2019 ainda está longe do fim, mas já é possível associar tal ano a profundas mudanças na Globo, da política de contratos – com as dispensas, quase que todo mês, de grandes nomes da casa – à grade de programação. Sobre esta, impossível não falar da extinção do “Vídeo Show” e do “Bem Estar” como atrações independentes. À esta altura, sinto falta do “Vídeo Show”. Meses atrás, quando o programa padecia com quadros de humor sem a menor graça e as apáticas Ana Clara Lima, Fernanda Keulla, Sophia Abrahão e Vivian Amorim, cheguei a acreditar que era, de fato, a hora do “VS” partir. Ledo engano. O mesmo posso dizer do “Bem Estar”, que, sob o comando do “engraçadinho” Fernando Rocha, parecia exaurido.
A Globo transformou o “Vídeo Show” em quadro do “Mais Você”; já a produção sobre saúde foi alocada no “Encontro” e no “É de Casa”. Acontece que nem Ana Maria Braga nem Fátima Bernardes parecem satisfeitas com seus respectivos “hóspedes”. Há uma evidente “quebra de ritmo” tanto na atração de Námaria, quanto na de Fatinha, durante a exibição dos agora quadros. É como se alguém batesse à porta na hora do jantar, obrigando as anfitriãs a deixarem a mesa para receber (e despachar) o visitante. Não que as apresentadoras sejam indelicadas, longe disso – Fátima, aliás, é um poço de gentileza com Michelle Loreto, hoje à frente do “Bem Estar”.
É óbvio também que os dois programas vinham padecendo na audiência, assim como o “Globo Esporte”, submetido à intervenção na última semana, e a “Sessão da Tarde”, que ainda não cumpriu a missão de estancar a fuga de telespectadores para “A Hora da Venenosa”, na Record. Do jeito que estava, não dava para continuar. Mas a Globo, acostumada a tantos e tantos êxitos, parece ter dificuldade em lidar com fracassos. No desespero para sanar a crise, varreu o “Vídeo Show” e o “Bem Estar” para debaixo dos tapetes de Ana Maria e Fátima. Desespero ou preguiça de pensar em uma saída mais honrosa? Ou numa completa restruturação, ao invés de torna-los mortos-vivos?
Vendo o “Bem Estar” na manhã de sábado me ocorreu a possibilidade da Globo transformá-lo em semanal, usando desta faixa, em um formato que concilie o “jornal sobre saúde”, das últimas semanas com Fernando e Mariana Ferrão, ao modelo tradicional, do bate-papo com especialistas. Assim como também veio à mente a opção por um “Vídeo Show” mais dinâmico, bem editado no melhor estilo “Isso a Globo não mostra”, quadro do “Fantástico”, sem aquele jogral chatíssimo de âncoras aprisionados no TP ou nos gracejos. Poderiam aproveitar, inclusive, o espaço do insosso “É de Casa”, no ar desde 2015, sem mostrar, até o momento, a que veio.
As voltas que o mundo dá… 1
Aliás, curioso constatar que a mesma Ana Maria Braga que hoje “mantém vivo” o “Vídeo Show” quase “matou” o programa em 1999, quando chegou à Globo. Na ocasião, para instalar o “Mais Você” na faixa vespertina, o canal decidiu extinguir o programa, então conduzido por Miguel Falabella. O “VS” acabou ficando por ali, reduzido de 30 para 15 minutos, graças aos inúmeros telefonemas para a Central de Atendimento ao Telespectador, em protesto contra seu término.
As voltas que o mundo dá… 2
Curioso constatar também que o “Vídeo Show” como o vimos quando “extinto” em nada lembrava a atração dos tempos de Falabella. Uma matéria de 1989, sobre o desfecho de “Vida Nova” – disponibilizada na web via GShow – contou com Nívea Maria tecendo um crítica velada ao desenvolvimento de sua personagem, Gema. Algo impensável para o programa nos últimos anos, “chapa branca” a ponto de tratar “Babilônia” (2015) como um sucesso tão grande quanto “Vale Tudo” (1988).
“Vida Nova”, de Benedito Ruy Barbosa, completou 30 anos do último capítulo neste 5 de maio. O folhetim é sempre associado à morte de Lauro Corona, que deixou a produção antes do fim para cuidar da saúde. Assim como a sucessora, “Pacto de Sangue”, ficou marcada pela participação de Sandra Annenberg, bem-sucedida jornalista, corpo e alma do “Jornal Hoje”. No dia 10, 20 anos da estreia de “Força de um Desejo” (1999) e 15 do lançamento de “Cabocla” (2004), segunda versão. Tudo isso para dizer que novelas “verdadeiramente” de época – do enredo ao figurino – e rurais, como as citadas acima, estão fazendo falta às 18h…
Pitanguy
A geração habituada às íntegras das tramas reapresentadas no Canal Viva, e às reprises intermináveis de folhetins longuíssimos como “Caminho das Índias” (2009) e “Senhora do Destino” (2004), estranhou o ritmo imposto pela edição do “Vale a Pena Ver de Novo” ao repeteco de “Cordel Encantado” (2011). E também tem se queixado dos cortes, cirúrgicos, em “Por Amor” (1997). Este colunista, com anos de dedicação à sessão nostalgia, alerta: uma edição bem feita, como a que a Globo vem fazendo no clássico de Manoel Carlos, é capaz de tornar uma novela muito mais interessante do que ela realmente é. “Por Amor”, na íntegra ou (bem) editada, é imperdível. Portanto, prestigiem! Nem Ivo Pitanguy, cirurgião plástico das emergentes da Barra na época da exibição original do folhetim, seria tão preciso quanto os editores até aqui. Não há, ainda, motivo para celeuma.
Ligo
“Cine Holliúdy”. A série de Cláudio Paiva e Márcio Wilson, baseada no longa-metragem de Halder Gomes – também diretor da versão televisiva –, estreou na última terça-feira (7) trazendo um colorido especial à linha de shows da Globo. O canal vinha apostando em narrativas mais densas, como “Assédio”, “Carcereiros” e “Sob Pressão”. Logo, o alívio cômico, propiciado por “Holliúdy”, era extremamente necessário. Além do texto e da direção, com Patrícia Pedrosa no comando artístico, o elenco está afiadíssimo! Destaque para o protagonista Edmilson Filho (Francis), Letícia Colin (Marylin) – sempre se reinventando – e Gustavo Falcão (Jujuba).
Desligo
“Jornal da Globo”. Não é à toa que a tradicionalmente líder vem caindo para a segunda colocação durante a exibição do último noticiário da noite – às vezes, o primeiro da madrugada. Renata Lo Prete é ótima, isso não se discute. Quem a viu debatendo o resultado das Eleições 2018, ao lado de William Bonner, sabe que falo com razão. Mas, ela e a bancada do “JG” não se alinham. Some-se a isso o “cansaço” do telejornal. Até o espelho é previsível: depois da escalada, a interação com repórteres em Brasília, seguida pelas informações sobre economia e, lá no finalzinho, algo sobre esporte e cultura. Esta monotonia é uma convite ao sono.
Fecha a conta
Lembram-se da disputa de “Coração de Estudante” (2002) e “Escrito nas Estrelas” (2010) por uma vaga na Globo Portugal, assunto da coluna no sábado passado (4)? Ao que tudo indica, a autora Elizabeth Jhin seguirá dominando a faixa das 20h50, hoje ocupada por “Espelho da Vida” (2018). Em minha última consulta ao site do canal, na manhã deste domingo (12), “Escrito nas Estrelas” mantinha a liderança, com 50,43% x 49,57% de “Coração de Estudante”. Talvez reflexo, justamente, da temática sobrenatural de “Espelho”…
Duh Secco é "telemaníaco" desde criancinha. Em 2014, criou o blog Vivo no Viva, repercutindo novelas e demais atrações do Canal Viva. Foi contratado pela Globosat no ano seguinte. Integra o time do RD1 desde 2016, nas funções de repórter e colunista. Também está nas redes sociais e no YouTube (@DuhSecco), sempre reverenciando a história da TV e comentando as produções atuais.