Estreante nas novelas como o office boy Catatau, em Salve-se Quem Puder, Bernardo de Assis concedeu uma entrevista à coluna de Patrícia Kogut, do jornal O Globo, e falou sobre a retirada das mamas e o orgulho com mais esse passo do seu processo de redesignação sexual.
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O ator transgênero espera agora conseguir concretizar um outro desejo: a remoção do útero e dos ovários.
“O SUS não faz essa cirurgia, que é extremamente cara. Estimo que custa uns R$ 20 mil. É meu sonho. Quem usa testosterona é para sempre. Com essa cirurgia, o nível de hormônios poderia diminuir, eu não precisaria aplicar tantas vezes. É uma melhora de 100% na qualidade de vida”, explicou ele.
Bernardo, que acabou de completar 25 anos, no último dia 13, não esconde a expectativa para o seu novo trabalho, que conta como uma conquista para a comunidade trans.
“O personagem tem uma queda pela Renatinha (Juliana Alves), mas só leva foras. Ainda não sei se existe a chance de ele ser um homem trans. Se for, será incrível. Caso seja cisgênero, vai continuar incrível, porque serei eu ali interpretando. Quando começaram a sair fotos e souberam que eu ia fazer a novela, recebi muitas mensagens, 98% delas de pessoas trans me agradecendo, dizendo que é boa a representação, mesmo não sendo um papel trans. Acho legal abordar outras histórias também e não mostrar só a nossa dor. Que haja cada vez mais atores trans em personagens corriqueiros. Mas vamos continuar militando.”
O rapaz iniciou a sua carreira nas artes em 2015, quando saiu da escola de teatro Casa das Artes de Laranjeiras (CAL) e participou da peça Bird, que se confunde com a sua realidade por retratar a história de uma menina que acorda sem seios e com muitos pelos.
“O espetáculo é totalmente ficcional, mas, quando comecei a ensaiar, fui percebendo como a personagem era muito igual a mim. Gosto de dizer que me reconheci enquanto pessoa através do teatro”, lembrou.
A decisão para passar por uma transição aconteceu quando assistiu a uma palestra de João Nery, primeiro homem transgênero a passar pela cirurgia no Brasil em 1977. A mãe do artista, no entanto, não aceitou a condição do filho.
“Eu faço parte desse mundo infeliz de pessoas trans que são expulsas de casa e não têm contato com a família e os amigos. Perdi tudo. Hoje eu falo disso com tranquilidade, mas já passei por muita coisa. Se fosse há um ou dois anos, eu provavelmente estaria aos prantos.”
“Minha mãe sempre tentava reprimir toda e qualquer expressividade masculina. Quando cortei meu cabelo curtinho e comprei roupas que achava que combinavam com meu gênero, não teve muita conversa. Eu fui fazer um espetáculo em Blumenau e recebi uma mensagem dela dizendo que não era para voltar. Eu nem tinha adotado um nome. Estava devagar, criando forças para contar. Todos dizem que é difícil para os pais, mas ninguém leva em conta as nossas perspectivas. Quando eu tentava falar, chorava, gaguejava e apanhava por causa disso. Meu pai ficou quieto, em cima do muro. Ele já tinha seu lado escolhido. Então, ao deixar o convívio com eles, pude ser quem eu sou”, afirmou.
Longe do convívio dos pais, ele passou a viver como nômade, chegando a morar em uma casa para LGBTs em situação de vulnerabilidade e em casa de amigos, mas foi a sua atuação na série Transviar, em Manaus, exibida pelo Canal Brasil, que viu as coisas mudarem.
Atualmente, Bernardo faz parte Liga Transmasculina Carioca, que nasceu no ano passado, logo depois da morte de João Nery. “Não poderíamos deixar a luta dele morrer. É o primeiro grupo só formado por homens trans do Rio. Recebemos diversos convites para falar em eventos, empresas e escolas”, contou ele que no segundo semestre estreia na série Noturnos, também no Canal Brasil.
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