De antemão, é preciso registrar o quão louvável é o SBT deixar enlatados de lado e voltar a investir em programação de qualidade com potencial para atrair anunciantes de peso. Contudo, o Vem Pra Cá ainda vai precisar de muitas intervenções se quiser ser competitivo nas manhãs da emissora de Silvio Santos. Apresentada por Patrícia Abravanel e Gabriel Cartolano, a nova revista eletrônica trouxe pautas frias e um certo desalinhamento entre os âncoras e colunistas.
VEJA ESSA
O programa começou com uma “brincadeira” a respeito do cenário, instalado na tenda do Bake Off Brasil. Foi um acerto a escolha da direção em trazer um cenário vivo para os órfãos da luxuosa Casa de Vidro do Mais Você. O jardim belíssimo ao fundo compôs bem ao cenário imponente do programa. O produto também se mostrou bem embalado em todos os sentidos. Faltou apenas maior cuidado na escolha dos assuntos.
O primeiro deles foi um grande erro: dicas de moda feminina para festas. Seria interessante, não fosse o momento atual de pandemia com todas baladas do Brasil estão fechadas! Também faltou pensar no público masculino em casa no horário e que estava assistindo, minutos antes, o pesado policialesco Primeiro Impacto. Sugeri no Twitter que, se realmente quisessem incluir o tema no primeiro episódio, poderiam, por exemplo, detonar os looks das celebridades. Seria algo mais divertido e não tão segmentado…
Nesse meio tempo, também entrou um bloco de notícias genéricas e frias. Boletins de notícias são comuns em programas do gênero, mas não minutos após o encerramento de um telejornal. Os matinais da Globo exibem o boletim G1 em 1 minuto nos blocos finais de suas respectivas atrações.
Em seguida, a primeira pauta relevante para o público em geral: o uso excessivo da tecnologia por crianças. Realmente, é um tema em alta na quarentena. O grande problema foi a forma como o assunto foi abordado, com a Patrícia querendo falar mais que a especialista convidada. Quem assistiu ficou irritado. Ela também atropelou por diversas vezes o ótimo Gabriel Cartolano, um excelente apresentador que teve dificuldades para interagir de igual para igual com a filha do dono da emissora.
E aí veio o esperado quadro de culinária com o Carlos Bertolazzi, um premiado chef de cozinha alçado ao estrelato em reality shows tensos e com pouco carisma pessoal. No meio da atração, um pedido surpreendente: ele e Patrícia sugeriram aos anunciantes que patrocinassem os ingredientes usados. A piada se contrapõe a informações de que o programa teria uma fila de anunciantes aguardando por espaços de merchandising. Talvez tenha sido apenas uma brincadeira e uma escolha da direção não exibir propagandas no dia da estreia para não derrubar a audiência (algo que, inevitavelmente, aconteceu). Devemos aguardar mais edições para constatar.
Finalizada a receita, Cartolano apareceu no jardim ao lado de outro colunista para falar sobre como cuidar das suculentas. Assunto em alta nas grandes cidades, já que as pessoas não podem ter grandes plantações dentro de apartamentos. Porém, aí veio outro erro: o tema entrou no horário de transição da programação nacional para a local. Ou seja, grande parte do Brasil viu apenas metade da dica, já que houve uma interrupção para a entrada das afiliadas. Um desrespeito ao telespectador.
O último quadro foi um bloco de notícias de celebridades. Para a tarefa, escalaram a filha de Roberto Cabrini, Gaby Cabrini, que estava nervosa e se atrapalhou na leitura do teleprompter. Louvável a preocupação em trazer informações exclusivas e não apenas ler notícias da internet. Todavia, precisará penar para conseguir fontes e trazer informações mais quentes (ter um Leo Dias na manga fez falta neste momento). Também seria interessante tê-la no estúdio “tricotando” junto aos apresentadores e não apenas sozinha no telão.
Saldo final: o Vem Pra Cá certamente sofrerá alterações profundas se quiser fazer cócegas em Ana Maria Braga e Fátima Bernardes! Exibido das 9h30 às 11h00, marcou 3,4 pontos de média na Grande São Paulo segundo dados preliminares, contra 5,3 da Record e 8,0 da Globo e chegou a ser ameaçado pela TV Cultura. Todavia, não podemos desprezá-lo completamente tendo como vitrine apenas a estreia. É preciso dar tempo para a equipe conhecer um produto novo na grade do SBT, que não via um programa do gênero desde a extinção do vespertino Olha Você (2009).
Seria interessante a produção focar mais em informação, prestação de serviço e dicas de como ganhar dinheiro na pandemia. E também pensar no público masculino – o conceito de programa feminino está ultrapassado, sobretudo agora em tempos de home office. Resta saber se o inquieto Silvio Santos terá paciência de esperar a atração ganhar um fôlego antes de impor a leitura de piadas do Ary Toledo e exibição de vídeos sensacionalistas.
Henrique Brinco é baiano, formado em Comunicação Social pela Unijorge, de Salvador. Atua no jornalismo desde 2008, passando pelas editorias de política, cidades, cultura e entretenimento em diversos portais de notícias, locais e nacionais. É colaborador do RD1 desde 2012, onde já foi responsável pela editoria de Famosos e autor da coluna Por Trás da Mídia. É fã número 1 de reality shows. Fala besteira no Twitter (@brinco) o dia todo também!