Felipe Antoniazzi Prior, do BBB 2020, foi acusado formalmente de violentar três mulheres entre os anos de 2014 e 2018. Duas o acusam da violência sexual e uma de tentativa de estupro. Os relatos das vítimas são fortes, com detalhes chocantes dos três episódios. As mulheres citadas tiveram seus nomes devidamente protegidos por pseudônimos.
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A revista Marie Claire teve acesso exclusivo ao documento com os relatos. Na madrugada de 9 de agosto de 2014, Themis, na época com 21 anos, esteve em uma festa que comemorava os jogos universitários da InterFAU, faculdades de arquitetura e urbanismo de São Paulo. No fim do evento, ela e uma amiga, Atena, aceitaram a carona oferecida por Felipe Antoniazzi Prior, na época aluno do curso de arquitetura da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Segundo Themis, o ex-participante do reality show da Globo deixou Atena em casa e minutos depois parou o carro na rua e desligou o motor. Em seguida, se jogou sobre Themis e começou a beijá-la ao mesmo tempo em que passava a mão pelo seu corpo. Logo depois, Felipe Prior arrastou Themis para o banco de trás do carro.
Em depoimento concedido às suas advogadas e presente na ação protocolada no Departamento de Inquéritos do Fórum Central Criminal em 17 de março de 2020 pelas advogadas Maira Pinheiro e Juliana de Almeida Valente, Themis disse que Prior tirou a própria roupa e abriu a calça, deixando seu genital para fora.
Ela disse que não conseguiu oferecer resistência física por causa da embriaguez, mas disse “não” a ele diversas vezes, deixando claro que não queria a relação. Prior reagiu aos gritos. “Para de ser fresca, no fundo você quer, não é hora de se fazer de difícil”, reclamou, e mesmo com as negativas de Themis, insistiu: “Quer sim”. O ex-BBB, então, teria estuprado Themis.
A mulher contou que a violência causou uma laceração em seu lábio vaginal esquerdo, o que deixou sua roupa, o banco do carro e a roupa de Prior ensanguentados. Por causa da dor, Themis começou a chorar e, para ela, isso teria feito o rapaz parar. O famoso perguntou se a vítima queria ser levada para um hospital, mas ao contrário do proposto, pediu para que fosse deixada em sua casa.
Quando foi deixada por Felipe, Themis foi para o hospital acompanhada pela mãe, que pediu para ver o ferimento e notou “um corte de cerca de três dedos de comprimento na região genital, profundo o suficiente para chegar até o músculo”, como cita o documento.
Três médicas atenderam Themis, que perguntada sobre o responsável pelo estupro, respondeu que havia sido um namorado. Em casa, a estudante ficou uma semana na cama, precisou de ajudar para andar e ir ao banheiro. Em tentativas de começar um tratamento psicoterápico, teve dificuldades de abordar o estupro. Um ano depois, Themis teve crises de pânico, precisou de ajuda para ir e voltar do trabalho, tinha crises de choro na rua e não conseguia sair do lugar. Em vários desses momentos, Themis lembrava do estupro.
“Tudo para mim se resume a uma grande agonia no peito”, confessou ela para a revista. “Simplesmente coloquei a violência que sofri debaixo do tapete por seis anos. Achei que não lidando com ela, sumiria em mim”, completou. A violência interrompeu a vida da jovem. “Atrasei dois anos da minha faculdade por causa do estupro. Tranquei todas as matérias do curso porque vê-lo todos dias era torturante. Ele é um cara impulsivo, agressivo”, definiu.
“O que mostrou no BBB não chega perto do que é na vida real. Tenho medo do que pode fazer, mesmo diante de uma acusação formal, com advogada e tudo. Mas não posso mais guardar esse mal para mim”, desabafou.
Durante os jogos InterFAU de 2016, no município de Biritiba Mirim, Felipe Prior teria praticado o crime de tentativa de estupro contra outra estudante, Freya, na época com 20 anos. Em seu depoimento, a jovem disse que o rapaz se aproveitou do fato de estar bêbada e a levou para sua barraca no camping dos jogos após uma festa.
Dentro da barraca, as tentativas de estupro aconteceram: Freya revelou que o arquiteto tentou penetrá-la no ânus duas vezes e, por não ter conseguido, Felipe Prior usou da força para persuadi-la. Para ela, o estupro não aconteceu porque o empurrou usando os braços e pernas e conseguiu escapar.
Freya disse no depoimento para as advogadas que assim que percebeu que Felipe estava sem camisinha, se recusou a continuar, mas ele insistiu usando sua força. “Quando começou o BBB, vi um tuíte de uma garota que dizia que o Felipe tinha fama de assediador no Mackenzie. Foi quando entendi que a violência que sofri não era única. Mandei uma mensagem para garota e disse a ela que se aparecessem mais vítimas, me manifestaria. Dessa forma encontrei Themis, que me contou que além do estupro, tinha um boletim médico comprovando a laceração em seu genital”, explicou para a Marie Claire.
Nos jogos das faculdades em 2018, realizados em Itapetininga, Felipe praticou o segundo estupro denunciado. Ísis, na época com 21 anos, foi convidada por ele para a barraca no camping. A relação sexual, no início, foi consentida. Mas, quando as agressões começaram, a estudante pediu para ele parar. Segundo o documento, Prior deu tapas no rosto e no corpo de Ísis, mesmo após pedidos da estudante para que ele parasse pois a estava machucando. Mesmo chorando, ele disse que não deixaria ela sair.
De acordo com Ísis, durante o ato o empresário a colocou de barriga para baixo e se pôs sobre seu corpo, de forma que ficasse imobilizada no chão. Após o estupro, a empurrou para o chão, para que não saísse do local. Ela só conseguiu sair quando Felipe Prior dormiu. Testemunhas ouviram gritos durante a madrugada de uma mulher: “Uma voz feminina chorando. A voz dizia: ‘Para, tá me machucando’ e continuava chorando”. As testemunhas sustentaram a versão de Isis no documento.
“As meninas que moram comigo gostam de assistir BBB. Imagina ter que ver a cara dele todo dia? Mas ao mesmo tempo foi importante para que eu pensasse no passado. Eu achava que ia superar através do esquecimento. E vê-lo na TV me despertou muitos gatilhos e medo de me relacionar com homens”, afirmou Ísis para a reportagem.
A rotina perversa de Felipe levou a InterFAU a tomar uma atitude e sua comissão organizadora decidiu que estava proibida a participação do futuro participante do BBB de qualquer evento relacionado aos jogos. Relatos de assédio praticados por Felipe foram revelados durante a reunião.
Até sua entrada no BBB 2020, não existia uma queixa. As denúncias começaram nas redes sociais em janeiro, dando a entender que Felipe Prior teria cometido os atos durante a faculdade, especialmente contra as mulheres.
Procurada pela revista, a comunicação da Globo informou: “A Globo é veementemente contra qualquer tipo de violência, como se percebe diariamente em seus programas jornalísticos e mesmo nas obras do entretenimento, e entende que cabe às autoridades a apuração rigorosa de denúncias como estas”.
A advogada criminalista Maira Pinheiro, advogada de Themis, Freya e Ísis, explicou como chegou aos relatos de estupro: “Esse trabalho começou no final de janeiro, a partir da conversa com a primeira vítima. Conforme tivemos informações sobre a existência de outras, percebemos que, para que os fatos fossem relatados com a devida profundidade e complexidade, teríamos que fazer uma investigação defensiva abrangente. E assim chegamos à segunda e à terceira vítimas e às demais testemunhas. Tivemos inclusive notícia de pelo menos uma outra, que acabou preferindo não depor”.
No Brasil, o crime de estupro consta no artigo 213 do Código Penal e consiste em: constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso. O estupro é tipificado como crime hediondo e é válido mediante violência real (agressão) ou presumida (praticado contra menores de 14 anos, alienados mentais ou pessoas que não possam oferecer resistência). Hoje, a pena é de 6 a 10 anos de reclusão, aumentado para 8 a 12 anos quando há lesão corporal da vítima.
Felipe Prior foi procurado pela reportagem, mas após inúmeros pedidos para contato, não deu uma declaração sobre as acusações das três mulheres. As advogadas pediram medidas cautelares para que o ex-brother não tenha nenhum tipo de contato com as vítimas ou testemunhas.
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