Famoso por já ter dirigido programas de Silvio Santos, Gugu Liberato, Ana Hickmann, Rodrigo Faro (Ídolos e Ídolos Kids), Tom Cavalcante, Britto Jr e, atualmente, Netinho de Paula, Wanderley Villa Nova conversou com exclusividade com o RD1 e fez algumas observações sobre o atual momento da televisão brasileira.
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O renomado diretor de TV fez observações sobre a programação das emissoras, que estão investindo em realities shows ou em programas cujo objetivo é trazer um conteúdo que não é consumido pela família. Wanderley ainda citou exemplos de quando dirigiu programas e formatos em canais de TV aberta.
RD1 – Como você vê o atual momento em que a TV brasileira está?
Wanderley Villa Nova – Eu acho que, de um modo geral, a TV brasileira ocupa um espaço para quem vende mais e quem paga mais. Como eu sou um cara da antiga, você tem que proporcionar coisas para que a família que senta no sofá para ver televisão, não só no domingo, principalmente no domingo, é muita tristeza, é muita morte. A televisão criou o estereótipo de que a desgraça dá audiência. Dá audiência, porém, não fatura nada para a emissora porque ninguém gosta ou quer ver o produto dela associado com sangue e com desgraça, enfim.
Eu vejo uma televisão que vem empobrecendo, mas vem empobrecendo pelo momento que a gente vem vivendo, uma crise que o país está passando e até, eu arrisco um pouquinho mais: eu acho que as pessoas estão muito cometidas para soltar dinheiro. As coisas estão mais… não querem investir para não chamar atenção e não gerar uma investigação. Eu acho que o dinheiro sumiu do mercado e quem tem está segurando.
RD1 – O formato Reality Show vem sendo a salvação para a programação de alguns canais. É uma solução saudável, para um canal de TV, ao invés de produzir conteúdo próprio?
Wanderley Villa Nova – Eu acho assim: por que o reality? Por que o formato? Por que existe uma forma de você saber o sucesso. Por exemplo, vou citar o caso de quando eu dirigi o Ídolos na Record. Quando eu dirigi o Ídolos na Record, 2006, 2007, 2008, 2009, quando a pessoa compra o formato, a primeira pergunta de quem está comprando o formado para a detentora, é saber em que países ou em quantos países este formato é sucesso.
No caso do Ídolos, quando a Record comprou, o Ídolos era sucesso em 42 países. Então, nessa concepção do empresário, claro, se é sucesso em 42, vai ser em 43. Se é sucesso em 5, vai ser em 6. É uma forma, mas que não é sucesso garantida que vai trazer benefício, porém, o investimento pode ser um pouco mais certeiro, pois tem praticamente o tiro certo de que o formato vai dar certo.
Antigamente, lá atrás, a gente se reunia, vi o perfil do apresentador, cada diretor bolava um quadro, depois se juntava tudo, depois o diretor aprimorava o quadro e vice-versa. Você tinha uma condição, mas não tinha essa segurança que o formato pode dar.
RD1 – Em termos de conteúdo, o formato é uma solução saudável?
Wanderley Villa Nova – Depende do contrato. Por exemplo, eu gosto muito do The Voice [da Globo], que é a minha praia, mas tem outros formatos que saem da ‘família’. Há umas coisas que são meio bizarras e absurdas e que a família acaba não consumindo, claro, e também não leva audiência. Normalmente, não tendo consumidor e faturamento, ou se faz só aquela temporada, como foi aquele programa A Casa, do [Marcos] Mion que saiu de um programa de sábado que estava dando 10/12 pontos de audiência, o espaço comercial dele estava totalmente vendido, e a Record botou ele na sexta-feira. Não é o perfil da sexta-feira. O programa é para alegria, no sábado, para descomprometimento. O que aconteceu? Tiraram o Legendários do ar e deram A Casa. A Casa ficou uma temporada no ar. O público não consumiu. Essa coisa de que não envolve a família. Tudo que tem bate-boca, na minha opinião, não vinga. Com exceção da Globo, que é o BBB [Big Brother Brasil] que é o maior faturamento da Rede Globo anual, então eles são obrigados a manter, mas você vê que a audiência vem caindo a cada ano, mas eles põem este programa no ar, você vê que é o maior faturamento do ano da emissora. A prova do líder em um dia é Fiat, no outro dia é Boticário, no outro é Coca-Cola. Você imagina a fortuna que é, então, é um mal necessário para manter a parte do faturamento.
RD1 – O que você acha dessa patrulha que existe na TV criticando o que se faz. Cito como exemplo o concurso que Silvio Santos fez exaltando a beleza de crianças e o apresentador fez alguns comentários que foram alvos de críticas. Está fácil fazer televisão ou difícil? Os tempos são outros?
Wanderley Villa Nova – Eu posso falar muito claramente, pois, só com o Silvio [Santos] eu trabalhei 23 anos e tenho uma amizade com ele há 35 anos. O Silvio não é uma pessoa maldosa, todo mundo sabe. O Silvio é uma pessoa brincalhona. O que pode acontecer, às vezes, até para adulto, pois a pessoa, até para os dias de hoje, assiste o Silvio Santos para ver isso mesmo. O apresentador deixa cair as calças no meio do palco, fala umas besteiras lá pra Helen Ganzarolli, coisas que antigamente – há 20 anos – ele não fazia. Mas não foi com essa intenção. Mas é aquela história: o que vende manchete é política. É polêmica. É coisa ruim. A coisa boa ninguém dá e quando dá, dá duas linhas, principalmente em revista e jornal.
Eu acho que a pessoa não tem o que fazer e comentar, pega uma situação dessa e com certeza, com os netos que ele tem, não faria nada para depreciar principalmente a criança.
RD1 – O que você acha que falta na TV e que foi perdido ao longo dos anos?
Wanderley Villa Nova – Eu acho que falta programas musicais. Vivemos em um país que não tem memória. Tanta gente que fez sucesso há 20 ou 30 anos e que está jogado por aí, esquecidas até. Um programa musical dá audiência sim. Criaram um rótulo de que um programa musical não dá audiência na TV.
Tanto dá audiência que o The Voice aí dá uma audiência violenta. Raul Gil está há quantos anos no ar e dá audiência com calouros, que é música. Eu acho que falta um programa que, realmente, Globo de Ouro, Parada Musical, deveria voltar. Fazer algo semanal, fazer uma coisa de vendagem de CD ou de disco, sei lá. Falta um programa musical na televisão, na minha opinião.
RD1 – O que a televisão deveria melhorar em termos de conteúdo?
Wanderley Villa Nova – Eu acho que deveriam ter coisas mais criativas. Eu não concordo com essa desgraça começando às quatro horas da tarde. Não sou puritano, mas essa violência e essa briga de audiência é, puramente, pela guerra de audiência. Para a emissora, se fatura ou não, é um problema dela, mas acho que a televisão deveria ser um pouco mais leve, alegre e dinâmica. Fazer um seriado, trazer coisas antigas que tinha na televisão com uma roupagem mais moderna. Eu acho que o povo tem uma parcela de culpa nisso, pois consome isso.
Eu vou dar um exemplo: acho que foi em 1987 ou 1988, a Globo fazia uns programas normais e dava, naquela época a audiência era diferente – agora a audiência pulverizou bastante com a internet -, mas naquela época, a Globo dava 25 pontos e a própria Globo achava que não era bom. Enquanto um dava 4 [pontos], outro dava 4 [pontos], ela dava 25 [pontos] e achava que não era bom. Aí, no final do ano, a Globo fez um especial, como faz em todos os finais de ano, e pôs assim: Os maiores desastres automobilísticos. Fizeram um compilado de vários desastres na Fórmula 1 e deu 40 pontos. Sei lá, o povo parece que gosta das desgraças.
Outra coisa, está pegando fogo em um quintal, aí você põe uma câmera o tempo inteiro e o apresentador, do outro lado, fazendo sensacionalismo. ‘Gente, este fogo está se espalhando e tem criança no corredor’. Então, é uma audiência que você não acredita. É incrível, agora, o povo consome esse tipo de coisa, pois se não consumisse, também, eles não fariam.
Reuber Diirr é formado em jornalismo pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Integrante do 17º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta (Globo ES), teve passagens pela Record News ES, TV Gazeta ES e RedeTV! SP. Além disso, produz conteúdo multimídia para o Instagram, Twitter, Facebook e Youtube do RD1. Acompanhe os eventos com famosos clique aqui!