Aos 77 anos de idade, 43 deles dedicados à teledramaturgia, Silvio de Abreu é hoje o principal nome responsável pela nova geração de autores da Globo. O controverso chefão da dramaturgia da emissora vem dando oportunidade para vários escritores que até então trabalhavam apenas como colaboradores. É o caso de Maria Helena Nascimento, Thereza Falcão, Cláudia Souto, Alessandro Marson, Daniel Adjafre, Manuela Dias, entre muitos outros.
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Essa renovação, no entanto, não é recebida dentro da emissora como uma simples sobrevivência do gênero. A demissão de Aguinaldo Silva, por exemplo, foi atribuído à uma questão econômica. Além de custar um salário milionário, o autor não era tão produtivo quanto os seus colegas mais jovens. Enquanto Aguinaldo ficou na “geladeira” por quatro anos entre Império (2014) e O Sétimo Guardião (2018), Walcyr Carrasco no mesmo período escreveu quatro novelas: Verdades Secretas (2015), Eta Mundo Bom! (2016), O Outro Lado do Paraíso (2017) e A Dona do Pedaço (2019).
Enquanto os novatos recebem a função de dar sobrevivência ao gênero, os autores responsáveis pela criação do mesmo tentam sobreviver na TV. Antônio Calmon, Miguel Falabella, Maria Adelaide Amaral, Lauro César Muniz e Carlos Lombardi são profissionais da velha guarda que ainda estão na ativa mas que tiveram projetos cancelados ou engavetados pelo Silvio de Abreu. Boa parte deles perderam o vínculo recentemente com a Globo.
Outros autores que ao longo dos últimos anos apresentaram dificuldades em seus trabalhos, por conta da idade avançada, também foram afastados. Benedito Ruy Barbosa, por exemplo, viu duas sinopses de novelas rejeitadas pelo seu colega de emissora. Aos 88 anos, o veterano não aceita nenhum tipo de imposição em seus trabalhos. Quando escreveu Velho Chico (2016), ele precisou da ajuda de Carlos Henrique Schroder, então diretor-geral da Globo, para não deixar Silvio de Abreu fazer alterações em seus textos.
Sem escrever novelas há seis anos, Manoel Carlos segue contratado da Globo, mas também teve projetos anulados. Aos 86 anos, o pai das Helenas admite que não tem mais o vigor de escrever uma novela para às 21h, faixa que o consagrou com títulos como Por Amor (1997), Laços de Família (2000) e Mulheres Apaixonadas (2003), mas já demonstrou interesse de produzir histórias curtas para às 18h e também minisséries para a faixa das 23h. Uma dessas ideias seria uma continuação de Presença de Anita.
Walther Negrão, 78, longe dos trabalhos desde o fim de Sol Nascente (2016), é outro autor afastado pela gestão de Silvio de Abreu. A sinopse da minissérie Dama da Noite, sobre a história da cafetina Eny Cezarino, virou lenda na Globo. Assim como Maneco, o dramaturgo deve se despedir de sua brilhante trajetória na televisão com um episódio da série Os Experientes, cuja segunda temporada será exibida este ano.
Daniel Ribeiro cobre televisão desde 2010. No RD1, ao longo de três passagens, já foi repórter e colunista. Especializado em fotografia, retorna ao site para assinar uma coluna que virou referência enquanto esteve à frente, a Curto-Circuito. Pode ser encontrado no Twitter através do @danielmiede ou no [email protected].