Coautor de Babilônia desabafa e revela mágoa de Gilberto Braga com a Globo

João Ximenes Braga
João Ximenes Braga abriu o jogo ao falar sobre bastidores de Babilônia (Imagem: João Miguel Jr – Globo / Montagem – RD1)

João Ximenes Braga abriu o coração e fez uma série de revelações sobre Gilberto Braga, que faleceu na última terça-feira (26). Em relato ao blog de Cristina Padiglione, do jornal Folha de S.Paulo, ele contou que o autor fez de tudo para que seu último trabalho não ficasse marcado pelo fracasso de Babilônia (2015).

O coautor do folhetim disse que foram feitas diversas tentativas para que Gilberto emplacasse uma nova novela ou série na emissora carioca, mas ao menos três das propostas foram recusadas nos últimos seis anos.

Ainda no longo desabafo, João faz um pedido especial à Globo: que o canal faça uma boa ação e disponibilize os roteiros inéditos de Gilberto, inclusive os capítulos originais de Babilônia, antes da intervenção promovida por Silvio de Abreu.

Leia relato na íntegra:

“Fiquei afastado das redes esta semana por motivos óbvios. Não via sentido em dividir a tristeza pela perda aqui, muito menos em fazer homenagem. Foram quatro décadas e meia como espectador, subordinado e colega. Trabalhei com ele em cinco novelas (ele foi supervisor de Lado a Lado e há uma outra de que falarei adiante) e uma minissérie. Não há homenagem que eu possa fazer que caiba em rede social. Quero falar de outra coisa.

Em 2015, quando voltei da viagem de férias após Babilônia, ele me convocou à casa dele. Fui recebido no quarto, numa cama reclinável, tipo de hospital. Ele não estava bem de saúde, mas lúcido e muito deprimido com o fracasso de Babilônia, que até hoje é o pior ibope do horário. Não ouso dizer que antecipasse sua morte, mas naquele dia me disse textualmente que não queria encerrar sua carreira com um fracasso e queria voltar a trabalhar logo para recuperar seu prestígio. Pode parecer irrelevante lembrar de um fracasso neste momento
em que todos os homenageiam pelos sucessos. Mas superar esse fracasso era importante PARA ELE.

Passaram-se seis anos e sinto a urgência de pôr os pingos nos is: o fracasso artístico e de audiência de Babilônia não pode ser atribuído a Gilberto e sim à intervenção mal intencionada que destruiu completamente a espinha dorsal da novela. Não entrarei em detalhes sobre essa destruição neste texto, pois o fiz há poucas semanas num depoimento por escrito para a biografia de Gilberto que está sendo escrita por Mauricio Stycer. Naquele depoimento conto com detalhes tudo que ocorreu e espero, assim, fazer justiça para a memória dele.

Isto dito, tenho zero esperança de que alguém venha a público assumir que o fracasso de Babilônia, novela que em suas duas primeiras semanas tinha problema de Ibope mas um prestígio junto à crítica além do habitual, mesmo comparado com outras novelas do Gilberto, seja responsabilidade da intervenção, e não dele e de sua equipe. Mas eu acreditava que o livro seria publicado com Gilberto ainda vivo, e que esses pingos nos is sobre Babilônia lhe trariam alguma paz neste quesito. Não foi possível, e surgiu uma outra urgência.

Naquele encontro em 2015, Gilberto me convocou para dois projetos. Primeiro, uma minissérie e, mais adiante, uma novela das onze cuja ideia me entusiasmou bastante: ele queria revisitar Brilhante, que havia sido tão censurada pela ditadura militar que ficou incompreensível, e refazer a história como se deveria. A minissérie era sobre Elis Regina e, apesar de os seis capítulos entregues, nunca foi produzida porque o filme Elis chegou primeiro. Já a novela das onze passou a ser muito mais que um simples remake de Brilhante e ganhou outro título, Intolerância. 

Teve seus 60 capítulos escritos e entregues, mas foi sucessivamente adiada e por fim, cancelada, pelas mesmas forças que destruíram Babilônia. Gilberto era resiliente. Mesmo diante disso tudo, não desistiu. Voltou a trabalhar – já sem mim – numa adaptação de Feira das Vaidades para as 18h, com Denise Bandeira. Ele
não queria, de forma alguma, encerrar sua carreira com o fracasso de Babilônia.

Um fracasso que, repito e reforço, não pertencia a ele, mas ao interventor. Mas Feira das Vaidades foi cancelada este ano, segundo ele me disse, porque diante da crise da pandemia a emissora não mais faria produções de época. No mesmo telefonema em que me contou isso, disse que lhe encomendaram uma novela das nove e perguntou se eu achava que Intolerância poderia ser adaptada para o
horário.

A nova urgência que tenho é fazer um apelo público à TV Globo para que disponibilize os capítulos prontos de Intolerância. Se possível, até os cerca de 80 capítulos que escrevemos de Babilônia antes da intervenção, pois a Babilônia que vocês viram não chega aos pés da Babilônia que concebemos. Pode ser num livro, no site do Memória Globo, ou uma simples doação à Biblioteca Nacional, para que fãs e pesquisadores possam conhecer a produção do Gilberto de 2015 para cá.

É o mínimo a fazer com a memória de Gilberto. E tenho certeza de que ele gostaria disso. Em seu último telefonema para mim, ele ainda insistia que que queria fazer um nova novela para não encerrar sua carreira com o fracasso que lhe foi imposto.”

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