Aline Wirley gravou um depoimento no qual fez um desabafo sobre o racismo. A artista lembrou experiências de quando era empregada doméstica e como o modelo de sociedade discriminatória a prejudicou.
VEJA ESSA
“O racismo é algo muito sério. Sou uma mulher preta, de 38 anos, lutei muito para chegar onde estou hoje. E é inadmissível continuarmos vivendo como estamos vivendo”, disse.
A cantora elegeu quando decidiu adotar o visual com a cabeça raspada, o momento mais difícil para sua consciência racial. “Me despertei como mulher negra há três anos. Este momento aconteceu para mim quando tirei meu aplique, minhas madeixas louras. O dia que tirei foi um dos mais difíceis da minha vida inteira. Nunca achei que aquilo pudesse ser tão doído”, comentou.
“Isso acontece porque o povo preto, a nossa história é apagada. Quando se nasce preto num país como o nosso a gente não tem referência do que é bom (…) A maioria da população do nosso país é preta e sobrevive da maneira que pode. Assim é a minha família”, lamentou.
A jurada do The Four lembrou que antes de se aventurar na carreira artística seguiu os passos de outros membros da sua família de trabalhar como empregada doméstica. “Para mim, era assim que pretos vivia. Eu não tinha referência de que não podia ser assim. Ao longo da vida, eu sofri muito racismo. A sociedade faz com que os negros não compreendam, até aqui, esse momento, o quanto é nocivo, o quanto é doído, porque a gente ‘nasceu para ser assim'”, recordou.
“Eu não entendia o que estava errado o que faziam comigo porque para mim era o normal. Eu fui crescendo, buscando meus caminhos… Assim como as mulheres da minha família eu também fui empregada doméstica… Até que aconteceu o Rouge na minha vida”, revelou.
Aline vê a sua vitória e a da Karin no reality show Popstars, no SBT, em 2002, como de suma importância para a criação de identidade. “Éramos três finalistas negras e tínhamos certeza que só seria uma de nós. Porque só tinha espaço para uma negra. Só uma! Fomos eu e a Karin (Hills). Naquela época eu não entendia como era importante para mim ocupar aquele espaço. O tempo foi passando, eu fui amadurecendo, fui querendo me instigar mais, me aceitar como sou… Foi quando comecei meu processo de olhar para mim com mais verdade e clareza”, recordou.
“Eu sempre tentava ser a mais engraçada, a mais legal, a mais tranquilona para que eu conseguisse acessar os lugares que eu consegui acessar. Para ter uma vida mais digna e dar uma vida mais digna para a minha família”, confessou.
Apesar de ter uma família constituída com o ator Igor Rickli, com quem tem um filho, Antonio, de 5 anos, e uma carreira consolidada, Aline confidenciou que os estereótipos herdados da sua infância ainda permaneceram. “Eu tinha uma secretária em casa que me ajudava na casa. Eu tive um insight. Eu não pedia coisas para ela, não falava para fazer as coisas. Eu mesma fazia. Até que um dia o Igor (Rickli) falou: ‘Amor, pede para ela fazer’. E eu fui questionar por que isso acontecia”, contou.
“Acontecia porque ela era uma mulher branca e porque, na minha cabeça, estávamos num lugar trocado. Na minha cabeça, eu deveria estar no lugar dela, limpando para ela, eu deveria estar fazendo aquele serviço”, analisou.
A Redação do RD1 é composta por especialistas quando o assunto é audiência da TV, novelas, famosos e notícias da TV. Conta com jornalistas que são referência há mais de 10 anos na repercussão de assuntos televisivos, referenciados e reconhecidos por famosos, profissionais da área e pelo público. Apura e publica diariamente dezenas de notícias consumidas por milhões de pessoas semanalmente. Conheça a equipe.