Com 25 anos de carreira, Carolina Kasting está vivendo mais um momento de recomeço. A atriz, que está de volta às novelas brasileiras após uma breve passagem por Portugal, ganhou um papel escrito especialmente para ela em Salve-se Quem Puder, que estreou na semana passada na Globo. Carol agora encara um personagem dramático na trama de Daniel Ortiz.
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Aos 44 anos, Kasting enfrenta também o desafio da maturidade: ela é mãe da personagem de Vitória Strada, de 23 anos. Na vida real, a intérprete da Kyra nasceu em 1996, o mesmo ano em que a colega veterana começou a atuar na televisão. Para Carolina, no entanto, a discussão sobre a diferença de idade entre as duas vai muito além da questão biológica.
Em entrevista exclusiva ao RD1, a atriz também comentou sobre o retrocesso cultural que o país vem enfrentando. Para ela, “a cultura e a educação serão sempre os primeiros a serem bombardeados por esses governos, porque fazem as pessoas criarem pensamentos próprios”.
Confira o bate-papo na íntegra:
RD1 – Carolina, você está de volta às novelas da Globo depois de cinco anos. Como aconteceu o convite para interpretar a Agnes?
Carolina Kasting – O convite para viver Agnes partiu do Daniel Ortiz que acompanhou de perto a novela que protagonizei em Portugal. Ainda não tínhamos trabalhado juntos e ele escreveu a Agnes pensando em mim. Tem sido um prazer dar vida a ela pela oportunidade de mostrar que mesmo na tragédia podemos ter forças para manter nossos valores éticos e humanos.
RD1 – Apesar da história ser carregada na comédia, a sua personagem traz um drama, que é não conseguir se conformar com a “morte” da Kyra. Como foi a sua preparação? E o que podemos esperar da Agnes?
Carolina Kasting – Sim, Salve-se Quem Puder é uma comédia maravilhosa e minha personagem é um ponto trágico desta trama. Apesar de não conseguir superar a morte do marido, ela se mantém doce e leve, valoriza a ética e a relação de diálogo que tem com os filhos. Agnes é uma mulher batalhadora, bem-sucedida profissionalmente, uma mãe dedicada, acho que o público vai torcer muito para que ela seja feliz.
RD1 – A sua última novela das 19h foi há 17 anos, na ocasião de Kubanacan. A comédia rasgada do horário é praticamente uma novidade na sua carreira, onde novelas e minisséries de época se destacam. Como está sendo embarcar nesta aventura?
Carolina Kasting – Em 2008, na temporada de Malhação, fiz uma comédia romântica deliciosa como Beatrice, adoro fazer comédia. Fazer Salve-se Quem Puder está sendo maravilhoso, o texto de Daniel Ortiz é genial, com uma trama rica e de muita qualidade, com muita coisa ainda por acontecer. E tem sido um prazer contracenar com atores excelentes e ser dirigida pelo experiente Fred Mayrink e equipe.
RD1 – Acompanhamos a repercussão da estreia da trama nas redes sociais e muita gente se perguntou: a Carolina Kasting tem idade para ser mãe da Vitória Strada? Essa foi uma questão para você?
Carolina Kasting – Essa questão surgiu bem antes da nossa estreia nas redes sociais. É uma excelente questão para refletirmos sobre o paradigma da mulher madura. Biologicamente seria possível, mas esta não é a questão, a questão é que aparento ter menos idade porque não estou presa a padrões.
Acho que a beleza e a jovialidade são transmitidas de dentro para fora e não o contrário. A maneira como eu me vejo é a maneira como serei vista, por isso falo tanto em autoestima e empoderamento. Autoestima não é quando você se olha no espelho e se acha o máximo, é quando você aprende a conviver com as suas dificuldades e qualidades. O respeito e os cuidados com você também são importantes, como se alimentar bem, fazer atividade física, não conviver com pessoas tóxicas e cuidar da sua saúde mental. Tudo isso faz bem. Não sou uma atriz de quarenta e quatro anos, sou uma atriz com uma trajetória de vinte e cinco anos na televisão.
RD1 – Em 2018, você foi para Portugal para gravar a novela Valor da Vida, do canal TVI. Como foi essa experiência? O público de lá certamente a reconheceu por Terra Nostra…
Carolina Kasting – Foi uma experiência incrível. O público português cresceu vendo as novelas brasileiras e tem muita admiração pelos atores e profissionais brasileiros. Colhi o reconhecimento pelos trabalhos que fiz na Globo e também pela protagonista Camilla, que era uma mocinha e uma vilã ao mesmo tempo. Foi um trabalho incrível, muito bem escrito pela Maria João Costa e dirigido pelo Sergio Graciano e Manuel Pureza.
RD1 – Quais são as diferenças de gravar uma novela brasileira e uma portuguesa?
Carolina Kasting – Cada país tem a sua cultura e as novelas refletem a cultura de um povo, com suas referências e desejos. A telenovela portuguesa está conquistando um reconhecimento mais recentemente do que a brasileira que é a melhor do mundo. Nós produzimos teledramaturgia de qualidade há muitos anos, não à toa a admiração que temos dos países de língua portuguesa. Na verdade, exportamos nossas novelas para o mundo todo.
RD1 – Você é uma atriz que oscila muito bem em personagens de mocinhas e vilãs. Qual gosta mais de interpretar?
Carolina Kasting – Costumo dizer que gosto de interpretar personagens bem escritas, sejam mocinhas ou vilãs. Amo a minha profissão.
RD1 – De 1996, quando fez sua estreia como atriz na novela Anjo de Mim, até Amor à Vida, em 2013, você praticamente trabalhou todos os anos na TV. De um tempo para cá, você deixou de ter contrato fixo com a Globo. Em algum momento você se sentiu desprestigiada?
Carolina Kasting – Deixar de ter contrato fixo com uma emissora é uma questão contratual, não parei de trabalhar e de produzir, pelo contrário, hoje sou uma artista múltipla que produz seus próprios trabalhos. Trabalhar em uma emissora com credibilidade como a Globo será sempre um prazer, assim como foi trabalhar em Portugal. O prestígio do meu trabalho está no meu trabalho, que farei sempre com a máxima qualidade possível, e meu público sabe disso. O público sabe o que esperar de mim.
RD1 – É mais difícil ser artista num momento de tanto retrocesso cultural que nosso país está vivendo?
Carolina Kasting – Arte é resistência, todo artista sabe disso. Em momentos como esse, toda forma de arte, se faz ainda mais necessária, porque o atentado à liberdade de expressão é um crime contra a Humanidade. Toda arte é um ato político, por isso os artistas são atacados nos governos autoritários. A cultura e a educação serão sempre os primeiros a serem bombardeados por esses governos, porque fazem as pessoas criarem pensamentos próprios e a consciência é a arma mais poderosa que um povo pode ter.
RD1 – Qual personagem você ainda sonha em fazer na TV?
Carolina Kasting – A próxima.
Daniel Ribeiro cobre televisão desde 2010. No RD1, ao longo de três passagens, já foi repórter e colunista. Especializado em fotografia, retorna ao site para assinar uma coluna que virou referência enquanto esteve à frente, a Curto-Circuito. Pode ser encontrado no Twitter através do @danielmiede ou no [email protected].