Em “Deus Salve o Rei”, peste só mata personagem sem função
Saulo (João Vithor de Oliveira) estava “sobrando” em “Deus Salve o Rei” (Imagem: Divulgação / Globo)
Desde que fez sua primeira vítima em Montemor, a peste vem sendo motivo de pânico entre os personagens de “Deus Salve o Rei”. Para o supervisor de texto da novela, Ricardo Linhares, a doença tem se revelado uma “ferramenta” bastante útil.
Além de servir como catalisador para diversos novos conflitos da novela – como a farsa armada por Rodolfo (Johnny Massaro) para escapar do exílio e a acusação contra Amália (Marina Ruy Barbosa) por bruxaria -, a epidemia também vem servindo como pretexto para o autor tirar de cenas personagens que exerciam pouco ou nenhum peso na história.
É o caso, por exemplo, de Martinho (Giulio Lopes), cuja única relevância na história era “ser” o pai de Amália e de Tiago (Vinícius Redd), e de Saulo (João Vithor de Oliveira), que não teria muito mais o que fazer na história depois de ajudar Selena (Marina Moschen) a decifrar os mistérios da bruxinha Agnes (Mel Maia).
Ao lançar mão desse tipo de artifício para eliminar personagens que estavam apenas “enchendo linguiça” no folhetim de Daniel Adjafre, Linhares faz jus à escola de dramaturgia da grande Janete Clair – que, ao substituir Emiliano Queiroz no texto da claudicante “Anastácia, a Mulher Sem Destino” (1967), matou através de um terremoto a maior parte dos personagens e modificou totalmente o argumento original.
Ao longo dos mais de 50 anos da teledramaturgia no Brasil, diversos autores usaram recursos semelhantes para alterar os rumos de novelas que não estavam indo bem na audiência. Foi o caso de Silvio de Abreu, que usou a explosão do shopping (prevista desde a sinopse) para matar personagens rejeitados pelo público em “Torre de Babel” (1998); ou até da atual trama da Record, “Apocalipse”, cujo arrebatamento dos fiéis cristãos – evento previsto na Bíblia – tirou de cena quase metade do elenco, melhorando o ritmo – e a repercussão – da trama.
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