Um gafanhoto saltitante! Essa foi a ideia de Roberto Gomez Bolaños (1929-2014) ao nomear sua personagem como “El Chapulín Colorado” inspirado em uma espécie de gafanhoto vermelho que existe no México conhecida como “chapulín” (vocábulo originário do dialeto Asteca que significa grilo ou gafanhoto). Desastradamente desastrado, a criação de Bolaños, que dava vida à personagem, deixa uma dúvida: “Chapulín” era um anti-herói ou um herói desastrado?
Original do México, o seriado teve sua exibição pela Televisa entre 1° de setembro de 1970 e 14 de outubro de 1979. Após uma pausa, retornou às telinhas mexicanas entre 24 de agosto de 1980 até 28 de fevereiro de 1992. Inicialmente, a ideia de Bolaños era que o herói ganhasse as telonas dos cinemas, mas por causa das características fortes, a atração virou um quadro de seu programa.
O seriado era uma paródia dos heróis norte-americanos e fazia constantes críticas às relações da América Latina com o capitalismo selvagem dos EUA. Chapolin chegou ao Brasil em 1984 e ganhou muitos fãs ao longo de décadas de exibição pela telinha do SBT.
“El Chapúlin Colorado” no México: como surgiu?
Roteirista cômico desde a década de 1960, Roberto Bolaños escrevia esquetes para diversos comediantes no México. Diante disso, o produtor Sergio Peña ofereceu uma oportunidade no programa “Viruta e Capulina”, protagonizado por uma dupla de humoristas mexicanos que dava nome à atração. Bolaños criou quadros que fariam intervenções no humorístico.
Em 1970, a Televisión Independiente de México aumentou o espaço de Bolaños que ganhou seu programa na grade de programação da emissora. Criou-se o “Chesperito”, exibido às segundas, em horário nobre, com diversas esquetes de humor. O nome da atração era baseado no apelido que Roberto Bolaños tinha por ser considerado uma mistura do escritor “Shakespeare” com um “pequeno príncipe”.
Uma das personagens criadas nesse programa foi um herói atrapalhado, com um uniforme vermelho e entradas quase nada triunfais. Nascia “El Chapulín Colorado”. “Chapulín” logo ganhou a aceitação do público e ofuscou os demais quadros de humor do programa, afinal, foi criado para satirizar os heróis americanos e seus superpoderes. Tal fama despertou o interesse da DC Comics do México, em 1975.
“Chapulín” foi ficando cada vez mais famoso na América por lidar com notícias e questões políticas de forma bem humorada e nada factuais. Suas piadas não tinha prazo de validade, o que facilitou sua exibição ao longo dos anos pelo mundo.
O visual: como foi desenvolvido?
O uniforme característico e conhecido mundialmente teve suas curiosidades durante a confecção. É que só havia quatro cores de tecidos na emissora: azul, preto, branco e vermelho. Roberto descartou o preto por achar que representaria “luto”. O branco, segundo Bolaños, não ficaria bem para a TV. Já o azul ficaria ruim durante as gravações em Chromakey. Sobrou o vermelho. Surgiu o “Colorado”, então, no nome da personagem que quase foi “El Chapulín Justiciero”.
Embora seja normal que os heróis tenham somente a primeira letra de seus nomes estampados em seus uniformes, “Chapulín” trazia um enorme “CH” dentro de um coração amarelo. Os dois caracteres, no entanto, significam apenas uma letra ao serem pronunciadas como “che”. Curiosamente, todas as personagens de Roberto Bolaños começam com “CH”.
O começo do seriado
“El Chapulín Colorado” não teve um início fácil na televisão. Em seus primeiros episódios, o herói teve que superar a falta de estrutura da emissora local que exibia o programa. No entanto, alguns nomes já trabalhavam com Roberto Bolaños desde 1968, como Ramón Valdés e Maria Antonieta de las Nieves. A atração tinha cerca de 10 minutos dentro do programa “Chesperito” que deu oportunidade para outros nomes que surgiam, como Florinda Meza e Carlos Villagrán.
Em um programa solo, o patriota “El Chapulín Colorado” estreou na TV em 1970, ano da Copa do Mundo de futebol realizada no México e, logo após as Olimpíadas de 1968, sediadas em território mexicano que foi palco de diversas revoltas estudantis contra a Guerra Fria.
Com o sucesso do herói na América Latina, o “Chapulín” passou a ser chamado de “polegar vermelho” mediante a urgência das pessoas ao chamar um defensor. No seriado, vale destacar, “Chapulín” era uma crítica aos ‘países industrializados’ que tinham sua hegemonia sobre os ‘países subdesenvolvidos’. Para ressaltar isso, Chesperito criou o “Super Sam” (“Mr. Sam”, no Brasil”), interpretado por Ramon Valdés que fazia menção ao “Tio Sam”, apelido dos Estados Unidos, e ao “Superman”. Com uniforme azul e cartola contendo as cores da bandeira norte-americana, ‘Super Sam’ não era chamado por ninguém, mas fazia intromissões dentro das ações de “Chapulín”.
Alguns episódios retrataram críticas diretas e referências históricas ao imperialismo norte-americano no período da Guerra Fria como “De los metiches líbranos señor” (“Livrai-nos dos metidos, Senhor”, no Brasil) e “Todos caben en un cuartito, sabiéndolos acomodar” (“Hospedaria sem estrelas”, no Brasil) que retrata as relações entre norte-americanos e latino-americanos nesse período.
Exibição na América Latina
“Chapulín” estreou, em 1971, na programação da Televisión Independiente de México, com aceitação do público infantil. O sucesso gerou interesse de países latino-americanos como Guatemala e Equador e outros países tiveram interesse.
Com a fusão da Televisión Independiente de México com o Telesistema Mexicano, em 1973, que criaria a Televisión Via Satélite, chamada de Televisa, “Chapulín” fez muito sucesso e foi vendido para o exterior. Líder de audiência na América Latina de 1973 até 1979, “El Chapulín Colorado” registrava 60% de participação em alguns países, o que difundiu os trejeitos e bordões da personagem por vários países.
Elenco e personagens
Roberto Bolaños era o único protagonista fixo da atração. Outras personagens apareciam com frequência como os vilões: Tripa Seca, Quase Nada, Chinesino, Rasga Bucho entre outros.
No decorrer dos anos, o elenco do seriado teve pouca mudança. Nomes como Maria Antonieta de lãs Nieves, Angelines Fernández, Horádio Gomez Bolaños e Raul Padilla marcaram o seriado e participaram de “El Chavo Del Ocho” (“Chaves”, no Brasil), que em breve trazemos aqui na coluna (Relembre AQUI os 10 programas infantis das décadas de 1980 e 1990).
Exceto Chesperito, os demais atores do elenco tinham personagens diferentes a cada episódio. As pessoas ‘indefesas’ que se viam diante do perigo, evocavam o herói com o clamor: “Oh! E agora quem poderá me defender?” e surgia o ‘polegar vermelho’, claro, tropeçando em alguma coisa pelo caminho, mas respondendo ao apelo: “Eu!”. Em muitos casos, Florinda Meza era a donzela em perigo que tinha Carlos Villagrán como seu marido.
Embora altruísta, a personagem era ridicularizado pelos inimigos. “Chapulín” aparecia em lugares bem exóticos e em várias épocas como no Velho Oeste, Idade Média, Renascimento (século XV) e até no espaço sideral. Confira algumas das personagens feitas pelos atores no seriado:
Roberto Gómez Bolaños: Chaves; Chapolin; Doutor Chapatín; Beterraba.
Carlos Villagrán: Vários personagens; Carlos; Quase Nada; Chinesinho; Fura-Tripa; Gorila; Homem Nuclear.
Ramón Valdés: Vários personagens; Tripa Seca, Peterete, Pirata Alma Negra, Super Sam; Racha Cuca; Rasga Bucho; Mão Negra.
Florinda Meza: Vários personagens; enfermeira, Rosa, a rumorosa; Garota Nova Rica; Diaba (na festa à fantasia).
Rubén Aguirre: Vários personagens; Poucas Trancas; Porca-Solta; Matadouro.
Edgar Vivar: Vários personagens; Botina; Severiano Mirón; Garrafa; Pança Louca; Almôndega.
Angelines Fernández: Vários personagens
María Antonieta de las Nieves: Vários personagens; Bruxa Baratuxa; Mitomaníaco; Fã do Chapolin.
Horacio Gómez Bolaños: Vários personagens; Lagoa Seca.
Raúl Padilla: Vários personagens
Ricardo de Pascual: Vários personagens
O “Chapolin Colorado” no Brasil
Existe uma discussão sobre qual foi a verdadeira estreia de “Chapolin Colorado” no Brasil. Uns dizem que foi dentro do “Programa do Bozo”, às 12 horas, em agosto de 1984. No entanto, o SBT afirma que o seriado estreou em 24 de agosto de 1984, dentro do “TV Pow”, apresentado por Sérgio Mallandro e Mara Maravilha.
O primeiro episódio de “Chapolin” no Brasil foi com Ramón Valdés no papel de um conde que rouba selos para sua coleção em “O Cleptomaníaco”. O seriado ganhou aceitação do público e virou um fenômeno de audiência. Em 1990, o SBT comprou cerca de 60 novos episódios e passou a exibi-los às 21 horas.
Na onda do sucesso, a Editora Globo lançou a revista em quadrinhos do seriado “Chaves” e do herói “Chapolim”, escrito com a letra eme. Já em 1993, a abertura original foi substituída por uma feita pelo canal de Silvio Santos, que passou a exibir “Chapolin” quatro vezes ao dia e em vários horários.
Curiosidades “Chapolínicas”
Até o programa “Os Trapalhões” (TV Globo 1977 – 1995) homenageou a personagem de Bolaños em um episódio no quadro “Trapa Hotel”. Na esquete, Mussum aparecia com uma roupa semelhante à usada por “Chapolin”, mas preta, segurando uma marreta de obra e se chamava “Chapadon Preto”. A Tectoy, empresa desenvolvedora de jogos, criou “Chapolim x Drácula” para o console Master System que foi uma adaptação do game “Ghost House”.
Em 2013, o SBT resolveu tirar do barril os “episódios perdidos”, que ficaram anos sem exibição por causa de alguns danos no áudio ou na imagem. Por ser muito antigo, tanto “Chaves” quanto “Chapolin” eram gravados de maneira rudimentar e com tecnologia arcaica para os dias de hoje. De acordo com a emissora, parte do material foi perdida por causa das condições dos rolos de fitas que se deterioraram com o tempo e não tinham condições de exibição na TV. Ocorre que o áudio e vídeo eram gravados separadamente e editados juntos. Por conta das décadas, alguns tiveram perda da qualidade.
Desde 2017, “Chapolin” entrou para a Netflix e, além do Brasil, passa na Argentina, Colômbia, Costa Rica, Estados Unidos e Panamá. Em 2018, o canal Multishow do Grupo Globo anunciou a compra dos direitos de exibição com episódios inéditos. A previsão é que “Chapolin” entre na grade no próximo dia 21 de maio. O SBT aproveitou a oportunidade para dar uma alfinetada na concorrente pelas redes sociais.
A turma do Chaves tá de olho… pic.twitter.com/NURfcuwvSi
— SBT (@SBTonline) 30 de janeiro de 2018
Até o criador de “Os Simpsons”, Matt Groening, rendeu-se ao sucesso do seriado e afirmou que sua personagem Bumbleebee Man nasceu depois que ele assistiu a “Chapolin” na TV. A Marvel Comics também disse que a personagem Red Locust foi uma homenagem ao “Chapolin” de Bolaños.
O fim do Chapolin…
Com a idade avançada, Roberto Gomez Bolaños não aguentava mais pular e fazer as coreografias que eram necessárias para compor “Chapolin”. Foi decidido, então, pelo término da série após nove anos, em 1979. O último capítulo do seriado foi marcado pela nostalgia em que Rubén Aguirre, Florinda Meza e Edgard Vivar conversavam sobre “Chapolin” com Chesperito. Ao final, Roberto Bolaños agradece à equipe e ao público dizendo a última frase do heróis: “Não contavam com a minha astúcia!”. Após isso, a equipe começa a desmontar o cenário.
Nos anos 1980, “Chapolin” voltaria dentro do programa do “Chesperito”, conhecido no Brasil como “Clube do Chaves”, mas acabou definitivamente em 1992 após desavenças entre Roberto Bolaños e Carlos Villagrán.
O desenho Animado
Em 2015, nosso herói atrapalhado retornou, mas como desenho animado! As redes sociais de “Chaves” exibiram um teaser em que uma sobra da personagem vestia seu uniforme vermelho, mas sem revelar o rosto (mistério), mas mostrava as letras “CH”.
Seguindo a linha do desenho animado do “Chaves”, “Chapolin” teve seu primeiro episódio chamado de “O Anel Perdido” em que um homem perde um anel e culpa a empregada que, por sua vez, diz: “Oh, e agora quem poderá me defender?”.
Confira!
Depois disso tudo, qual sua conclusão: “El Chapulín Colorado” é um herói desastrado ou um anti-herói? Deixe sua opinião nos comentários.
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Reuber Diirr é jornalista formado pela Universidade Federal do Espírito Santo com especialidade no entretenimento de TV. Atuante em sites sobre Televisão, Reuber já passou por emissoras como a Record News Espírito Santo e a TV Gazeta, afiliada da Globo no ES. Dentre suas várias matérias, em que entrevista famosos, Reuber já esteve ao lado de nomes importantes da TV brasileira como Gugu Liberato, Celso Portiolli, Ratinho, Christina Rocha, Danilo Gentili, João Kleber, Luciana Gimenez e Fabio Porchat, além de visitar emissoras como SBT, Record, Band e RedeTV. Curioso e ligado em assuntos nostálgicos, Reuber trará temáticas que relembrarão os meandros da televisão brasileira na coluna “TV Nostalgia”, publicada aos domingos no RD1. Siga-o no Twitter, Instagram, Facebook, Snapchat e YouTube em @reuberdiirr.
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Reuber Diirr é formado em jornalismo pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Integrante do 17º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta (Globo ES), teve passagens pela Record News ES, TV Gazeta ES e RedeTV! SP. Além disso, produz conteúdo multimídia para o Instagram, Twitter, Facebook e Youtube do RD1. Acompanhe os eventos com famosos clique aqui!