Quem acompanha os telejornais já deve ter notado que Globo e Record adotam discursos opostos na cobertura da pandemia. E as divergências editoriais ficam ainda mais explícitas após uma análise comparativa dos institucionais produzidos pelas respectivas emissoras.
VEJA ESSA
Em vídeo lançado no domingo (16), a Globo enfatiza que seu jornalismo acompanha os principais desdobramentos da pandemia. A coluna transcreve, na íntegra, o texto narrado.
“Quando todas as crianças voltarem para a escola, a gente vai mostrar. Quando os novos empregos surgirem, a gente vai mostrar. Quando a economia voltar a crescer, a gente vai mostrar. Quando o vírus passar de vez, a gente vai mostrar. Quando a cura chegar, a gente vai mostrar.
Mas, enquanto nada disso acontece, a gente vai continuar mostrando o que, de fato, é fato. Jornalismo na Globo é assim. A gente está nas ruas por você: para construir uma ponte segura entre fatos e pessoas”.
Assista ao vídeo:
Cobertura baseada em fatos
Com esse institucional, o recado da Globo é claro: sua cobertura está baseada em fatos. E que, por mais dolorida e triste que seja a realidade brasileira, ela será retratada sem maquiagem nos telejornais da emissora. Vale lembrar que muitos dos exemplos mencionados pelo canal (volta das crianças para a escola, crescimento dos empregos e cura para o vírus), ainda não aconteceram.
Ao falar em “ponte segura entre fatos e pessoas”, há a reiteração também da importância do jornalismo profissional como fonte de informação confiável.
Aí, há mais uma mensagem importante. A Globo não vai abrir espaço para fake news ou suposições, sem qualquer comprovação científica.
Vale lembrar que, entre as redes de TV aberta, a Globo é a que mais critica a falta de iniciativa (ou, para alguns, omissão) do governo de Jair Bolsonaro. Já houve pelo menos dois editoriais no Jornal Nacional, o último deles quando o Brasil chegou a expressiva marca de 100 mil mortos pela Covid-19.
Entre as críticas feitas por William Bonner e Renata Vasconcellos estão a ausência de um titular capacitado no Ministério da Saúde e a insistência do presidente em menosprezar a doença. Suas falas e atitudes quase sempre vão de encontro às orientações das autoridades de Saúde. Após a exibição, Bolsonaro reagiu, irritado.
Jornalismo em todos os momentos
O institucional da Record, por sua vez, exibe um recorte com notícias dadas por diversos âncoras da emissora, fazendo uma retrospectiva da descoberta do vírus, até o momento atual. Assista:
No fim do vídeo, o contraponto mais claro à linha editorial da concorrente: “As más notícias, a gente informa. As boas, a gente não esconde. Jornalismo Record: em todos os momentos”.
Dessa maneira, a Record reafirma seu alinhamento com o governo de Jair Bolsonaro e repete uma estratégia que vem sendo usada pela Secretaria de Comunicação do Palácio do Planalto. A de colocar em evidência dados positivos, tais como o número de pessoas curadas, numa tentativa de relativizar o alto número de mortes.
Ao reiterar que não esconde as boas notícias, a Record insinua que a Globo estaria supervalorizando os impactos negativos da pandemia. Crítica essa, aliás, que o presidente já faz abertamente em suas redes sociais.
O fato é que a realidade é a mesma, vista sob ângulos diferentes. Estamos, sim, sem Ministro da Saúde e o Brasil ostenta o triste recorde de ser o segundo país com mais mortes e infectados por Covid-19, atrás apenas dos Estados Unidos.
Por outro lado, é injusto não reconhecer que, na maioria dos casos, os pacientes se curam. E, aos poucos, as pessoas estão retomando as suas vidas. A pergunta que não quer calar é: entre Globo e Record, em qual jornalismo você confia mais?
Mais diferenças entre o Jornalismo da Globo e Record
A situação do Brasil na pandemia não é a única divergência entre o jornalismo da Globo e Record. Foquemos em um exemplo recente.
O anúncio de que o Banco Central lançará a nota de R$ 200 foi abordado de maneira bem diferente. Mas essa é uma história que o amigo Daniel Ribeiro contou na coluna Curto-Circuito.
Piero Vergílio é jornalista profissional desde 2006. Já trabalhou em revistas de entretenimento no interior de SP e teve passagens pelo próprio RD1. Em tempos de redes sociais, criou um perfil (@jornalistavetv) para comentar TV pelo Twitter e interagir com outros fãs do veículo. Agora, volta ao RD1 com a missão de publicar novidades sobre a programação sem o limite de 280 caracteres.