Em entrevista às Páginas Amarelas de Veja, Silvio de Abreu tratou de vários assuntos, inclusive sobre Gilberto Braga, que nos deixou na última terça-feira (26).
VEJA ESSA
Para Abreu, eles eram mais do que amigos, eram “irmãos”.
Na visão do escritor, Gilberto também era “o maior autor do país”, em razão da elegância, estilo e inteligência que conferiu às novelas.
Vaidoso (ou seria arrogante?), Silvio alertou que o gênero “morrerá com o fim da geração de ouro dos folhetins” – à qual incluiu-se ao lado de “Giba”.
A coluna recomenda a leitura da entrevista na íntegra. É um documento importante sobre o modus operandi da maior produtora de telenovelas do mundo nos últimos anos.
Abreu toca em pontos como se não fizesse parte deles. É como se o Silvio de Abreu fosse telespectador e não integrante da cena forjada pelo próprio Silvio de Abreu.
Ao fingir que não houve boicote a Gilberto Braga, Silvio nega a própria imagem no espelho.
E se houve boicote, como de fato houve, ele partiu do “irmão” Silvio de Abreu.
Desde que a Globo cedeu aos gritos da plateia em razão da exibição de Babilônia (2015), Braga foi constantemente boicotado na emissora. E padeceu de tristeza. Não aceitava o fracasso que o impuseram.
E na emissora, caso o Silvio não se lembre, era um tal de Silvio de Abreu quem mandava prender e soltar no departamento de teledramaturgia.
Ao alterar o curso de Babilônia e dar um cavalo de pau no entrecho costurado por Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga para agradar a audiência, Silvio se tornou o autor da Babilônia que conhecemos.
Sou daqueles que não eximem o trio de autores de suas responsabilidades. O folhetim estrelado por Gloria Pires, Adriana Esteves e Camila Pitanga apresentou uma narrativa confusa e alguns núcleos com deficiências, todavia, algo capaz de ser corrigido pelos próprios roteiristas.
Mas a metamorfose proposta por Abreu fez parir um monstrengo. Daí o merecido título de maior fracasso das 21h até hoje.
Aliás, incrível como as intervenções do Silvio se mostraram ineficazes com o tempo – e faço questão de ficar apenas na faixa das 21h. Foi assim também com A Lei do Amor (2016), de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari. E por pouco com Velho Chico (2016), de Benedito Ruy Barbosa.
A sorte da história do Coronel Saruê (Rodrigo Santoro/Antonio Fagundes) foi a afiada língua do Benedito, que na época proporcionou uma venenosa entrevista ao UOL, na qual ele fritou Abreu em praça pública.
Ao jogar confete para o “irmão” Gilberto, Silvio também esquece que recusou uma minissérie sobre Elis Regina, engavetou uma releitura de Brilhante (1981), que receberia o título de Intolerância, e deformou Feira das Vaidades, que Giba escrevia em parceria com Denise Bandeira para a faixa das 18h, solicitando uma série de alterações que culminaram no cancelamento do projeto já na nova gestão.
A coluna concorda com o Silvio em um ponto: Gilberto, senão o maior, certamente está entre os três maiores autores da atualidade.
Agora na Warner, Silvio de Abreu promete inovar nas “telesséries”. Aliás, interessante o malabarismo para não chamar novela de… novela. Como se sabe, partiu do mesmo dramaturgo o batismo das novelas das 23h da Globo para “supersérie”. Vai entender.
No streaming, Silvio vai perceber que a realidade é outra. Ou não… Afinal, na entrevista à Veja ele fez questão de alertar a Globo sobre o futuro, numa espécie de grande oráculo que tudo vê.
A Warner também vai precisar ficar atenta. Mas ao passado. Há históricos que falam por si só.
João Paulo Dell Santo consome TV e a leva a sério desde que se entende por gente. Em 2009 transformou esse prazer em ofício e o exerceu em alguns sites. No RD1, já foi colunista, editor-chefe, diretor de redação e desde 2015 voltou a chefiar a equipe. Pode ser encontrado nas redes sociais através do @jpdellsanto ou pelo email [email protected].