A definição de “rensga” seria algo como um “eita”, “nossa”. E nada definiria melhor a série Rensga Hits!, que está no Globoplay entre as mais assistidas. Por trás da história majoritariamente feminina, abordando o universo sertanejo, está o diretor Leandro Neri, 35 anos de carreira, que comemora a ótima fase de trabalho no audiovisual.
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“Fico muito feliz que tenha sido um homem a assinar a direção geral de Rensga e que a série esteja funcionando dentro do discurso feminino. Isso quer dizer que soube ter delicadeza”.
Com 27 anos de bagagem na TV Globo, Neri conta como a visão do todo, por ter passado por vários departamentos, o ajudou a desempenhar a função de diretor em produções como Caldeirão do Huck, Laços de Família, Vamp, Na Moral, entre vários outros projetos. Hoje, fora da empresa, ele alça novos voos e, além da série, já dirigiu dois filmes: “Carnaval” e “Socorro, virei uma garota”.
Esta coluna do RD1 bateu um papo com exclusividade com Leandro, que entregou a “bagunça” dos bastidores e os desafios dos 100 dias em Goiás para as gravações da série.
RD1 – Como você analisa seus 35 anos de carreira?
Leandro Neri – Tenho muito orgulho da minha carreira e trajetória até aqui. Passei por vários departamentos antes de alcançar a direção, e isso me deu uma excelente visão do todo, do conjunto e de como cada peça da engrenagem é importante.
Como entrei muito jovem na TV e, à época a Globo era praticamente a única que produzia em nível internacional, vi ali a melhor possibilidade e oportunidade de fundar minhas bases e ganhar experiência e excelência como profissional. Resolvi me tornar um diretor de tv completo com experiências em dramaturgia, shows, programas de auditório, e o que mais me desafiasse.
Desde que me desvinculei da Globo dirigi dois filmes e a série. Assino o argumento nos filmes, um deles com lançamento mundial numa grande plataforma de streaming onde assino o roteiro também. Me sinto realizado pois amo demais meu trabalho e agora posso dar vida a personagens criados por mim ou trabalhar, como em “Rensga”, para dar vida a personagens criados por outra pessoa.
Rensga Hits! é um grande sucesso. Quando você pegou o projeto, já conseguia imaginar isso?
Meus dois filmes têm protagonismo feminino. Em “Carnaval”, são quatro amigas viajando juntas. No meu primeiro – “Socorro Virei Uma Garota” – a protagonista é um homem no corpo de uma mulher por quase 90% do tempo de tela. Uma mulher com alma e pensamentos masculinos.
Sou um observador do mundo e com 51 anos de vida, e essa estrada toda no áudio visual, sendo grande admirador em inúmeros aspectos do sexo feminino, me sinto extremante confortável nesse sentido.
Na verdade, fico muito feliz que tenha sido um homem a assinar a direção geral de Rensga e que a série esteja funcionando dentro do discurso feminino. Isso quer dizer que soube ter delicadeza, experiência de vida e de profissão, e sutilidade em saber potencializar esse aspecto do texto para que, mesmo que tecnicamente sem lugar de fala, antes de tudo, entendendo do meu jeito a alma feminina e suas particularidades, posso ter algo a acrescentar.
Rensga foca muito no feminejo, ou seja, a força feminina no sertanejo. Como foi pra você, sendo homem, dirigir um projeto com essas características?
É o que mais gosto de fazer na vida além de estar em família. As pessoas costumam ter uma visão muito glamurosa do meio pois só se assiste quando está pronto.
O processo é longo, árduo e intenso. Mas, quando eu assisto na ilha de montagem, vejo que funcionou, imagino o impacto disso nas pessoas assistindo em suas casas ou no cinema e lembro dos mosquitos no meio do mato de madrugada, as inúmeras noites em claro, as manhãs acordando antes do sol, o calor, a chuva e/ou qualquer outra adversidade encontrada durante o processo.
Meu trabalho é coletivo. Jamais faria sozinho. Impossível. Muito semelhante a uma filarmônica. Estar bem cercado, ter um set leve, uma pré-produção muito bem amarrada, são meus segredos para que o set, parte mais pesada da produção, seja divertida e prazerosa antes de qualquer coisa.
O elenco comentou que os bastidores eram muito divertidos e que todos conviveram como uma grande família. Conta um pouco como foi essa relação.
Sem dúvida alguma o elenco ficou muito próximo e acabaram criando amizades duradouras durante o processo. Não era raro termos “visitas” no set de atores e atrizes nos dias em que não estavam escalados para filmar.
Às vezes, um almoço ou um jantar juntos, ou mesmo curiosidade e ver o que estava sendo filmado nesse dia. Vou entregar mesmo (risos): Samuel De Assis (Kevin) e o Alejandro (Deivid) iam no set constantemente em dias em que não filmavam apenas para filar a comida do catering, encontrar amigos e bater papo. Era muito bom ver esse entrosamento.
Gosto de filme “de galera”. Procuro sempre criar um ambiente onde as pessoas se sintam à vontade pra criar mais e melhor. A partir de um momento, durante o período de filmagens, o Alejandro, por ser goiano e conhecer bem seu estado, organizava verdadeiras excursões nos dias de folga para Pirenópolis e adjacências. Eu via tudo nos stories deles e adorava saber que existia esse estreitamento de relação dentro do elenco. Isso sempre faz muito bem para o resultado final.
Quais foram os maiores desafios durante as gravações?
Tivemos inúmeros desafios durante as filmagens. Óbvio que não é fácil ficar por 100 dias longe de casa como eu fiquei. Longe da minha filha, do meu cachorro, minha cama, minha rotina, enfim, esse lado foi bem difícil. Mas também tivemos percalços mais práticos.
Vale lembrar que filmamos ainda em período de restrições sanitárias por conta do Covid e isso muitas vezes complicou o ritmo e andamento do set, o tornando mais lento. Foram 90 dias de filmagem e iniciamos ainda no período de estiagem, muito sol e calor. Mas no final, pegamos o período de muita chuva também.
Em um determinado momento, o ator Mauricio Destri virou papai, e por isso passamos algumas semanas antes sem saber ao certo quando isso iria acontecer. Nossa logística era constantemente modificada a partir das condições da esposa dele até o nascimento de fato.
O público pode esperar por uma segunda temporada de Rensga?
Super aposto numa segunda temporada. O que criamos é algo bastante potente, comercial e popular e tem tudo para ter vida longa. Vejo aqui, obviamente num momento bem diferente do mundo, algo bem parecido com o que vivi em 1995 quando estreamos Malhação. Era, também, minha estreia como diretor e vi de perto o que era um grande sucesso. Definitivamente Rensga caiu no gosto popular com muita força.
Fernanda Menezes Côrtes é jornalista, com mais de 20 anos de experiência em assessoria de comunicação, sendo os últimos onze anos voltados ao mundo do entretenimento e da televisão. Trabalhou na comunicação da Globo e do Canal Viva e como assessora de artistas.