– Com a estreia de “Esplendor”, em janeiro de 2000, a Globo lançava o projeto “Novela de Verão”, que previa a exibição de tramas mais curtas às 18h durante a estação mais temida pelos executivos de TV – o calor e as férias costumam levar os telespectadores para as ruas.
– O horário, aliás, padecia com seguidos insucessos. Os índices caíam a cada estreia, desde 1995, quando o remake de “Irmãos Coragem” naufragou. Neste período, apenas “História de Amor” (1995), “Anjo Mau” (1997) e “Era Uma Vez…” (1998) registraram índices satisfatórios. A aposta anterior a “Esplendor”, “Força de um Desejo” (1999), apesar do êxito artístico, só ultrapassou os 30 pontos em sua última semana.
– A ideia, a princípio, era reformular a novela das 18h com uma aposta forte no humor. “Uga-Uga”, de Carlos Lombardi, estava cotada para a vaga de “Força” quando a alta direção do canal se decidiu por “Esplendor”. Criou-se então expectativa para que “Uga” pintasse na sequência, a partir de abril; a trama, porém, foi remanejada para a faixa das 19h.
– Ana Maria Moretzsohn, parceira de Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares em “Tieta” (1989) e “Fera Ferida” (1993), por exemplo, assinava seu primeiro trabalho solo na Globo. A autora já havia atuado como titular na Band, em “Perdidos de Amor” (1996), “Serras Azuis” (1998) e “Meu Pé de Laranja Lima” (1998).
– O folhetim foi produzido a toque de caixa! Da aprovação da sinopse, de apenas três páginas, até a estreia, passaram-se apenas 45 dias – inclui-se aí os feriados de Natal e Ano Novo. O enredo, contemporâneo, foi transferido para a década de 1950 para facilitar a produção. Contribuindo para o bom andamento dos trabalhos, a proximidade do diretor geral Wolf Maya com a equipe, que havia dividido com ele o set da minissérie “Hilda Furacão” (1998). Cada capítulo custou US$ 30 mil, cerca de 50% do valor normalmente consumida por uma novela.
– A novela foi quase toda gravado em estúdio e na cidade cenográfica construída nos Estúdios Globo – então Projac. Praticamente todas as edificações privilegiavam o estilo alemão, como a pensão Amor Perfeito, de Laura (Cláudia Alencar) e Rodolfo (Osmar Prado), com direito a piso de mármore. Também o colégio Esplendor do Sul e o hospital do Dr. Hugo Norman (Gracindo Jr). Na casa deste, prevalecia a “mão pesada” da esposa, Olga (Joana Fomm) – que seguia o estilo art nouveau, com ambiente todo decorado com vasos e móveis chineses. As externas foram realizadas em São Paulo – o Trem de Prata, na Estação da Luz, “testemunhou” o primeiro encontro de Flávia Cristina (Letícia Spiller) e Flávia Regina (Christine Fernandes). Também no Rio Grande do Sul – no Parque Nacional da Serra Gaúcha, em Cambará do Sul, mais precisamente no Canyon de Fortaleza; carros e ônibus levados para a locação foram transportados em caminhões e reboques por uma longa estrada de terra. E no Rio de Janeiro, em bairros como Santa Teresa – onde ficava a fachada da mansão de Norman – e Grajaú – o edifício que Flávia Cristina dividia com o irmão Bruno (Caio Blat).
– Destaque para a Vivenda do Sombrio; na verdade, a Casa da Ipiranga, em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro – que já havia abrigado o Sr. de Montserrat (Carlos Vereza), em “Direito de Amar” (1987). Era a residência da família Berger, liderada pelo solitário viúvo Frederico (Floriano Peixoto). A mansão em estilo vitoriano passou por um “processo de envelhecimento” para enfatizar o aspecto de abandono. As paredes externas foram cobertas com heras falsas. Por meio de computação gráfica, a construção foi inserida na proximidade do Canyon de Fortaleza; a névoa característica do Sul foi reproduzida artificialmente, reforçando o aspecto fantasmagórico do local.
– O historiador Francisco José Vieira acompanhou os processos de caracterização, cenografia, figurino e produção de arte, fornecendo informações sobre costumes e hábitos dos anos 1950. “Esplendor” trouxe móveis garimpados em antiquário, com a cadeira de rodas de Olga e as bonecas de Érica. Também automóveis clássicos, como o Mercury 1953 de Cristóvão (Murilo Benício), além de dois táxis, um ônibus, uma ambulância, dois caminhões, onze lambretas e um avião Cessna.
– “Esplendor” marcou o retorno de Tônia Carrero (Mimi Melody) às novelas globais, após 12 anos – desde “Sassaricando”, finalizada em junho de 1988 –, nos quais passou por Manchete e SBT. A previsão era de que a trama também contasse com participações de Fernanda Montenegro, Ítalo Rossi, Paulo Autran, Sérgio Brito e Walmor Chagas, numa homenagem ao Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Apenas Ítalo ingressou no folhetim, como Vicente, mordomo da família Bergman, bastante próximo de Mimi. Fúlvio Stefanini, primeiro nome escalado para Hugo Norman, também ficou de fora da trama.
– Murilo Benício chegou à produção “no atropelo”: entre a sondagem e a gravação da primeira cena passaram-se apenas cinco dias. Já Letícia Spiller, que havia raspado os cabelos para dissociar sua imagem da maléfica Maria Regina, de “Suave Veneno” (1999), precisou recorrer a produtos químicos para precipitar o crescimento dos fios – entre uma novela e outra, foram apenas quatro meses de férias, aproximadamente.
– “Esplendor” ainda marcou a estreia de Juliana Knust (Helena), Max Fercondini (Freddy) e Thiago de Los Reyes (Gui) na telinha. E a reedição da parceria de Osmar Prado e Cláudia Alencar, testada em “Roda de Fogo” (1986), na qual viveram o casal Tabaco e Patativa – a costureira dividia o marido, sem saber, com outras duas mulheres.
– O cinema inspirou a concepção de muitos personagens. O visual de Spiller, por exemplo, remetia a Julie Andrews em “A Noviça Rebelde” (1965) – também centrado na figura da governanta que encanta o patrão. Caio Blat reverenciou Marlon Brando em “O Selvagem” (1953) e James Dean em “Assim Caminha a Humanidade” (1956). Já Joana Fomm procurou imprimir em Olga Norman a postura de Gloria Swanson em “Crepúsculo dos Deuses” (1950). Já Adriana Garambone, a Marisa, recorreu à relação de mãe e filha de Ingrid Bergman e Liv Ullmann em “Sonata de Outono” (1978), para inspirar os embates da personagem e de sua genitora, Olga. “Servidão Humana” (1964), com Kim Novak, amparou o trabalho de Christine Fernandes como Flávia Regina. E a mocinha Sandy (Olívia Newton-John), de “Grease – Nos Tempos da Brilhantina” (1978) serviu de base para Érica, figura destinada a Thaís Fersoza.
– Aliás, o tema que embala a primeira cena de ‘Grease’ – ‘Love Is a Many Splendored Thing’, com The Lettermen – também abre a trilha sonora de “Esplendor”, cuja capa remetia aos pôsteres de filmes da década de 1950. As 17 músicas que compunham o repertório foram remasterizadas e digitalizadas para o CD, produzido por André Sperling e Mariozinho Rocha. Devido à, a princípio, curta duração da novela, a trilha passou a ser comercializada logo após a estreia.
– A festa de lançamento de “Esplendor” remetia aos anos 1950 não só pelo ambiente – o Golden Room, do icônico Copacabana Palace – como pelos convidados: a ex-vedete Virgínia Lane, Ângela Maria, Cauby Peixoto e Adalgisa Colombo, a Miss Brasil 1958.
– Bem-sucedida, com média final de 30,6 pontos – a maior desde “Anjo Mau” (1997, com 31,8) – “Esplendor” acabou esticada. Dos 71 capítulos previstos para 83 e, por fim, 125.
– Para manter o interesse do público, Moretzsohn apostou em Flávia Regina, despertando do coma no qual entrou após um acidente de ônibus – que levou Flávia Cristina, fugindo do Rio de Janeiro por acreditar ter matado o agiota que chantageava seu irmão, a assumir sua identidade. Regina, a princípio, sofre com amnésia; o lapso de memória adia as descobertas de Frederico sobre a verdadeira história de Cristina. Mas esta, acuada, acaba se entregando. Com Flávia Cristina expulsa da Vivenda do Sombrio, a novela inicia seu “segundo ato”, destacando o conluio de Flávia Regina e Cristóvão – também envolvido na morte de Elisa (Ângela Figueiredo), esposa de Frederico, e Pedro (Toni Borges), filho de Olga. No último capítulo, Cristóvão morre e Regina foge para o exterior com seu dinheiro, envolvendo-se com um charmoso piloto (Marcelo Serrado, então marido de Christine Fernandes).
– O romance de Adelaide (Cássia Kis) e Hugo Norman também ganhou relevância; o médico hesitava em abandonar a esposa, Olga, paraplégica, para se unir à amada. No último capítulo, Adelaide, tempos após dar a luz, sucumbia à uma enfermidade cardíaca. O menino Gui, que, a princípio, só recuperaria a voz no último capítulo, foi curado graças à intervenção do parapsicólogo Lázaro (Caco Ciocler); o garoto deixou de falar após a morte da mãe, cujo “fantasma” o atormentava. Destaque também para Marisa, noiva de Cristóvão, que, grávida e abandonada, se aproximou do médico Mariano (Marcelo Saback). Também o namoro de Helena e Dino (Henri Castelli); o romance de Caçula (Guga Coelho) e Suzy (Karine Carvalho) – “mal falada” por conta da mãe, Lígia (Lucinha Lins), desquitada; e o mau-caratismo de Sandro (Biju Martins), filho da empregada de Norman, Irene (Zezé Motta), que acaba morto ao tentar entregar seu comparsa, Bruno.
– “Esplendor” foi comercializada em países como Emirados Árabes, Portugal e Venezuela e reapresentada em “Vale a Pena Ver de Novo”, apenas na Globo Internacional, entre outubro de 2015 e fevereiro de 2016, substituindo “O Rei do Gado” (1996) e sendo substituída por “Cabocla” (2004).
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Duh Secco é “telemaníaco” desde criancinha. Em 2014, criou o blog “Vivo no Viva”, repercutindo novelas e demais atrações do Canal Viva. Foi contratado pela Globosat no ano seguinte. Integra o time do RD1 desde 2016, nas funções de repórter e colunista. Também está nas redes sociais (@DuhSecco), sempre reverenciando a história da TV e comentando as produções atuais.
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Duh Secco é "telemaníaco" desde criancinha. Em 2014, criou o blog Vivo no Viva, repercutindo novelas e demais atrações do Canal Viva. Foi contratado pela Globosat no ano seguinte. Integra o time do RD1 desde 2016, nas funções de repórter e colunista. Também está nas redes sociais e no YouTube (@DuhSecco), sempre reverenciando a história da TV e comentando as produções atuais.