Aos 26 anos, João Côrtes está vivendo um momento especial. Atuando em várias séries ao mesmo tempo – inclusive com falas em inglês -, o ator já deu um pontapé inicial na carreira de cineasta. E com tudo!
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Já premiado em festivais de Portugal, da Alemanha, dos Estados Unidos e da Coréia do Sul, Nas Mãos de Quem Me Leva tem o roteiro e a direção do artista, que também é cantor e começou a carreira fazendo comerciais.
Em entrevista exclusiva ao RD1, o famoso garantiu que o resultado com a sua estreia atrás das câmeras é bem positivo: “Eu me apaixonei mesmo e estou muito orgulhoso do resultado do filme. Não só pela minha percepção, mas pelo feedback que recebi e continuo recebendo de amigos e colegas de ofício que assistiram. Quero continuar escrevendo e dirigindo, sem a menor dúvida”.
A produção fala muito sobre empoderamento feminino e quebras de preconceitos. Inclusive, Côrtes lida com naturalidade sobre o assunto. Gay assumido, ele destacou: “Não tive esse medo de perder trabalhos justamente porque acredito que essa ideia está ultrapassada. E se algum trabalho deixar de acontecer por isso, eu realmente nem quero estar envolvido”.
O ator também está envolvido em outros trabalhos, como O Anjo de Hamburgo – primeira série brasileira falada totalmente em língua inglesa -, no Globoplay, The American Guest, da HBO, The Journey e Sala dos Professores. O artista também já desenvolve um curta-metragem e está no elenco de uma série, que, segundo ele, é um “projeto grande e internacional”.
Confira a entrevista na íntegra:
RD1 – João, você é conhecido pelo seu trabalho como ator, mas agora começou a investir pesado como roteirista e diretor. Como avalia a sua estreia atrás das câmeras?
João Côrtes – Olha, sendo muito sincero, acho que fui bem, viu? Foi um processo muito intenso, de muito trabalho, de entrega e total compromisso. Mas eu mergulhei de corpo e alma e me encontrei muito também na posição de diretor. Foi extremamente prazeroso dirigir os atores, contar aquela história, liderar uma equipe criativa… Eu me apaixonei mesmo. E estou muito orgulhoso do resultado do filme. Não só pela minha percepção, mas pelo feedback que recebi e continuo recebendo de amigos e colegas de ofício que assistiram. Quero continuar escrevendo e dirigindo, sem a menor dúvida.
Como foi a sua preparação para encarar esse novo desafio? Nas Mãos de Quem me Leva aborda temas como empoderamento feminino. Foi difícil trabalhar com esse assunto tão importante para a sociedade atual?
Minha preparação para dirigir o longa começou no processo da escrita do roteiro. A cada página que escrevia eu já vislumbrava os planos, o clima, o estilo de atuação, a dinâmica e o tempo de cada cena… Tava tudo na minha cabeça. E quando comecei a fazer leituras abertas, recebi respostas incríveis das pessoas, me dando dicas, opiniões, conselhos… Tudo me ajudou. Fora isso, selecionar a equipe certa foi fundamental. Um diretor não é nada sem sua equipe criativa. Construímos aquele universo juntos.
Falando de empoderamento feminino, eu fiz questão de me cercar de mulheres que admiro profundamente, artistas sensíveis, brilhantes, tanto no elenco, quanto na equipe, e também amigas que se dispuseram a ler, opinar, criticar, se posicionar… Eu queria ouvir tudo. É bem menos comum do que gostaríamos, ver projetos com mulheres na linha de frente. Sejam diretoras, atrizes protagonizando, roteiristas, produtoras… E enquanto eu estiver vivo, vou fazer de tudo para trazer a energia feminina pros sets de filmagem.
A produção também aborda a questão da liberdade e da coragem. Você se identifica com a histórica? Teve medo de perder trabalhos depois que declarou ser “gay desde sempre”?
Não, o meio artístico sempre pareceu estar alguns passos à frente, de forma geral, no entendimento de que as pessoas deveriam ter a liberdade de ser quem são. E mesmo assim, ainda temos muito o que caminhar. Somos ainda uma sociedade patriarcal, machista e homofóbica. A Arte existe para questionar, para incomodar, para transgredir. Arte é terapia pura. Temos que continuar cada vez mais contando histórias que empoderem e fortaleçam a diversidade, que falem de orientações sexuais diversas, de identidades de gênero… No fim é sobre respeito e liberdade.
Não, eu não tive esse medo de perder trabalhos justamente porque acredito que essa ideia está ultrapassada. Esse é um pensamento antiquado que precisa urgentemente evoluir. O fato de ser um homem gay não interfere de maneira nenhuma no meu trabalho como ator. E se algum trabalho deixar de acontecer por isso, eu realmente nem quero estar envolvido.
Falando ainda sobre isso, já sofreu com o preconceito de perto?
No trabalho nunca. Na vida, qualquer olhar torto simplesmente por você ser quem você é, ou se vestir de determinada maneira, considerando gênero e sexualidade claro, pra mim, já pode ser encarado como homofobia.
Depois do seu já premiado primeiro longa-metragem, planeja seguir com a carreira de roteirista e diretor? Tem novos projetos em mente?
Planejo super! Escrevi também o curta-metragem “Flush”, que foi dirigido por Diego Freitas, e que deve estrear oficialmente ainda esse ano, filme que também atuei ao lado do Nicolas Prattes. Escrevi no início de 2021 um outro curta-metragem que devo produzir ainda esse ano, e estou trabalhando no roteiro do meu segundo longa. Quero me envolver cada vez mais em projetos como roteirista/diretor. É um lugar que me dá muita satisfação, muito contentamento.
João, você está confirmado em produções da TV aberta e também no streaming. Como enxerga esse momento da dramaturgia com várias possibilidades para os atores?
É um momento maravilhoso para a indústria do entretenimento. Os streamings vieram pra mudar tudo. A quantidade de projetos acontecendo ao mesmo tempo, de papéis interessantes, de oportunidades, nunca foi tão grande. Projetos internacionais e multiculturais estão cada vez mais comuns. Além disso, novos roteiristas estão surgindo e cada vez roteiros mais interessantes, audaciosos e originais estão emergindo. E a tendência é só aumentar essa produtividade. Entramos numa nova era, e daqui pra frente não tem freio.
O Brasil é um país abundante em muitos sentidos: Um deles é em questão de talento. O que não falta no nosso país são pessoas talentosas precisando de oportunidade pra brilhar. E agora, com várias plataformas de conteúdo e um público consumidor voraz, os novos talentos vem chegando com força, trazendo novas prospecções.
Como foi trabalhar na primeira série brasileira da Globo gravada totalmente em inglês? Pode contar um pouco do seu personagem?
Foi um grande desafio, e uma oportunidade linda para mim, como ator. Eu sinto que evoluí e me potencializei como artista depois desse projeto. Elevei meu jogo, sabe? O desafio não foi nem tanto na questão do inglês, porque eu tenho intimidade com a língua inglesa faz tempo, mas por interpretar um alemão, nazista, em plena Segunda Guerra Mundial. A intensidade e a carga dramática das cenas, e o sotaque alemão nativo foram meus dois maiores estímulos. Fora isso, sinto um baita orgulho de fazer parte de uma história tão linda, tão importante pra nossa cultura, nossa memória como nação.
Eu tenho certeza que essa série vai ficar lindíssima. E meu personagem é o Wilfried Schwartz, um jovem soldado alemão nazista, que é enviado para o campo de guerra e retorna para casa, completamente traumatizado, onde compartilha com João Guimarães Rosa (personagem de Rodrigo Lombardi) suas experiências no campo.
Quais são os seus próximos projetos como ator? Já tem algo que pode adiantar?
Bom, eu acabei de lançar na HBO Max a série “O Hóspede Americano”, tenho duas séries para serem lançadas ainda: “The Journey”, uma série americana-brasileira, falada em inglês e português, e “Sala dos Professores”, uma série de Comédia sobre professores de uma escola particular em São Paulo. Fiz um projeto de uma artista amiga minha, que admiro muito, mas que ainda não posso revelar nada… O que posso dizer é que esse ano vocês saberão! E estou começando a filmar uma série agora, um projeto grande, internacional, super bacana, mas infelizmente ainda não posso falar muito. Ainda esse ano vou poder contar mais! Aguardem!
Na série americana-brasileira “The american guest” (“O hóspede americano”), você dá vida a um cinegrafista e precisou passar por meses na Amazônia. Como foi essa experiência?
Foi uma baita aventura! Tenho um orgulho danado de ter feito parte desse projeto, foi uma das experiências mais fantásticas – profissionais e pessoais – que já vivi. Fiz amigos que levo até hoje, trabalhei e aprendi com grandes atores, não só brasileiros, mas do mundo todo. Passar meses viajando, conhecendo cenários incríveis do nosso país, aprendendo sobre a nossa história, explorando territórios e paisagens diferentes. Foi tudo muito rico. Celebrei inclusive o meu aniversário de 23 anos lá! Esse, na minha opinião, é o estilo de projeto que mais me instiga: Os que envolvem viagens, locações distintas, novos universos…
Sentia um nervosismo por estar ao lado de profissionais experientes e renomados do Brasil e de outros países?
No início sim… Afinal, tenho uma admiração gigante pelos meus colegas de elenco – tanto os brasileiros quanto os americanos. Chico Diaz, Claudio Jaborandy, Michel Gomes, Aidan Quinn, Dana Delaney, Gene Jones, Theodoro Cochrane, enfim… Artistas que acompanho a carreira faz tempo. Mas depois dos primeiros dias de ensaio, fui ficando mais e mais tranquilo e conhecendo todos melhor… E depois do primeiro mês, estávamos todos bem amigos. Além do fato de que estávamos todos viajando juntos, em condições naturais extremas, rios, corredeiras, matas fechadas, bichos e insetos de todos os tipos, cavalos, montanhas… Tudo nos fortaleceu e rapidamente percebemos que precisaríamos contar uns com os outros.
Luiz Fábio Almeida é jornalista, produtor multimídia e um apaixonado pelo que acontece na televisão. É editor-chefe e colunista do RD1, onde escreve sobre TV, Audiências da TV e Streaming. Está nas redes sociais no @luizfabio_ca e também pode ser encontrado através do email [email protected]