Que “O Outro Lado do Paraíso” é sucesso absoluto em audiência, ninguém duvida. Com média parcial de 38,0 pontos, ela já superou há tempos os números da antecessora – “A Força do Querer” (35,7), também considerada um êxito – e já se posiciona como a novela mais assistida do horário nobre da Globo desde o fenômeno “Avenida Brasil” (39).
Por outro lado, o autor da trama, Walcyr Carrasco, vem sendo criticado desde o início da segunda fase da história, por comprometer a qualidade de seu texto ao lançar mão de recursos “fáceis” e duvidosos para fisgar o público – como, entre outras coisas, a repetição de elementos e motes que já haviam sido usados em outras obras suas.
Vejamos alguns casos em que Walcyr se “autocopiou” no atual trabalho.
1 – Heroína vingativa
Na primeira fase, uma jovem ingênua e inofensiva que era agredida pelo marido, Gael (Sérgio Guizé), e acabou trancafiada num hospício pela sogra, Sophia (Marieta Severo). Na segunda fase, uma mulher decidida e maquiavélica, disposta a tudo para se vingar dos que a fizeram sofrer. Assim foi a transição de Clara (Bianca Bin) no que seria o fio condutor de “O Outro Lado do Paraíso”.
Se voltarmos um pouco atrás, porém, no currículo de Carrasco, veremos que o mote da “heroína-inocente-e-humilhada-que-retorna-para-acertar-contas” também deu o tom de outro título de sucesso do novelista: “Chocolate com Pimenta”, comédia romântica produzida em 2003 para a faixa das 18h da Globo.
Na ocasião, a “vingativa” da vez foi Ana Francisca (Mariana Ximenes), humilhada por vilãs como Olga (Priscila Fantin) e Jezebel (Elizabeth Savala) por conta de seu amor proibido por Danilo (Murilo Benício). Assim como Clara ficou rica graças à herança de Beatriz (Nathália Timberg) antes de voltar com sede de revanche, Ana contou com a proteção de Ludovico (Ary Fontoura), que se casou com ela e a transformou numa viúva milionária.
2 – Profissionais da beleza – e da fofoca
Esposa do juiz Gustavo (Luís Melo), Nádia (Eliane Giardini) nunca teve necessidade de trabalhar, mas gostava tanto de fofocar com Nick (Fábio Lago) e seus funcionários que acabou virando sócia do salão de beleza do rapaz.
Qualquer semelhança com “Chocolate com Pimenta” – ela de novo – provavelmente não foi mera coincidência. As mulheres da fictícia cidade de Ventura também adoravam se reunir no salão de Márcia (Drica Moraes), do qual a esposa do delegado Terêncio (Ernani Moraes), Marieta (Tânia Bondezan), era cliente vip.
3 – Amor versus racismo
Um dos destaques de “O Outro Lado do Paraíso” tem sido, desde o início, o par formado por Bruno (Caio Paduan) e Raquel (Érika Januza). Ele, um rapaz de família rica, branco, filho de juiz e posteriormente delegado da cidade de Palmas; ela, uma jovem humilde e negra, criada em um quilombo e que começou como empregada da casa do amado, para depois se transformar em juíza da capital tocantinense.
Essas diferenças não teriam sido tão graves não fosse a interferência constante de Nádia. Preconceituosa ao extremo, a mãe de Bruno não perdia uma chance de se posicionar contra o romance do filho com a “preta”. Esse entrecho faz lembrar a abordagem do racismo feita por Carrasco em “Alma Gêmea” (2005), na faixa das 6.
Antes apaixonado pela protagonista Serena (Priscila Fantin), Hélio (Erik Marmo) acaba esquecendo a índia ao interessar-se por Sabina (Aisha Jambo), assistente do parapsicólogo Julian (Felipe Camargo). Mas nem o fato de Sabina ser uma mulher culta e de boa posição social – assim como Raquel – impediram a mãe e a avó de Hélio, Divina (Neusa Maria Faro) e Ofélia (Nicette Bruno), de implicarem o tempo todo com a moça, a quem chamavam pejorativamente de “torradinha”.
4 – Vilão mascarado
Logo no início de “O Outro Lado do Paraíso”, divulgou-se na mídia o que só viria se confirmar na trama muito depois: Renato (Rafael Cardoso) deixaria a pose de homem honesto e sinceramente apaixonado por Clara para revelar-se um perverso vilão, disposto a tudo para ficar com o dinheiro da mocinha.
Foi, de fato, uma reviravolta e tanto – mas há que se lembrar que Walcyr já havia utilizado um artifício similar em seu trabalho anterior no horário nobre, “Amor à Vida” (2013). Nos primeiros meses, Aline (Vanessa Giácomo) parecia apenas uma simples secretária que cometia o “pecado” de cair na lábia do patrão casado, César (Antonio Fagundes).
Foi preciso esperar algum tempo para que a verdadeira identidade – e caráter – da moça viessem à tona: Aline era na verdade sobrinha de Mariah (Lúcia Veríssimo), ex-amante de César, e o seduziu apenas para vingar-se dele, a quem considerava (injustamente) culpado pelo acidente que matou sua mãe e deixou sua tia paralítica.
5 – Pais e filhos
Estela (Juliana Caldas) passou praticamente toda a trama penando o desprezo da mãe, Sophia (Marieta Severo), que rejeitava a filha por ser anã e não perdia uma chance de humilhá-la com palavras como “monstrengo” e afins.
Mas, como “tudo o que você faz, um dia volta para você”, a megera acabou sofrendo um AVC nos episódios mais recentes e não teve opção senão ficar sob os cuidados de Estela – algo parecido com o ocorrido entre Félix (Mateus Solano) e César em “Amor à Vida”. O personagem de Antonio Fagundes sempre rejeitou o filho por ser gay, mas, cego como “efeito colateral” da vingança de Aline, acabou ao encargo justamente de Félix.
A cena final entre Estela e Sophia na trama de agora – com direito à declaração de amor da megera para a portadora de nanismo – tem tudo para soar à revisitação da reconciliação de Félix e César, que marcou de forma emocionante o desfecho de “Amor à Vida”.
6 – Cura gay ineficaz
Suzy (Ellen Roche) e Adneia (Ana Lúcia Torre) bem que tentaram e até chegaram a cantar vitória antes do tempo, mas não teve jeito: o plano de fazer a “cura gay” em Samuel (Eriberto Leão) fracassou, e o “Tigrão” acabou reatando o romance com Cido (Rafael Zulu).
Walcyr Carrasco já tem registro de outros “fracassos” semelhantes em pelo menos outras três novelas. Gay assumido em “Caras & Bocas” (2009), Cássio (Marco Pigossi) até teve um affair com a cinquentona Lea (Maria Zilda Bethlem), mas acabou a trama nos braços de André (Ricardo Duque). Já em “Morde & Assopra” (2011), outro homossexual bem resolvido, Áureo (André Gonçalves), interessou-se para valer por Celeste (Vanessa Giácomo) e quase se casou com ela, mas a trocou em pleno altar por Josué (Joaquim Lopes). Por fim, o tresloucado Visky (Rhainer Cadete) de “Verdades Secretas” (2015) até teve umas “recaídas” com Lurdeca (Dida Camero), mas nem por isso oficializou a “mudança de lado”.
7 – Amor de mãe acima de tudo
Uma das principais motivações de Clara ao voltar para Palmas era recuperar a guarda e o amor do filho, Tomaz (Vítor Figueiredo), separado dela ainda recém-nascido. Essa trajetória lembra bastante a vivida por outra Clara, a interpretada por Regiane Alves em “Fascinação” (1998).
Assim como a homônima global, a heroína da trama do SBT teve o rebento roubado pelos vilões Therèze (Adriana Ridolfi) e Alexandre (Heitor Martinez) e dado para adoção. Anos depois, rica, ela consegue localizar a família que se apossou da criança e luta contra tudo e todos para ter o pequeno Francisco (Airo Munhoz) de volta em seus braços.
8 – Alcoolismo
Elizabeth (Glória Pires) fez sua família passar por maus bocados quando teve de lutar contra o alcoolismo para poder doar seu rim para Adriana (Júlia Dalavia) e salvar a vida da filha.
A luta da namorada de Renan (Marcello Novaes) fez jus à trajetória de Berenice (Samantha Dalsóglio), também em “Fascinação”. Na trama ambientada nos anos 1920, a moça se refugiava na bebida para lidar com o desamor do marido, Carlos Eduardo (Marcos Damigo), e chegava a beber perfumes e álcool puro para não ter de lidar com a abstinência – tal como a própria Beth se mostrou disposta a fazer em algumas cenas.
9 – Núcleo do bordel
As quengas de Pedra Santas começaram discretas – veja que ironia – em “O Outro Lado do Paraíso”, mas cresceram a olhos vistos dentro da trama. Boa parte do sucesso da “casa das primas” no horário nobre talvez se deva à semelhança com o dia a dia do Bataclan, de “Gabriela” (2012).
Na segunda versão para a TV do livro de Jorge Amado, quengas como Zarolha (Leona Cavalli), Natascha (Nathália Rodrigues) e Teodora (Emanuelle Araújo) davam trabalho para a cafetina Maria Machadão (Ivete Sangalo) e faziam a cabeça dos homens da Ilhéus do anos 20.
“Fascinação” – outra vez – também contou com um bordel como um de seus cenários principais, desta vez envolvendo até a protagonista, Clara (Regiane Alves).
10 – Sequestro na reta final
Este item já ruma para se tornar um clássico do universo “carrasquiano”. Aconteceu em “Alma Gêmea”, “Sete Pecados” (2007) e “Eta Mundo Bom!” (2016). Na primeira, a heroína Serena e o menino Terê (David Lucas) foram raptados por Cristina (Flávia Alessandra) e Ivan (Thiago Luciano); na segunda, o vilão Pedro (Sidney Sampaio) fez a protagonista Clarice (Giovanna Antonelli) prisioneira; já na última, Filomena (Débora Nascimento) e seu filho com Candinho (Sérgio Guizé) acabaram sequestrados por Sandra (Flávia Alessandra) e Ernesto (Eriberto Leão).
O clichê deverá ir mais por essa última linha na atual trama das 9 – onde, nos episódios mais recentes, Renato (Rafael Cardoso) raptou o filho de Clara, Tomaz (Vítor Figueiredo), e exigiu da mocinha e do pai da criança, Gael (Sérgio Guizé, de novo) o pagamento de um resgate milionário em barras de ouro.
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