Fábio Porchat analisa os “limites do humor” e aponta perseguição política

Fábio Porchat

Fábio Porchat analisa os “limites do humor” e aponta perseguição política (Imagem: Reprodução / YouTube)

Nunca antes como nos últimos 4 anos, o humor tem sido tão questionado, invalidado e até censurado. Fábio Porchat tocou nesse assunto, analisando até que ponto esses limites são positivos e também viu uma perseguição política numa das parcelas.

Logo de cara, em entrevista a Leo Dias, o apresentador avisou que não quer resumir seu trabalho na comédia à política: “Eu sempre me posiciono, mas não quero virar ‘o cara da política’. Primeiro que eu não tenho esse dom, eu não sou essa pessoa”.

Para Porchat, essa decisão é um pedido urgente do público. Ele ainda opinou que somente depois da gestão de Jair Bolsonaro como presidente, essa pauta virou alvo de queixas tão expressivas:

As pessoas não aguentam mais brigar! O humor é do contra. Ele bate em quem está na situação e tem que ser assim. Quando o Lula estava lá, sacaneavam ele. Tem vídeo de vários famosos sacaneando a Dilma. Quando batiam em Lula e Dilma, eles adoravam e riam. Esses radicais de direita… O problema é que não pode ser só [a favor] do seu lado. A gente tem que rir de todo mundo, inclusive da gente”.

O extinto Zorra Total foi citado por Fábio como um exemplo de que o humor não pode ficar parado no tempo, e que nunca pode ofender quem já sofre com vários tipos de opressões:

O que o humor também mudou nesses últimos dez anos (…) Você pensa no bordão do Zorra Total, ‘Isso é uma bichona’, isso jamais passaria hoje. O que o Porta dos Fundos acabou fazendo inconscientemente nos últimos anos foi rir de quem está no poder, rir de quem bate, não de quem apanha”.

Boicote a seu trabalho e especial de Natal polêmico do Porta dos Fundos

Embora seja engajado em certas militâncias, Fábio Porchat esclareceu que ninguém pode chegar tanto ao extremo:

Não tem limite na poesia, não tem limite na ficção científica, não tem limite no terror, por que vai ter limite no humor? O humor é só um ponto de vista tão poderoso que as pessoas querem pôr um limite a ele, eu acho que não pode ter limite o humor. Você pode não gostar, não assistir o show e falar pra não assistirem, mas não pode impedir dele dizer algo que está previsto em lei”.

O global lembrou de quando, em 2019, sofreu ataques virtuais e também presenciais pelo Porta do Fundo colocar figuras bíblicas como homossexuais, de forma satírica:

Quando deu a confusão que jogaram bomba na gente, um ataque terrorista, na véspera de Natal, você vê como chegou o nível… A gente sempre fez piada com isso [religião], só que, naquele ano, tinha uma brincadeira de como o demônio tentou Cristo que o demônio era gay. E o público conservador acha que ser gay é xingamento. No Porta dos Fundos, ser gay é uma característica”.

Porchat explicou que ficou muito chocado com a recepção negativa daquele episódio: “A gente nem imaginou, nem viu essa maldade. Ele [Jesus, no especial de Natal] nem é gay, quem tinha que ter ficado bravo era a comunidade gay, porque a gente bota um demônio gay”.

Fábio Porchat visualiza extremismo político como um agente ativo de censura

Nesse bate-papo, o artista denunciou uma hipocrisia nos bolsonaristas e constatou que esse é um fenômeno relativamente recente:

O que é perceptível é que de uns tempos pra cá, as coisas ficaram mais violentas. Porta dos Fundos fez especial de Natal entre 2013 e 2018, e não aconteceu nada. Em 2019 jogaram uma bomba na gente. As pessoas estão mais agressivas desde então. Nos governos do Fernando Henrique, Lula, Dilma e Temer não tinha ódio nesse nível. Não tinha isso de ‘você é Lula, então não vou te escutar na rádio’”.

Fábio contou que, apesar de tudo que disse, é muito prestigiado quando vai às ruas: “Tinha um [posicionamento] radical muito na ponta, mas agora parece que é regra. São barulhentos e muito corajosos na internet. Pensei ‘será que não vou poder andar na rua?’. Nada! Na rua é só amor”.

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