das dificuldades financeiras, revelou:
VEJA ESSA
“Digo que minha pintura tem a estética da precariedade. Até no material, que não é nada extraordinário. Uso papel, lápis, aquarela, carvão, colagens sobre material reciclado… Não tenho a menor pretensão de ser um artista plástico. Mas dialogar através da pintura. A beleza serve para desarmar”.
“Acho que, sim, o desenho me devolveu a sensação de pertencimento. Foi onde reencontrei sentimentos adormecidos, intocados. Uma maneira de me conectar com o que tive que deixar para trás”, refletiu.
Para quem não sabe, Jean mora fora do Brasil desde 2019. Desde então, ele já viveu na Alemanha, nos Estados Unidos (onde lecionou em Harvard) e está agora na Espanha, morando em Barcelona, local em que está fazendo seu doutorado sobre “a articulação das fake news com discursos de ódio e os impactos desses discursos nos processos eleitorais e modo de vida das minorias”.
Após enfrentar tempos difíceis e de muito ódio, o pesquisador pontuou: “Fui e sou vítima da glamourização do ódio. O autoritarismo é muito sedutor. Minhas redes sociais sempre foram atacadas”.
No entanto, com sua arte a reação das pessoas foi outra: “Com a pintura percebi algo diferente. Ali está uma crítica, são coisas que penso traduzidas em forma de arte, mas com legendas contundentes e uma forma. Já teve detrator meu que comentou ‘até que para isso serve’. Ou seja, meu intento de dialogar, nem que seja de pouco a pouco, pode funcionar”.
Apesar de expor seus sentimentos nos desenhos e ser mais bem acolhido dessa forma, o medo ainda se faz presente na vida de Wyllys, tanto que vive de forma discreta na Espanha. Longe de quem ama, a dor é grande: “É inegável a falta que me fazem a família, os amigos, a minha terra. Vou ressignificando esse sentimento quando falo com as pessoas nas chamadas de vídeo, telefone, quando escrevo e ouço música brasileira”.
“Meus amores e afetos estão nos amigos que se tornaram uma família e deles recebo muito. Não espero um grande amor. Até isso está sendo repensado, de forma mais livre, longe dos moldes tradicionais de relacionamento. Talvez, lá na frente, eu venha a ter uma relação aberta. Mas, acredite, sou bem tímido e autocrítico. Então, muita coisa passa por aí também”, completou.
Vale lembrar que nem sempre Jean Wyllys foi vítima de ódio. Em 2005, quando participou do Big Brother, o público deu a ele o prêmio do programa. Sobre o reality, o ex-brother afirmou: “As pessoas acham que eu tenho vergonha ou algum problema com o programa. Nunca tive. O Big Brother me proporcionou muitas coisas. Me deu voz. Mas eu nunca quis ser uma celebridade. Não me interessa ser um rosto. Eu entrei pela experiência, pela pesquisa, pela desconstrução”.
A Redação do RD1 é composta por especialistas quando o assunto é audiência da TV, novelas, famosos e notícias da TV. Conta com jornalistas que são referência há mais de 10 anos na repercussão de assuntos televisivos, referenciados e reconhecidos por famosos, profissionais da área e pelo público. Apura e publica diariamente dezenas de notícias consumidas por milhões de pessoas semanalmente. Conheça a equipe.