MC Cabelinho fala sobre racismo estrutural e vivência na comunidade (Imagem: Reprodução / Instagram)
Em meio a tantos debates sobre racismo, Victor Hugo Nascimento, mais conhecido como MC Cabelinho, revelou que utiliza a arte como ferramenta para lutar pela igualdade de oportunidades. Nascido e criado no conjunto de favelas do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, na Zona Sul do Rio, ele contou sua realidade durante bate-papo com o jornal Extra.
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“Já vi de tudo. O crime sempre esteve do lado da janela da minha casa. Confesso que (em algum momento da minha vida) isso até passou pela minha cabeça, mas fui forte para não me perder nesse mundo. Tem que ter cabeça forte para não ser seduzido“, disse o famoso.
Para ele, a falta de representatividade nos poderes públicos gera um cenário de caos nas comunidades. O MC enfatizou que era “para o governo ter o papel de herói” nas favelas, mas, com a ausência dele, o protagonismo acaba sendo assumido pelo tráfico. E foi justamente sobre isso que o artista escreveu sua música Maré.
A canção, que cita a guerra contra o preto, pobre e favelado, foi lançada no início deste mês e coincidiu com o período dos protestos que seguem acontecendo no mundo contra o racismo estrutural e em prol da igualdade racial. “Para você ver como são as coisas, não imaginava que isso estaria acontecendo quando escrevi a música“, observou Cabelinho.
Assim como os jovens Maria Eduarda, Ágatha Félix e, mais recentemente, João Pedro, que foram mortos em comunidades, o famoso disse que já sentiu as consequências do racismo.
“Uma vez, fui comer com alguns amigos em um restaurante. Nós fomos completamente ignorados pelos garçons. Por várias vezes fui seguido em lojas ou em algum local que entrava para fazer uma compra. Tinham medo que eu fosse roubar alguma coisa. O sentimento é de revolta. Me arrependi de não ter falado, hoje (mais consciente) eu enfrentaria,: ‘por que você está me seguindo? Não sou ladrão, eu tenho dinheiro para pagar’“, relatou.
Apesar de não morar mais na comunidade, em razão do trabalho, ele afirmou que, se não fosse por isso, não deixaria de viver no local. Para o segundo semestre deste ano, o MC Cabelinho deseja lançar um álbum que irá falar sobre a realidade dos moradores da comunidade. “Tem uma música sobre bala perdida, outra sobre romance, porque favelado também se apaixona.”
Da Redação
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