Após anos explorando o filão bíblico, a Record fez as pazes com a dramaturgia dita contemporânea com Topíssima. A trama de Cristianne Fridman chegou ao fim com relativo sucesso – e ampliando seus índices após a mudança, nestes últimos capítulos, para às 20h30, deixando claro o equívoco da grade que colocou o folhetim de frente com as bem-sucedidas produções da Globo às 19h. A alteração beneficia Amor Sem Igual, boa estreia desta terça-feira (10).
VEJA ESSA
A capacidade de Fridman de armar enredos já é conhecida há anos pelo público do canal. De Bicho do Mato (2006) a Vidas em Jogo (2011), ela sempre engendrou histórias e personagens capazes de garantir, em 200 e tantos capítulos, a atenção do telespectador – não cito Vitória (2014) porque não vi, assim como espiei menos do que gostaria de Topíssima. Fez o mesmo agora, partindo do casal formado por Angélica, a prostituta Poderosa (Day Mesquita), e Miguel (Rafael Sardão).
Ela almeja deixar a rua e trabalhar em um ponto “chique” de São Paulo. Também sonha com bens materiais, como a peça que adquire numa loja esnobe da Oscar Freire, com duas vendedoras tão esnobes quanto – “trolladas” por ela, que parcelou a quantia exorbitante no cartão de crédito, mas não saiu de mãos vazias. Poderosa é empoderada. Reage satisfeita aos olhares desejosos e aos invejosos; toma as dores do que os cercam, com da amiga Furacão (Dani Moreno), explorada pelo filho.
Miguel possui perfil parecido. É dono de uma pequena propriedade rural e de uma banca no Mercado Municipal de São Paulo – ambiente sempre agradável na TV, seja real ou fictício. É prestativo, do tipo que pendura as contas de clientes e auxilia os colegas de trabalho, como Oxente (Ernani Moraes). Homem “de princípios”, ajuda Poderosa quando a vê atacada pelo gerente de uma loja de conveniência. Mas recusa a aceitar o programa de graça, porque não associa sexo a dinheiro.
O encontro de ambos se deu no momento em que Tobias (Thiago Rodrigues), meio-irmão da prostituta, articulava a morte dela – inviabilizando os planos do pai, Ramiro (Juan Alba), de ganhar sobrevida a partir de um transplante de rim tendo a filha bastarda como doadora. Para executá-la, conta com Leandro (Gabriel Gracindo) e Bernardo (Heitor Martinez); este último, acaba jogando a caminhonete de Miguel, dando carona a Angélica, numa ribanceira.
Os dois, porém, saem ilesos do acidente, que gera comentários e insinuações nada comuns em textos da Record, como a do policial que liga o ocorrido ao suposto ato sexual entre a prostituta e o agricultor. Bernardo insiste no ataque, agredindo-a violentamente, gancho para amanhã (11). Lógico que Poderosa não morre; óbvio que Miguel vai encontrá-la, como sugerido nas cenas do próximo capítulo. Também parece claro que ela vai se “converter” aos princípios dele.
Amor Sem Igual prima pelo folhetim sem muita firula, ganha charme com a acertada direção de Rudi Lagemann e a produção caprichada e cresce consideravelmente devido ao bom elenco – Day Mesquita é promissora, bem como Rafael Sardão, dois talentos que estão há tempos nas fileiras da Record. Promessa de bom entretenimento para os próximos meses, de audiência considerável e da manutenção dos folhetins contemporâneos na casa. Boa estreia.
Duh Secco é "telemaníaco" desde criancinha. Em 2014, criou o blog Vivo no Viva, repercutindo novelas e demais atrações do Canal Viva. Foi contratado pela Globosat no ano seguinte. Integra o time do RD1 desde 2016, nas funções de repórter e colunista. Também está nas redes sociais e no YouTube (@DuhSecco), sempre reverenciando a história da TV e comentando as produções atuais.