Há 20 anos, a Globo exibia o primeiro capítulo de uma das novelas que fizeram história às 20h – hoje 21h. Laços de Família, de Manoel Carlos, parou o Brasil com tramas como a da mãe que abre mão de dois amores em favor da filha, acometida por uma leucemia. Ou da moça de classe média que se prostitui para sustentar os pais idosos e o bebê que cria sem auxílio do pai. Confira os bastidores e as curiosidades deste clássico!
VEJA ESSA
– Como em quase todos os seus trabalhos, Manoel Carlos baseou-se em uma notícia de jornal para criar Laços de Família. Casos semelhantes ao de Helena (Vera Fischer), que decide ter um bebê na tentativa de salvar a vida da filha Camila (Carolina Dieckmann), ocorreram nos Estados Unidos e na Itália. De início, Maneco planejava discutir a finalidade desse ato: é correto gerar uma vida para salvar outra? Caso o bebê não fosse compatível, seria amado da mesma forma?
– Episódio similar se deu enquanto a novela estava no ar: em 29 de agosto de 2000, nasceu o menino Adam Nash, concebido através de uma fertilização com uma série de embriões de características sanguíneas similares à de Molly Nash, sua irmã de seis anos, que necessitava, com urgência, de um transplante de medula óssea.
– Também das notícias de jornais nasceu Capitu, personagem de Giovanna Antonelli. Foi em uma matéria do jornalista Gilberto Dimenstein que Manoel Carlos tomou conhecimento do alto número de universitárias envolvidas com prostituição.
– Aliás, Capitu causou polêmica! Organizações moralistas e uma parcela do público questionavam a “glamourização” das garotas de programa, exposta, segundo estes, em frases nas quais Capitu e Simone (Vanessa Mesquita) comentavam o alto valor que recebiam de seus clientes e na forma como elas apareciam inseridas em um ambiente familiar. De fato, Manoel Carlos ousou ao levar ao vídeo prostitutas distantes dos estereótipos comumente vistos na ficção, o que assustou os mais conservadores.
– Capitu foi assim batizada por conta do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, bastante quisto por seu pai, o revisor de livros Paschoal (Leonardo Villar).
– Com Paschoal, Leonardo Villar, afastado desde Barriga de Aluguel (1990), retornava à Globo. O ator, no entanto, não era o primeiro nome pretendido para o personagem. Na lista inicial do elenco, Paulo José surgia escalado para Paschoal. Outro nome pretendido para a novela era o de Yara Côrtes, que, com problemas de saúde, não pode aceitar o convite de Manoel Carlos, com quem trabalhou em Felicidade (1991) e História de Amor (1995). Parceira do autor em ‘História’ e em Por Amor (1997), Carolina Ferraz chegou a ser cogitada para encarnar Capitu.
– No mais, segundo o diretor geral Ricardo Waddington, o elenco escolhido para a novela era insubstituível. O próprio Maneco ligou para os atores e comunicou que estava usando, inclusive, características de cada um para os personagens.
– Por este motivo, Miguel, vivido por Tony Ramos, era livreiro. Tony comentou: “Ele (Maneco) disse que faria para mim um personagem que viveria cercado por livros, porque sabe que eu adoro livrarias e tenho uma biblioteca pessoal bem grande”.
– A história de Paulo, o filho de Miguel, se confundiu com a de seu intérprete Flávio Silvino. O ator sofreu um grave acidente automobilístico em 1993, que lhe deixou sequelas motoras e neurológicas. Foi Flávio quem pediu um papel a Manoel Carlos, que, para conferir veracidade ao personagem, fez uma intensa pesquisa sobre os hábitos e a rotina do ator, que incluíam sessões de fisioterapia e fonoaudiologia.
– Vera Fischer também declarou, às vésperas da estreia da novela: “Percebo que o Manoel Carlos, um autor que escreve maravilhosamente, principalmente para as mulheres, pôs na Helena coisas que enxerga em mim”. Maneco considerava a escalação da atriz primordial! Vera, por sua vez, estava no auge da beleza, tendo posado recentemente para a Playboy, e da serenidade, após sucessivos escândalos envolvendo seu ex-marido, Felipe Camargo, e a dependência química.
– A presença de Vera, afastada do horário das oito desde Pátria Minha (1994), serviu como chamariz de audiência. Especialmente no início da novela, quando boatos maldosos davam conta de que os beijos de Helena e Edu, o então estreante Reynaldo Gianecchini, estavam extrapolando a ficção. A fofoca, que envolvia ainda a jornalista Marília Gabriela, então esposa de Gianecchini, surgiu após um selinho de Vera no ator durante a festa de lançamento de Laços de Família. E cresceu com a química dos atores em cenas de alta voltagem sexual.
– Quem também estava afastada do vídeo desde Pátria Minha era Marieta Severo, a Alma. A atriz conciliou TV e teatro para atender o convite feito pessoalmente por Manoel Carlos, com quem desejava trabalhar a tempo.
– Alguns atores, no entanto, foram selecionados após testes. Num destes, aliás, o diretor Ricardo Waddington achou que valia a pena inverter as personagens inicialmente reservadas para Giovanna Antonelli e Vanessa Mesquita. Por conta de seu ar maternal, Giovanna assumiu Capitu e Vanessa ficou com Simone.
– Outros atores estrearam na TV após bem sucedidas passagens por diversos meios artísticos: Soraya Ravenle (Yvete) vinha do teatro, onde havia interpretado, com êxito, a cantora Dolores Duran; Zé Victor Castiel (Viriato) foi recrutado por Manoel Carlos devido às suas participações em curtas-metragens. O casal Yvete e Viriato discutia a impotência masculina. Luiz Nicolau (Maurinho) foi vocalista das bandas Garganta Profunda e Inimigos do Rei; Cláudio Gabriel (Severino) vinha de participações em Felicidade e Memorial de Maria Moura (1994); e Alexandra Richter saiu do teatro para uma participação que acabou fixa, Elisa.
– Juliana Paes também estreou em Laços de Família, como a doméstica Ritinha. Sua relação com Danilo (Alexandre Borges) ganhou força na reta final da novela, devido ao sucesso da atriz. Danilo, aliás, foi inspirado em um sujeito, Pedro Estiloso, que Manoel Carlos conheceu em sua juventude. Alexandre Borges o concebeu a partir da obra de Vinícius de Moraes, que, segundo ele, representava o jeito “Danilo” de ser.
– A novela também foi vista como um divisor de águas na carreira de atores já conhecidos do público por trabalhos em outras emissoras: Eliete Cigarini, a Carmencita de Éramos Seis (SBT, 1994), vivia Sílvia, esposa de Pedro (José Mayer); Luiz Bacelli, o Benjamim de Pérola Negra (SBT, 1998), respondia por César, o médico de Camila.
– A atriz mirim Carla Diaz, então no elenco de Chiquititas (1998), do SBT, recusou um salário de R$ 20 mil para assinar com a Globo e participar de Laços de Família.
– As crianças, por sinal, renderam muita dor de cabeça para os responsáveis pela novela. A menina Larissa Honorato, que vivia Nina, filha de Clara (Regiane Alves) e Fred (Luigi Baricelli), foi substituída por Julia Magessi após sofrer um trauma psicológico, devido à gravação de uma cena de intensa discussão entre seus pais na ficção.
– Por este motivo, e pelo fato de Laços de Família conter cenas de sexo e violência, o juiz Siro Darlan determinou a proibição de menores de 18 anos nas gravações e a alteração do horário da novela – que só poderia ser exibida, a partir de então, após às nove da noite. A ação judicial citava ainda a eventual prisão do diretor Ricardo Waddington e do produtor Ruy Mattos, além de multas diárias de 70 mil reais, caso o estabelecido não fosse cumprido a partir do dia 28 de outubro de 2000. A Globo recorreu e, sob os critérios e determinações da Justiça, os atores voltaram aos estúdios tempos depois.
– Antes disso, porém, a produção se viu obrigada a justificar o sumiço dos menores no enredo da novela: Rachel (Carla) e Tide (Samuel Mello) foram para uma colônia de férias; Bruninho (os gêmeos Andrey e Natã Beltrão), filho de Capitu, entrou em uma creche; Nina (Julia) foi viajar com a mãe para a Bahia; Fábio (Max Fercondini), pretendente de Íris (Deborah Secco), partiu para o exterior. A única atriz menor de idade que seguiu na produção, graças à uma ação impetrada pelo pai, Manoel Carlos, foi Julia Almeida, responsável por Estela, irmã de Edu.
– “Considerei um acidente de percurso, mas protestei publicamente, inclusive com um depoimento que dei ao Jornal Nacional no primeiro dia da proibição. Não lembro quanto tempo durou essa medida restritiva, mas minha filha logo fez 18 anos e voltou ao trabalho”, contou Manoel Carlos ao livro Novela, a Obra Aberta e Seus Problemas, de Fábio Costa.
– Por conta do veto da justiça à presença de menores de idade, Lilian Mattos, que interpretava Helena em cenas de flashback, foi substituída por Adressa Koetz.
– Os transtornos prosseguiram com a necessidade de regravar as cenas do casamento de Camila e Edu, em virtude não só da proibição de menores de idade em cena, mas do veto da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) às gravações da novela em qualquer uma de suas paróquias. A atitude se deu por conta da dissonância dos preceitos do catolicismo com os “valores deturpados” vistos na novela.
– Tais assuntos, polêmicos, renderam um encontro dos atores Vera Fischer e Tony Ramos com o então ministro da Justiça, José Gregori, e o presidente em exercício, Fernando Henrique Cardoso. A intenção era discutir a recém-criada e polêmica Classificação Indicativa, bem como a interferência da Justiça em uma obra de ficção.
– Já a então primeira-dama, saudosa Ruth Cardoso, pediu a Manoel Carlos que inserisse a campanha Solidariedade e Cidadania, da qual ela era presidente de honra, no enredo. A ação, que valorizava o voluntariado, se somou a outras bandeiras levantadas pelo autor durante a narrativa de Laços de Família.
– Maneco utilizou problemas de saúde enfrentando pelos atores na “vida real” para enriquecer seus personagens. Assim, o Rodrigo de Paulo Figueiredo lutou contra um câncer de próstata; Inez Vianna dividiu com Márcia (a secretária de Helena, conhecida pelo bordão “fofíssima”) um deslocamento de retina; e a cirurgia para correção de miopia de Arlete Heringer também foi encarada por Marta.
– Para tantos males físicos, nada melhor do que um médico entre os colegas de elenco. Henri Pagnoncelli, o mau-caráter Orlando, conciliou as gravações da novela com os atendimentos em seu consultório, voltando para estética e acupuntura. Já Arlete Heringer, jornalista, se dividia entre os estúdios e a redação do Fantástico, no qual era produtora. Hoje, Arlete integra a equipe do Globo Repórter.
– Laços de Família também promoveu o incentivo à leitura. A Livraria Argumento, que servia de locação para a novela, ganhou inúmeros frequentadores. E as obras citadas pelos personagens viram suas vendas dispararem, caso, por exemplo de No Shopping, de Simone de Campos, e O Subterrâneo do Morro do Castelo, folhetim de Lima Barreto.
– Tornou-se conhecido o poema ‘Só tu’, de Paulo Setúbal, com o qual Camila se declarava, discretamente, a Edu, quando este ainda namorava sua mãe:
Dos lábios que me beijaram,
Dos braços que me abraçaram
Já não me lembro, nem sei…
São tantas as que me amaram!
São tantas as que eu amei!
Mas tu – que rude contraste!
Tu, que jamais me beijaste,
Tu, que jamais abracei
Só tu, nesta alma, ficaste,
De todas as que eu amei.
– Também aumentou consideravelmente o número de interessados em cavalgar no Haras Pégasus, em Vargem Grande; na ficção, propriedade de Alma.
– Laços de Família também promoveu a busca por um negócio próprio. Empreendimentos como a clínica de estética de Helena, o pet-shop de Alex (Daniel Boaventura) e Cíntia (Helena Ranaldi) e a floricultura de Sílvia passaram a ser os mais procurados pelos interessados em se tornar empreendedores.
– E mesmo discutindo o uso consciente do cinto de segurança, Laços de Família sofreu represálias por parte do Departamento Nacional de Trânsito, após a cena em que Íris dirige perigosamente pelas ruas do Rio de Janeiro.
– O primeiro capítulo, por sinal, se inicia com uma batida de trânsito envolvendo Edu e Helena. Vera Fischer, após anos sem dirigir, precisou encarar o volante para a cena.
– Mas a grande campanha de Laços de Família foi, sem dúvida, o incentivo à doação de medula óssea. De quando a leucemia passou a ser abordada na novela até o último capítulo, a média de cadastrados no Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea saltou de 20 para 900 por mês, um crescimento de 4.400%. O número de consultas sobre a doença no Ministério da Saúde passou de 67, antes do adoecimento de Camila, para 458 na penúltima semana de janeiro, quando restavam onze capítulos para o término da novela.
– O “efeito Camila”, potencializado em chamadas na programação com a cena em que a personagem raspa os cabelos, deu à Globo o mais importante prêmio de responsabilidade social do mundo, o BITC Awards for Excellence 2001, na categoria Global Leadership Award. Carolina Dieckmann tornou-se símbolo da luta contra o câncer, tendo participado ao lado de Reynaldo Gianecchini, da confraternização de Natal do Instituto Nacional do Câncer (INCA).
– Ainda sobre a abordagem do tema: Manoel Carlos contou com a assessoria do médico Jorge Damatta, do Centro de Medula Óssea do INCA, para chegar ao tipo de patologia enfrentando por Camila, a que necessitava de transplante a curto prazo e cuja solução ideal seria a doação de um irmão. Optou-se então pela leucemia mielóide aguda.
– Houve críticas, no entanto, à facilidade com quem Helena engravidou, aos 44 anos de idade, numa única noite de sexo e sem um tratamento de fertilidade. As chances de isso ocorrer na vida real, diziam estudos citados pela imprensa brasileira na época da novela, não iam além de 8%.
– Uma coincidência: ao mesmo tempo em que, na Globo, Camila perdia o bebê que esperava e descobria sua doença, no SBT, a personagem Verônica (Kate Del Castillo), protagonista da novela mexicana A Mentira, se via grávida e diante da possibilidade de ter câncer linfático.
– Laços de Família lançou tendências! O jogo de lençóis de Helena tornou-se campeão de pedidos no serviço de atendimento ao consumidor da Globo. E passou a ser comercializado no canal Shoptime, da Globosat.
– A trilha sonora da novela ultrapassou a marca de 1,5 milhão de cópias vendidas. Os dois CDs foram os produtos de maior sucesso da Som Livre em 2000. Por ocasião da reprise de Laços de Família, cinco anos depois, a gravadora lançou uma nova compilação, com os temas nacionais e internacionais de maior sucesso da novela.
– Uma das canções que mais bombaram em 2000 chegou a tocar em cenas da novela, mas não foi incluída em nenhum de seus discos: ‘Amor I Love You’, de Marisa Monte, embalou o momento em que Cíntia pensava na noite de amor que tivera com Pedro.
– Alberto Rosenblit e sua equipe conceberam 20 temas incidentais para a trama, com craques do fagote, violino e violoncelo (entre outros instrumentos). Cabia ao sonoplasta Nelson Zeitoune definir as cenas em que tais composições eram utilizadas.
– Já o repertório da cantora lírica Ofélia (Denise Sartori), vizinha de Helena, era definido pelo autor, Manoel Carlos.
– Só João Gilberto não gostou da trilha de Laços de Família! O cantor acionou um advogado especializado em direito autoral para estudar a possibilidade de processar a Som Livre, por não ter sido consultado sobre a inclusão de sua versão de ‘Corcovado’, feito pelo selo Verve, na abertura de uma novela. A Som Livre, porém, já havia se entendido com a Universal, gravadora do cantor e dona do selo em questão.
– A abertura de Laços de Família era um show à parte! Pinturas de paisagens do Leblon eram cobertas por pinceladas coloridas. O designer Hans Donner comentou: “O telespectador não tem ideia da loucura que foi criar aquilo. Ficamos 20 dias concentrados e utilizamos um software que produziu mais de 2.000 pinceladas. Para que tudo funcionasse bem, os computadores fizeram mais de 11 milhões de cálculos por segundo durante 17 dias ininterruptos”. O processo consistia na transformação de fotos do Leblon em pinturas feitas por Gustavo Garnier, depois levadas para o computador, que refez o processo até que a ação se encaixasse nos versos de ‘Corcovado’.
– Uma disputa judicial envolveu o título da novela. A autora Solange Castro Neves, então na Record, entregou uma sinopse à direção da emissora, em junho de 1999, tendo ‘Laços de Família’ como sugestão de título. O Instituto Nacional de Propriedade Industrial, no entanto, atestou que a Globo havia registrado o título antes desta data. A novela de Solange acabou indo ao ar como Marcas da Paixão.
– Laços de Família contava com dezoito locações externas, quando a média dos folhetins da Globo, até então, era de seis. Os atores usavam aproximadamente doze figurinos por semana, o dobro do usual. Isso tudo para aproximar a narrativa o máximo possível do cotidiano de “pessoas reais”. O número de cenários também era bastante elevado, já que, diferente de outras novelas, haviam cenas em ambientes pouco usuais, como banheiro e lavanderia.
– Uma das locações mais bonitas da trama era a da mansão de Alma, localizada na Joatinga, zona sul do Rio de Janeiro. As cenas de formatura de Edu, exibidas na primeira semana da novela, foram gravadas no Golden Room do Copacabana Palace, com a presença da Rio Jazz Orchestra e a figuração de fotógrafos da imprensa especializada em TV que cobriam as primeiras cenas da novela. O assalto no qual Íris e Ingrid (Lília Cabral), sua mãe, são feitas reféns, foi realizado na Avenida Epitácio Pessoa, também no Rio de Janeiro. Já a fazenda de Aléssio (Fernando Torres) ficava em Camaquã, interior do Rio Grande do Sul.
– Ricardo Waddington pensava em gravar as sequências iniciais de Laços de Família na China. Mas o governo chinês impôs que todo o roteiro de gravação fosse apresentado às autoridades com dois meses de antecedência, o que levou o diretor a optar pelo Japão. 25 pessoas, incluindo equipe e elenco, gravaram por dez dias em Tóquio, Kyoto e Nikko, com o apoio da IPC TV, retransmissora da Globo Internacional.
– Durante as gravações do outro lado do mundo, Vera Fischer, Reynaldo Gianecchini, Carolina Dieckmann e Oliver Okazaki (Toshio) se atrapalharam, avançando o sinal vermelho de uma ciclovia. Acabaram repreendidos pelas autoridades policiais.
– A novela fez sucesso na Austrália, exibida através da Globo Internacional pela manhã, devido ao fuso horário de doze horas. Também na Rússia, onde fora veiculada pela ORT, maior rede de TV do país, que enviou uma equipe ao Brasil para entrevistar o elenco, tamanho o sucesso da novela por lá.
– Por aqui, um dos chamarizes para a audiência foi Paulo Zulu. O modelo vivia Romeu, um instrutor de esqui aquático apaixonado pela aluna, Cíntia. Tornou-se lenda a gravação em alto-mar na qual, acreditando que o microfone estava fechado, Paulo Zulu elogiou a boa forma física de Helena Ranaldi. O microfone, porém, estava aberto e, em terra firme, Ricardo Waddington, então marido da atriz, ouviu o galanteio.
– O elenco de Laços de Família foi preparado pelo ator e diretor Moacir Chaves. Sob os cuidados dele estava, entre outros, Luigi Baricelli, que tomou o hábito de anotar a história de vida de seu personagem revelada através do roteiro. Foi assim que Luigi chegou a dados curiosos sobre Fred, como o fato dele e da mãe, Helena, manterem tanta intimidade que, quando solteiro, ele não se importava caso ela o visse no banho.
– Já para os teasers de Laços de Família, a Globo recorreu à filósofa Nigge Loddi, então na equipe do Mais Você. As chamadas traziam os principais atores da novela citando pessoas e passagens importantes de suas vidas. Vera Fischer falou dos pais; Deborah Secco comentou o casamento com o diretor Rogério Gomes; Alexandre Borges lembrou a emoção do nascimento de seu primeiro filho; Flávio Silvino citou a luta para se recuperar do acidente que o deixou em coma; e Tony Ramos, a parceria com a esposa Lidiane.
– Segundo Nigge Loddi declarou, na época, os atores que mais deram trabalho nestas gravações foram José Mayer e Marieta Severo, bastante reservados quanto à vida pessoal. O slogan era “A vida de cada um de nós dá uma novela. Laços de Família, uma história que poderia ser a sua”.
– De fato, o telespectador tomou Laços de Família para si. O primeiro capítulo registrou 48 pontos, mesmo entrando no ar após o Horário Eleitoral. A audiência oscilou entre 35 e 39 pontos nos capítulos seguintes, batendo os 45 de média com a cena, comovente, da morte de Aléssio. No capítulo em que Helena comunica a Camila que abriu mão de Edu, em favor da filha, recorde de 55 pontos. O número se repetiria no capítulo do casamento de Edu e Camila, atingindo picos de 59 no momento em que Clara revelava aos convidados da cerimônia a verdadeira profissão de Capitu. Dois meses antes de acabar, a novela chegou a 61 pontos – média que as tramas anteriores só atingiram nos cinco últimos capítulos – com a confissão de Helena sobre a paternidade de Camila. O índice foi maior do que as duas partes do filme Titanic (1997), então exibido pela primeira vez na Globo.
– Verdadeiro fenômeno, a audiência de Laços de Família não oscilava nos intervalos comerciais, nem caiu quando o folhetim começou a entrar após o Horário Eleitoral, destinado à eleição para prefeitos e vereadores.
– Graças a Laços de Família, a Globo cresceu 6% na média do horário nobre. O bom desempenho se deve também ao sucesso de O Cravo e a Rosa e Uga-Uga, então exibidas às 18h e 19h.
– Os teasers de ‘Cravo’, aliás, foram exibidos no primeiro intervalo de ‘Laços’. As duas produções foram lançadas com apenas três semanas de diferença.
– A novela turbinou também a audiência do humorístico Casseta e Planeta, Urgente!. A sátira Esculachos de Família foi criada após o sucesso de uma matéria feita por Bussunda vestido de Vera Fischer, repercutindo a entrevista da deusa ao Fantástico, por ocasião dos boatos envolvendo a atriz e Reynaldo Gianecchini.
– Na web, muito antes das redes sociais, Laços de Família causou um fenômeno, visto anteriormente em Por Amor. Tal e qual Eduarda (Gabriela Duarte), da novela de 1997, Camila ganhou um site, “euodeioacamila.cjb.net”, que listava cinco motivos para detestarmos a menina: dissimulada, infantil e chorona, eterna cara de tédio e os fatos de trair a confiança da mãe e achar a titia Íris intrometida. O site chegou a receber visitas de telespectadores da Alemanha, da Argentina, da Espanha, dos Estados Unidos e do Japão.
– Em 2004, o Superior Tribunal de Justiça barrou a reprise de Laços de Família. A Globo utilizou-se, entretanto, de uma classificação indicativa, selo “livre”, conquistada em 2003, diante da promessa de exibir um “novo produto”, sem cenas de sexo e violência. A edição, porém, deixou escapar duas cenas “pesadas”: Danilo e Ritinha aos amassos na piscina e Camila e Edu, nus, na noite de núpcias.
– A audiência de Laços de Família, em Vale a Pena Ver de Novo, foi considerada fraca, de início, mesmo elevando os números da reprise anterior, Deus Nos Acuda (1992). Os índices subiram quando Camila adoeceu, tal e qual acontecera na exibição original da trama.
– A reprise da novela estreou em 28 de fevereiro de 2005, duas semanas antes do término de Senhora do Destino, a novela das oito. Nesta época, Começar de Novo era exibida às 19h e Como Uma Onda às 18h. Após 150 capítulos, uma das maiores reapresentações da faixa até então, Laços de Família terminou em 23 de setembro de 2005, uma semana antes do fim de A Lua Me Disse, novela das sete. No horário nobre, América às 20h e Alma Gêmea às 18h.
– Em 2016, Laços de Família foi resgatada pelo Canal Viva. A partir da estreia da trama de Manoel Carlos, todos os títulos reexibidos na TV por assinatura passaram a ser disponibilizados na plataforma Viva Play – a princípio, no dia posterior à exibição na telinha. O êxito de Helena e companhia no Viva implicou no aumento de seguidores do canal nas redes sociais e na adoção de tags especiais como #JudasDay (quando Íris escreve ‘Judas’ no espelho para provocar Camila), #BarracoDeFamíliaNoViva (sobre a “denúncia” de Clara sobre Capitu) e #LágrimasDeFamíliaNoViva (para o capítulo em que Camila raspa a cabeça).
– Até o momento, Laços de Família é a terceira novela mais bem-sucedida em audiência na terceira faixa do Canal Viva, 23h.
– A novela deve ser disponibilizada, na íntegra, pelo Globoplay em 3 de agosto.
Duh Secco é "telemaníaco" desde criancinha. Em 2014, criou o blog Vivo no Viva, repercutindo novelas e demais atrações do Canal Viva. Foi contratado pela Globosat no ano seguinte. Integra o time do RD1 desde 2016, nas funções de repórter e colunista. Também está nas redes sociais e no YouTube (@DuhSecco), sempre reverenciando a história da TV e comentando as produções atuais.