Caetano Veloso lembrou um dos episódios mais difíceis da sua vida: a época em que foi preso pela ditadura militar, em 1968. Entre as lembranças reveladas no Conversa com Bial, o famoso confessou que não conseguia chorar e nem ter excitação sexual durante a solitária.
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“Eu não chorava e não tinha nenhuma excitação sexual. Mesmo que eu buscasse, era impossível“, admitiu o cantor a Pedro Bial. Somente quando foi transferido para outro quartel, a libido voltou.
“No terceiro estágio da prisão, fui transferido para os paraquedistas, e lá eu ficava sozinho em uma cela que tinha uma cama e um banheiro com chuveiro“, detalhou. “Era como se fosse uma suíte. E com esse relativo bem estar, quando a Dedé [Gadelha] me visitava, foi que renasceu o desejo sexual“, acrescentou.
Caetano adquiriu superstições no tempo em que esteve preso, como ficar sem se masturbar. “Eu me proibia terminantemente a masturbação e obedeci até sair. Seria a perda da energia que resultaria em uma possível soltura“, explicou.
Outras envolviam Hey Jude, canção composta por Paul McCartney, e até baratas. “Me lembro nitidamente que Hey Jude era a canção positiva; quando tocava através do rádio de um dos soldados, era sinal de que ia melhorar a minha situação. Já a aparição de barata, que até hoje eu tenho medo, era o pior sinal possível“, manifestou.
Mais uma canção marcou a vida de Veloso na prisão: Onde o Céu Azul é Mais Azul, de Francisco Alves. “Só de falar o nome dela eu já fico com vontade de chorar e com pena da canção, porque era muito bonita“, declarou. “Uma coisa comovente, não assustadora ou ameaçadora. Tive pena de não ter cantado a canção todos esses anos, e de não ter coragem de cantar agora“, desabafou.
O artista foi preso em 27 de dezembro de 1968 e solto em 19 de fevereiro de 1969, mesma época em que Gilberto Gil ganhou a liberdade. Logo depois veio o exílio na Inglaterra: “Parecia que nunca mais eu ia sair dali [da prisão] e que eu nunca tinha estado em outro lugar. Teve momentos na primeira fase que parecia que eu nunca tinha vivido o que eu vivi fora, e que a minha vida era aquilo e o resto tinha sido sonhos e fantasias que eu tinha tido“.
Paulo Carvalho acompanha o mundo da TV desde 2009. Radialista formado e jornalista por profissão, há cinco anos escreve para sites. Está no RD1 como repórter e é especialista em Audiências da TV e TV aberta. Pode ser encontrado nas redes sociais no @pcsilvaTV ou pelo email [email protected].