Após 15 anos fazendo parte do jornalismo da Record, Adriana Araújo deixou a emissora, meses depois da sua saída do Jornal da Record, coincidentemente, após críticas feitas ao posicionamento da casa ao Governo Bolsonaro.
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Em sua despedida, a jornalista emitiu um longo texto de desabafo aos colegas e seguidores, destacando que sempre ficou do lado da ciência.
“O que levarei comigo. Esse é um texto de despedida e também uma conversa com a minha memória. Quinze anos de trabalho intenso e, agora que fecho um ciclo, me questiono: do que vou me lembrar?”, iniciou Adriana.
“Poderia escrever sobre momentos bons e ruins. Alegrias e dores. Mas hoje quero falar apenas de aprendizado. Vou me lembrar de sentar na bancada de um telejornal pela primeira vez em 2006, aos 33 anos”, relembrou.
“E de ser acolhida por um mestre. Valdir Zwetsch, meu primeiro chefe no Jornal da Record, jornalista experiente e humano, que aprovou meu piloto na bancada. Graças a ele acreditei que poderia ser âncora de TV. O cara que tem as minhas piores fotos com bobes no cabelo e a minha eterna gratidão”, recordou.
“Sempre vou me lembrar da parceria com Celso Freitas, elegante e sincero, a quem felizmente tive a oportunidade de agradecer em público muitas vezes. Vou me lembrar de implicar com o teleprompter porque queria contar as notícias e não ler as notícias. A birra persiste”, homenageou.
“Vou me lembrar que recebi a confiança de muitos. Mas não de todos. Algumas vezes ouvi: ‘mas você era só uma repórter na TV Globo’. E apenas segui em frente pensando… eles ainda desconhecem a força de um repórter”, declarou.
Na sequência, Adriana Araújo relembrou os maiores plantões que cobriu ao longo da sua carreira:
“Vou me lembrar de todos os plantões ao vivo, quando o país para na frente da TV e nosso trabalho se torna essencial. Foram muitos momentos assim: ataques do PCC (2006), queda do avião da Tam (2007), a morte de Michael Jackson (2009) resgate dos chilenos soterrados (2010), terremoto no Japão (2011), casamento real em Londres (2011), os protestos de junho no Brasil (2013), a morte de Eduardo Campos (2014), o rompimento da barragem de Mariana (2015), impeachment da Dilma (2016), queda do avião da Chapecoense (2016), eleição e posse de Donald Trump (2016/2017), Lula preso e Lula solto (2018/2019), greve dos caminhoneiros (2018), o crime da barragem de Brumadinho (2019), a morte dos amigos Marcelo Rezende (2017) e Gugu (2019) e tantos outros”.
“E não posso falar dos plantões sem agradecer ao Gottino. Um craque que me acompanhou em transmissões de até 10 horas ao vivo, dividindo a responsabilidade de narrar os principais acontecimentos do Brasil e do mundo. Ao lado dele sempre me senti trabalhando com um irmão”, agradeceu.
“Vou me lembrar que sou uma colecionadora de perrengues. De dormir de favor em uma barraca de camping de uma equipe de TV do Peru. De comer peixe frito, doado por voluntários chilenos. De usar os piores banheiros químicos que já vi na vida, no meio do deserto do Atacama”, recordou.
“De dormir 4 horas por noite para registrar a vitória da vida! 33 mineiros, a 700 metros de profundidade, saíram vivos debaixo da terra. E eu vi! E vibrei muito com as famílias. Foi quando aprendi que repórter pode sorrir e pode chorar e isso não diminui nosso trabalho, se houver verdade em nossas lágrimas e risos”, prosseguiu.
A apresentadora citou várias outras pessoas com quem trabalhou e profissionais da equipe de apoio. Por fim, falou sobre a emissora:
“Quero sempre me lembrar que à Record devo gratidão pelas oportunidades. E também que por 15 anos ofereci exatamente o que prometi: trabalho. Foi assim em todos os momentos: na bancada do JR, como correspondente em Nova York ou Londres, nas coberturas especiais, na apresentação do Domingo Espetacular e, por último, como apresentadora e repórter do RRI”.
E enfatizou a sua postura a favor da ciência e contra os posicionamentos do presidente Jair Bolsonaro, que foram, durante vários meses, apoiados pelo jornalismo da Record:
“Sou repórter! Fui repórter do começo ao fim desse ciclo, ao persistir na defesa da notícia, da verdade. E quero me lembrar daqui 20 ou 30 anos que, num dos momentos mais dramáticos da humanidade, me posicionei ao lado da ciência e da vida. E lutei por preservar a dignidade profissional da qual não se pode abrir mão. Vou sempre me lembrar de quem caminhou junto comigo nessa jornada. Felizmente todos eles sabem quem são”.
“Vou me lembrar de conexão. De olhar para a câmera e dizer: “olá, boa noite pra você! De desejar informar a cada um, olho no olho. Vou me lembrar das milhares de mensagens de incentivo que recebi dos telespectadores. E de entender o quão importante é criar um laço de empatia com o público, com verdade e humildade”, disse ainda.
“Levarei comigo pra sempre o carinho e o respeito de vocês”, finalizou Adriana Araújo.
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Redator Publicitário e Gestor de Marcas. Formado em Comunicação Social pela UFRN, escreve desde 2011 sobre o universo televisivo, séries, filmes e novas mídias de forma conectada com as tendências da atualidade.