Longe das novelas desde quando gravou uma rápida participação em Tempo de Amar, há quase três anos, Regina Duarte não figura há muito tempo entre as atrizes mais disputadas pelos autores e diretores da Globo. A última produção a contar com o talento da atriz veterana em seu elenco fixo foi O Astro, exibida há 9 anos.
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Existem muitas explicações para o sumiço da namoradinha do Brasil da TV. Uma delas é que a própria atriz recusou diversos trabalhos importantes ao longo dos últimos anos, como a Maria do Carmo em Senhora do Destino (2004) e a Virgínia de Três Irmãs (2008) – neste último trabalho, porém, Duarte acabou somente trocando de personagem e permaneceu escalada para a obra.
A atriz já contou que se recusou a interpretar personagens com desvio de caráter para não prejudicar a imagem que tinha diante do público. Com o passar dos anos, entretanto, ela foi percebendo que as vilãs também tinham muito a ensinar e faziam o público questionar e refletir os seus próprios valores.
A mãe de Gabriela Duarte também admitiu recorrer a privilégios que lhe foram concedidos por ser uma das maiores estrelas da emissora, como por exemplo gravar apenas três dias por semana. Essa flexibilidade irritou diretores de novelas, já que as gravações sempre aconteceram em ritmo industrial, o que fez a atriz ganhar fama de chata nos bastidores.
Nos dias atuais, a ausência de Regina nas artes se dá também por um fator bem pessoal: ela é de direita, conservadora e foi uma das maiores apoiadoras da campanha do presidente Jair Bolsonaro. Nos últimos dias, a veterana ficou muito próxima de assumir a Secretaria Especial da Cultura, em substituição a Roberto Alvim, exonerado do cargo após copiar frases do nazista Joseph Goebbels em pronunciamento oficial na internet.
Diversos atores e produtores de novelas reagiram com duras críticas e ironia à aproximação da atriz com Bolsonaro. João Ximenes Braga, parceiro de Gilberto Braga e Ricardo Linhares em Babilônia (2015) e autor principal de Lado a Lado (2012), afirmou que é impossível defender a ideia de que há espaço para dialogar com o fascismo, em resposta a uma declaração de Paula Lavigne ao Estadão, em que dizia que no governo a global pode colaborar para que não haja um desmonte total da Cultura no Brasil.
Alessandro Marson, autor de uma das próximas novelas das 18h da Globo, Nos Tempos do Imperador, reagiu com ironia à possibilidade de Regina ter como patrão o Ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio, indiciado pela Polícia Federal por desvio de recursos por meio de candidaturas laranjas nas eleições. “Raquel Acioli ia gritar como louca. ‘Sangue de Jesus tem poder, Maria de Fátima!'”, escreveu Marson em uma rede social, citando a personagem de Regina em Vale Tudo (1988).
Criador dos filmes Bacurau (2019) e Aquarius (2016), Kleber Mendonça Filho também reagiu com ironia ao comentar a notícia. “O caos reina”, escreveu. A diretora Maria de Médicis compartilhou posts irônicos ao convite, mas não chegou a fazer nenhum comentário direto.
Vários atores também se manifestaram. Mariana Lima afirmou não entender o posicionamento de Regina ao se alinhar a um governo ultraconservador. “Não entendo você estar do lado daqueles que estão fazendo de tudo para acabar com a arte, a imprensa, o pensamento, a universidade pública, as conquistas democráticas, as instituições democráticas, os direitos humanos, a nossa liberdade de expressão”, escreveu.
Já José de Abreu afirmou que o nome da colega de emissora é “ideal para um governo nazista, homofóbico e miliciano”.
Daniel Ribeiro cobre televisão desde 2010. No RD1, ao longo de três passagens, já foi repórter e colunista. Especializado em fotografia, retorna ao site para assinar uma coluna que virou referência enquanto esteve à frente, a Curto-Circuito. Pode ser encontrado no Twitter através do @danielmiede ou no [email protected].