Aos 40 anos de idade, Rodrigo Sant’Anna fez diversos personagens de sucesso ao longo da carreira, entre eles a personagem Valéria, uma mulher trans, que integrava o Zorra Total. Durante um bate-papo com Guilherme Logullo, do canal Eu Ator, o humorista refletiu sobre a atuação e disse que, hoje, não interpretaria o papel.
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“Na época não. Hoje, eu já ouvi alguns comentários. Inclusive eu desenvolvo projeto com duas mulheres trans, que elas me situaram. E aí me caiu uma ficha que tipo assim: ‘Meu Deus, eu me sinto muito culpado de ter feito’. Porque eu entendo, hoje em dia, como é difícil para as mulheres trans, para as pessoas trans, estarem num mercado de trabalho, por conta de um pré-conceito social, e aí eu, enquanto homem gay, já estou ocupando um lugar que poderia ser uma trans. Então aí, hoje, eu não faria a Valéria ou se eu fizesse a Valéria, talvez teria uma outra trans comigo para compor esse cenário“, avaliou o artista.
Durante o bate-papo, o artista também contou como é feito o processo de criação dos seus personagens:
“Acho que é um pouco de tudo. Eu sou muito observador. E talvez pela minha timidez eu acabo compondo muito por fora, porque eu me enxergo distante. Não me enxergo naquele personagem. Acho que o personagem que eu tenho mais próximo de mim seja o Jefinho (de Os Suburbanos). E aí eu fico querendo me distanciar. Então, eu acho que eu componho muito, justamente para enxergar alguém diferente de mim, para eu poder ter a liberdade de falar muita m3rda, de ser escroto às vezes, e de ser politicamente incorreto, dentro de uma figura, de um universo que representa aquilo“.
Apesar de hoje ter uma carreira de sucesso, Rodrigo não teve muito acesso à cultura na infância. Em entrevista ao Gshow, ele comentou sobre a dificuldade que as pessoas periféricas tem de estarem mais próximas à cultura.
“O subúrbio já é relacionado às regiões periféricas, que estão à margem do grande centro. O Morro dos Macacos, onde vivi, não é exatamente um lugar periférico, porque é ali ao lado da Tijuca, que é um bairro mais central, mas tenho a sensação de que na comunidade a gente vive numa periferia sob outra ótica, porque a estrutura existente naquele local é menor e acaba que o acesso a tudo é menor, não só pela questão financeira, mas porque para você chegar numa comunidade mais tarde é complicado, então você deixa, por exemplo, de ir ao teatro, porque é à noite, é mais caro“, analisou.
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