Fora da Globo após 42 anos, Neide Duarte desabafa em carta aberta

Neide Duarte

Neide Duarte lança carta para se despedir de colegas (Imagem: Reprodução / Globo)

Neide Duarte, um dos nomes mais importantes do telejornalismo do país, se despediu dos colegas de trabalho da Globo por meio de uma carta cheia de emoção e de lembranças de uma época de ouro do mundo das reportagens.

Aos amigos que criou ao longo de quatro décadas, Neide lembrou que entrou pela primeira vez na Globo em 1980. A jornalista recordou que a redação do canal naquela época era localizada na Praça Marechal Deodoro.

A repórter definiu o ambiente como uma grande “concentração de talentos”, com jornalistas recém-chegados de jornais impressos, de revistas e outros canais de TV. Neide admitiu que aprendeu a escrever com os seus primeiros colegas.

Neide Duarte expõe sua história na Globo

Em 42 anos de trabalho, Neide Duarte passou por todos os telejornais da rede: Bom Dia SP, Bom Dia Brasil, SP 1, Jornal Hoje, SP 2, Jornal Nacional e Jornal da Globo, além dos principais jornalísticos da casa, Fantástico e Globo Repórter.

Nos últimos 5 anos, a jornalista fez parte da equipe do Globo Rural. Em seu discurso, a veterana agradeceu todos os colegas que estiveram ao seu lado ao longo da carreira na Globo.

Confira a carta na íntegra:

“Entrei na TV Globo de SP em 1980 como repórter. Saio agora, 42 anos depois ainda como repórter. Ser repórter foi sempre o que eu quis ser.

Assim como as abelhas novas, que ao sair pela primeira vez da colméia, saem de costas e ficam paradas no ar por um tempo até guardar na memória o desenho da casa onde moram, para conseguir voltar depois, eu também fui saindo aos poucos, de costas, para guardar para sempre aquela imagem de alegria, excitação e entusiasmo, que enxerguei um dia na redação da TV Globo de SP.

A redação da Praça Marechal Deodoro, nos anos 1980, foi das melhores em que trabalhei. Era uma concentração de talentos, jornalistas vindos de jornais impressos, de revistas e de outras emissoras de TV. Com eles aprendi a escrever. Aprendi que era melhor ser simples do que barroca, despretensiosa do que solene.

Aprendi a errar. Aprendi que está na rua a essência do ofício do jornalista.
Aprendi que repórter não trabalha para agradar ninguém, nem chefia, nem torcida. E assim nunca espera reconhecimento.

Aprendi que repórter não pode perder o rumo da matéria diante da euforia coletiva ou da tragédia. O que a gente leva dessas reportagens, para sempre, é a alegria ou a dor dos outros. E depois viramos outras pessoas, transformadas por aqueles acontecimentos. É um trabalho, mas parece com a vida. Aprender leva tempo e agora, depois de 42 anos, sinto que estou no caminho certo, pronta para continuar o aprendizado.

Não posso ir embora sem antes agradecer. E preciso agradecer a centenas de pessoas a quem devo tudo que aprendi e que espero não esquecer. Antes de tudo, agradeço a todos os repórteres cinematográficos com quem trabalhei. É com eles, na rua, que o repórter aprende a ser repórter e a encontrar seu lugar na equipe. Obrigada Hugo de Sá Peixoto, Marco Antonio Gonçalves, Nilson Araújo, Américo Figueiroa, Wilson Araújo, Caue Angelini, Ricardo Vital, Thiago Capelle, Douglas Campos, Jorge dos Santos, Francisco Mafezzoli Jr, Moacir Mendonça, Abiatar Arruda, Reinaldo Cabrera e outros tantos queridos…

Obrigada Anderson, Dantas, Marcão, Gentil e a todos os operadores de áudio.

Obrigada aos técnicos que carregavam os antigos Video Tapes pesadíssimos no tempo do U-matic, Santiago, Camacho, Niltinho Mochila, Claudinei, Luizinho, Francischetti, Reginaldo, Mustafá…

Obrigada Hildebrandão de Lima, Bigode, Valdir, Roque, Capacete, Maurício e todos os motoristas, diretores das nossas aventuras nas valentes Veraneios.

Obrigada João Paulada, resolvedor de todos os problemas da redação.

Obrigada a todas as secretárias, a todas as telefonistas do tempo em que ainda existiam telefones com fio. Obrigada a todas as mulheres e homens que, na redação, tiraram o pó das nossas mesas, deram brilho ao nosso chão.

Obrigada ao pessoal do departamento de Artes. Obrigada, Bira, Maurinho, Fabíola. Obrigada turma da apuração, da antiga rádio escuta. Obrigada Wagner Vallim. Obrigada ao pessoal do arquivo de imagens, aos antigos e aos novos zelosos guardadores da nossa história.

Obrigada aos produtores que germinam e geram as reportagens antes que elas existam. Obrigada Nélio Horta, Cris Angelini, Maurício Maia, Karina Dorigo, Adriana Caban, Mônica Pinheiro, Marcos Aidar, Ana Rita Mendonça, Assimina Vlahou, Elaine Camilo, Johnny Savalla, Dina Amendola, Maria Luíza Silveira, Marrey Jr, entre tantos outros maravilhosos produtores.

Obrigada a todos os editores de imagem com quem já trabalhei e que me ensinaram tanto. Obrigada Cebolinha, Juvenal, Joinha, Ronaldo, Zé Rubens, Toninho Asa, Dorival, Geraldinho, Borrachinha, Lima, Liminha, Orlando, Olímpio. Obrigada Josi, dos tempos da moviola e do filme 16 mm.

Obrigada a todos os editores de texto, que sempre me surpreenderam ao ver na ilha de edição o que eu não tinha conseguido ver na rua. Obrigada Marquito Moraes, Valdir Zwetch, Teresa Cavalleiro, Silvia Sayão, Luciana Bistane, Leda Pasta, Tonico Duarte, Rosane Baptista, Miloca Nagle, Benê Sousa, Theresa Pinheiro, Marislei Dalmaz, Cláudia Guimarães, Mariana Sabino, Fatima Ugatti, Bia Almeida, Anne Porlan, Ivone Happ, Paulo D’Arezzo, Maria Emilia Celestino, Renata De Luca, Virgínia Queiroz, Cintia Borsato, Wanda Alviano, Lucia Santana, Marilei Zanini, Maria Cleidejane, Teresa Garcia, Denise Sobrinho, Fatima Baptista, Ana Helena Gomes, Roberto Menezes e tantos outros.

Obrigada Walter Mesquita, o nosso Waltinho, obrigada Laerte Mangini, Fernando Coelho, Elói Gertel, Mari Marega e todos os chefes e sub chefes de reportagem.

Obrigada Raul Bastos, Armando Nogueira, Alice Maria, Ali Kamel, Carlos Schroeder, Cristina Piasentini, Wianey Pinheiro, Jorge Escosteguy, Woile Guimarães, Celso Kinjô, Mariano Boni, Luizinho Nascimento, Hedil Valle Jr, Miguel Athaíde e a todos os editores chefes, chefes de redação e diretores de jornalismo.

Obrigada a tantos grandes repórteres que me inspiraram, no tempo em que foram repórteres: Lucas Mendes, Ernesto Paglia, Marcelo Canellas, Caco Barcellos, Tonico Ferreira, Sonia Bridi, Carlos Dorneles, Pedro Bial, Carlos Nascimento, Helena de Grammont, Nelson Araújo, José Hamilton Ribeiro, Isabela Assumpção, Ilze Scamparini, Graziela Azevedo, Edney Silvestre, Alba Carvalho, Glória Maria, Helen Martins, Maria José Sarno, Maria Cristina Poli, Alberto Gaspar, José Roberto Burnier, Sabina Petrovsky, Beatriz Thielmann, Mônica Waldvogel, Bruna Marin e tantos outros.

Passei por todos os programas de jornalismo da TV Globo: Bom Dia SP, Bom Dia Brasil, SPTV 1, Jornal Hoje, SPTV 2, Jornal Nacional, Jornal da Globo, Fantástico, Globo Repórter, em todos fui feliz, desesperada, entusiasmada, indignada, quantas vezes a repórter errada.

Nos últimos 5 anos fui parar no Globo Rural, onde a convivência ainda lembra a redação dos tempos da Praça Marechal nos anos 1980: alegria, camaradagem, bom trabalho.

Obrigada Humberto Pereira. Obrigada Lucas Battaglin. Obrigada Maurino, Camila, Vico, Odair, Samuca e toda equipe do Globo Rural. Obrigada por me deixarem fazer matérias que nem eram tão rurais assim, mas um pouco mais parecidas com meu sonho feliz de reportagem.

Não quero ser triste, nem dramática, mas vou morrer de saudade”.

Paulo Carvalho
Escrito por

Paulo Carvalho

Paulo Carvalho acompanha o mundo da TV desde 2009. Radialista formado e jornalista por profissão, há cinco anos escreve para sites. Está no RD1 como repórter e é especialista em Audiências da TV e TV aberta. Pode ser encontrado nas redes sociais no @pcsilvaTV ou pelo email [email protected].

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