Com mais de 40 anos dedicados à TV, com inúmeros sucessos em novelas, no teatro e no cinema, a premiada Ana Lúcia Torre conversou com o RD1 e o papo rendeu. Simpática e cheia de história para contar, a atriz, que está no ar em Quanto Mais Vida, Melhor!, falou sobre sua trajetória, personagens inesquecíveis, pandemia, maturidade, filho, netos e muito mais…
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Você está no ar em Quanto Mais Vida, Melhor!, que já foi toda gravada. Como assistir em casa a novela, tendo o trabalho todo pronto?
É uma experiência que eu nunca tinha vivido. É estranho, embora, seja exatamente isso que a gente faz no cinema. Mas a novela vai tomando rumos que, às vezes, podem ser modificados de acordo com a repercussão junto ao público. E nessa novela nós não tivemos isso, então, é algo que me deixa bastante intrigada. E, ao mesmo, tempo excitada para ver o que vai acontecer.
Que boas surpresas os telespectadores ainda poderão ter com a personagem Celina?
Eu adorei fazer a Celina! Gosto de papéis que tenham uma maldade. E a dela chega a ser engraçada porque ela é muito divertida, louca. As pessoas no estúdio riam muito das cenas porque a Celina fazia tanta barbaridade (risos), coisas inacreditáveis que eu me divertia. Ela vai fazer coisas terríveis, pois ainda está suave…
Quanto Mais Vida, Melhor! retrata a vida e a morte, e dá a oportunidade de alguns personagens retornarem à trama para reavaliarem suas atitudes. Se você pudesse voltar ao tempo, o que mudaria?
Pergunta difícil de ser respondida. Eu não sei, realmente, não tinha pensado nisso. Talvez, pudesse fazer mais ações sociais, embora eu faça. Acho que demorei um pouco para começar a fazer essas ações. Afinal, tem tanta coisa para ser feita, não é?
Sua trajetória é marcada por sucessos, com prêmios e personagens inesquecíveis. Quando olha para trás, sente-se orgulhosa da caminhada trilhada até aqui?
É muito tempo, não (risos). Antes de fazer novela, eu já fazia teatro. Mas falando de novela, que é o pulo do agora, no início eu tive dificuldade para entender todo aquele mecanismo, essa coisa de não ter o texto pronto como no teatro. Aos poucos, eu fui me estabilizando dentro da linguagem da televisão. E fui me sentindo à vontade na TV com os colegas, com o processo, foi muito bom.
Contou com o apoio dos seus pais para seguir no mundo da dramaturgia?
Todo começo de carreira é difícil até você se firmar no mercado. Mas quando você tem uma carreira que você faz com enorme prazer e sabe que é aquilo que você quer da vida, a barreira não e tão grande quanto o seu desejo de continuar. Claro, eu tive enormes dificuldades no começo, tive filho, uma série de compromissos, fazia trabalho por obra, porém, sempre foi muito prazeroso. E, sim, desde o início os meus pais sempre estiveram ao meu lado.
Com 40 anos dedicados à TV, guarda um carinho especial por alguns trabalhos?
Tenho um carinho especial por muitos trabalhos. A começar pela primeira vez que entrei nos estúdio com aquele monte de refletores, quatro câmeras – e não sabia para qual eu deveria olhava: “Dona Xepa”. Entrei com o pé direito na TV. Mas foram tantos outros como “O Cravo e a Rosa”, “Verdades Secretas”, “A Dona do Pedaço” e muitos outros, não vou conseguir lembrar tudo… Mas todos foram sempre prazerosos.
O Cravo e a Rosa está de volta à TV. Tem boas lembranças da trama?
É um absoluto prazer assistir a novela, que foi maravilhosa, tivemos um grupo animadíssimo no núcleo da fazenda. A Neca era uma personagem deliciosa. Todo o núcleo era incrível. Eu poderia estar fazendo O Cravo e a Rosa até hoje (risadas).
Alma Gêmea é outro grande sucesso. E uma das cenas memoráveis é a do embate entre Débora e Agnes…
Alma Gêmea foi outra novela que colocaria nessa minha lista de gostosuras. A Débora foi uma personagem fantástica, de uma maldade inacreditável (risos). Essa cena da briga da com a Agnes (Elizabeth Savala) é tudo! Eu e a Beth Savala, agora juntas em Quanto Mais Vida, Melhor!, só contracenamos duas vezes. Mas quando nos lembramos dessa cena, damos boas gargalhadas.
Vivemos um período conturbado na cultura e a pandemia da Covid-19…
Difícil, não é? Tudo é complicado ao atravessar essa pandemia, principalmente porque as pessoas não se recolhem do jeito que tem que se recolher. Elas não tomam as medidas necessárias para evitar que outras pessoas se contaminem. Isso é o resultado de um descaso que a gente tem com o outro. Vivemos o tempo do eu primeiro e o resto que venha depois. Vivemos tempos de dificuldade em todos os níveis da cultura. E acho que a Covid-19 veio para nos ensinar que a vida que a gente levava e que achava normal, não era normal. Essa pandemia deveria ter servido para as pessoas refletirem mais o que estamos fazendo com as nossas vidas.
Você morou em países como Portugal, Noruega e Inglaterra. Como é relembrar essa época?
Morar fora do seu país é um grande aprendizado. A Inglaterra e a Noruega são bem diferentes da nossa cultura. Não estou dizendo que a nossa é ruim e a deles é ótima, não! Mas são culturas diferentes. E acho que todo mundo deveria aprende um pouco sobre culturas diferentes para ver como e possível estabelecer relação com pessoas diferentes.
Você é mãe de Pedro Lobo e avó de Marcos e André. É uma mãe coruja?
Sim! Qual mãe não é coruja, meu amor? Risos. Eu tenho um filho que é uma benção desde que nasceu. Só me traz alegrias! E ainda tenho dois netos lindos! Sou também uma avó coruja.
As novelas estão, cada vez mais, dando espaço para os atores maduros. Os tempos são outros?
Eu acho que de uma forma, sim. Veja agora, tem muito gente legal madura gravando. E eu acho que o público pede por isso, sabe?! As pessoas gostam de ver os atores maduros em cena. E como é bom saber que o ator maduro resolve determinada situação. Isso é ótimo para as pessoas saberem que a partir de certa idade elas ainda são muito ativas. Morei na Europa e o respeito pelo idoso é algo extraordinário. Aqui a gente não vê isso acontecer. Vejo nas empresas pessoas com 45 anos, um currículo deslumbrante e pedindo emprego, e outras dizem que essas pessoas estão velhas. Que loucura! Essa nessa época quando começamos a atingir uma grande capacidade intelectual. É uma pena e torço para que isso mude…
O carioca Márcio Gomes é apaixonado pelo jornalismo, tanto que o escolheu como profissão. Passou por diversas redações, já foi correspondente estrangeiro dos títulos da Editora Impala de Portugal como Nova Gente, Focus, Boa Forma, e editor na revista de BORDO. Escreveu para várias publicações como Elle, Capricho, Manchete, Desfile, Todateen, Shape, Seleções, Agência Estado/Estadão, O Fuxico, UOL, entre outros.