Longe da TV há 5 anos, desde que dividiu a autoria de Babilônia (2015) com Gilberto Braga e Ricardo Linhares, João Ximenes Braga participou de uma live promovida pela Editora SC Literato no Instagram na última terça-feira (16) e relembrou os bastidores conturbados da trama que enfrentou diversas mudanças no roteiro e se tornou um dos maiores fracassos da dramaturgia da Globo.
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O autor atribuiu o fraco desempenho do folhetim às intervenções feitas por Silvio de Abreu, diretor de dramaturgia da emissora, que na época afastou de si a responsabilidade pelas alterações e afirmou na imprensa que os próprios autores apontaram falhas no roteiro e estavam reformulando a história, sem que o enredo original fosse alterado.
“Babilônia é uma coisa que me dói falar. É público que houve uma interferência a partir da terceira semana, descaracterizou a novela, e a novela que se deu ali depois dessa interferência não foi a que eu gostaria de ter feito, não foi a que eu me propus a fazer, não tinha a espinha dorsal original da novela e isso prejudicou muito”, relatou.
João também lembrou a boa recepção de Babilônia diante da crítica especializada e de parte do público antes das primeiras mudanças. “Eu lembro que a audiência estava baixa mas tinha um prestígio de crítica e repercussão nas redes sociais. Avenida Brasil não tinha no início esse prestígio que Babilônia tinha ali naquelas primeiras semanas. Mas a empresa, que é dona do produto, achou por bem intervir, mudar os rumos da novela e eu não fiquei satisfeito com o resultado final”, lamentou.
Diferente de Babilônia, o autor relembrou com orgulho o seu primeiro trabalho como autor principal na Globo, Lado a Lado, em parceria com Claudia Lage. A novela abordou o período pós-Abolição da Escravatura no Brasil e, apesar da audiência pouco expressiva, derrotou Avenida Brasil na premiação do Emmy Internacional como Melhor Novela de 2012.
“As coisas que a gente conseguiu fazer ali de representatividade, em uma época que ainda existia menos insistência sobre esse ponto, mas a gente conseguiu avançar bastante. Era uma novela que misturava diversos eventos históricos reais, como a Revolta da Vacina, Revolta da Chibata, e eu tenho muito orgulho de ter feito”, comemorou.
Minissérie sobre Ângela Diniz
João Ximenes Braga também revelou detalhes de suas pesquisas para uma nova minissérie do Globoplay, sobre o assassinato de Ângela Diniz, socialite que no ano de 1976 foi vítima de feminicídio – embora este termo ainda não fosse reconhecido como qualificação do crime hediondo pela Justiça Brasileira –, e desencadeou protestos feministas pelo país após a sentença branda dada ao réu em seu primeiro julgamento.
“A imprensa, no início, ficou muito contra a Ângela, demonizando aquela mulher, que era uma mulher muito livre sexualmente, e no primeiro julgamento, ele [Doca Street, o companheiro] não foi exatamente absolvido mas foi posto em liberdade. […] A partir daí, teve uma revolta popular muito grande e a situação inverteu, começaram a pressionar pela não impunidade do feminicida, e ao fim deste processo, o Doca foi condenado”, resumiu.
Com direção de Bruno Barreto, a minissérie terá 6 episódios e, a princípio, será produzida com exclusividade para o serviço de streaming da Globo, podendo ser exibida na TV aberta no futuro.
Daniel Ribeiro cobre televisão desde 2010. No RD1, ao longo de três passagens, já foi repórter e colunista. Especializado em fotografia, retorna ao site para assinar uma coluna que virou referência enquanto esteve à frente, a Curto-Circuito. Pode ser encontrado no Twitter através do @danielmiede ou no [email protected].