O dinheiro das transmissões dos jogos compõe uma boa fatia dos orçamentos dos clubes brasileiros e também dos principais times do mundo. Por isso, quando essa fonte parece estagnar ou ganha complexidade, um alerta laranja é criado.
Independentemente se o clube está bem das pernas ou na lista dos maiores devedores, o dinheiro da televisão ou empresa de mídia é muito importante, assim como bilheteria de estádio, venda de produtos licenciados, premiações nas competições e venda de jogadores.
Os patrocínios de camisa também cresceram nos últimos anos, com a chegada em peso das casas de apostas esportivas para criar maior concorrência e aumentar os valores.
As melhores casas de apostas estampam suas marcas nos uniformes de basicamente todos os times das principais divisões do futebol nacional.
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Dez anos atrás, os estaduais já eram discutidos sobre sua relevância, mas a negociação de seus direitos não era complicada, com a Globo assumindo a responsabilidade e pagando as contas.
Hoje não é mais assim: a concorrência aumentou e a Rede Globo começou a dar prioridade para as principais competições, inclusive perdendo concorrências e até abrindo mão de certas competições.
O Premiere, serviço de Pay Per View do conglomerado carioca, continuará transmitindo os estaduais, mas não poderá exibir, por exemplo, 13 jogos do Campeonato Paulista, o principal do país, que tem a exclusividade da Discovery.
O Carioca é ainda mais restrito: a BAND transmitirá os jogos na TV Aberta e o Bandsports na fechada, além de um aplicativo próprio da competição, o Dale App.
O streamer Casimiro Miguel transmitirá jogos na sua Cazé TV do Vasco e do Botafogo, quando estes forem mandantes, seguindo o que dita a lei do mandante. Só que há grandes diferenças nos valores, o que gerou críticas abertas dos clubes que se sentiram prejudicados.
O cenário de pulverização é o mesmo nos outros estaduais, especialmente no Nordeste, onde o DAZN volta a ser protagonista.
Modelo sustentável?
Concorrência sempre é bom, mas no contexto dos estaduais é preciso pensar a razão para essa pulverização.
Se a disputa entre várias empresas fosse em uma competição como o Brasileirão ou a Libertadores, de nível técnico superior, estádios com boas médias de público e atenção completa dos clubes, a concorrência seria muito positiva e um excelente sinal.
Entretanto, os estaduais cada vez mais são uma pré-temporada longa, deficitária e que pouco agrega. As fases iniciais costumam ter jogos de baixa qualidade técnica, muitos times reservas e estádios com cadeiras vazias.
O Botafogo estreou em uma temporada que tem tudo para ser empolgante com apenas 4 mil pagantes em seu estádio, usando o time sub-23 na derrota para o Audax por 1 a 0.
O clube teve uma discussão com a FERJ e cancelou a pré-temporada que faria nos Estados Unidos por causa de uma obrigação em usar o time titular a partir da quarta rodada da competição. A punição pelo descumprimento é financeira.
Os clubes cada vez mais seguem a lição dada pelo Athletico, que começou a usar times reservas e de categorias de base no paranaense, colocando os titulares em situações pontuais e tendo uma pré-temporada maior.
Os bons resultados do Furacão – com conquistas da Copa Sul-Americana, Copa do Brasil e final da Libertadores – nos últimos anos com certeza chamaram a atenção.
Ruim também para os torcedores
Se os jogos não têm boa qualidade técnica e os clubes grandes não parecem se importar tanto mais, isso por si só já seria péssimo pros torcedores.
Mas precisando assinar diversos serviços para ver os jogos, tudo fica ainda pior: pra que fazer um investimento – mesmo que o valor da mensalidade não seja alto – se o envolvimento dos jogadores não faz por merecer isso?
A pergunta também vale para a presença no estádio. Será normal ver os estádios com metade da capacidade ou até menos nos jogos dos estaduais que não sejam clássicos ou decisivos.
As mudanças nos direitos de transmissão são positivas porque podem gerar valores maiores e uma modernização ágil em relação a onde os torcedores podem assistir os jogos com mais comodidade.
Entretanto, os estaduais podem ser cobaias ruins porque o interesse neles é cada vez menor. Hoje é justa a pergunta “por que os estaduais ainda existem?”