O ibope da novela A Dona do Pedaço está cada dia mais gordo e robusto. A trama desenhada por Walcyr Carrasco faz a dona de casa se emocionar toda noite, se envolver com os personagens de todos os tipos, de ingênuos a canalhas, de pobres a ricos, de bons a maus.
E neste período da noite as donas de casa de todo país se transformam na amiga da protagonista Maria da Paz (Juliana Paes), choram e dão risada por ela e acreditam que no fim da novela a boazinha vence os maus.
As donas de casa acreditam de verdade nisto porque é a ilusão da esperança. Elas que dão a maior audiência do país à novela das 9 da Globo, uma trama que tem o maior faturamento em milhões de dólares da TV, que paga os maiores salários de atores da TV. Estas mesmas donas de casa que proporcionam todo este movimento de 16 bilhões de reais em um ano para um único grupo de comunicação, quando acaba a novela ficam sozinhas com suas tristezas, num país onde a maior parte do povo só come uma vez ao dia.
Estas donas de casa se lembram que no dia seguinte têm que fazer comida para alimentar o marido e os filhos e quando vão até a cozinha descobrem que não tem comida para todo mundo e vão ter que fazer mágica para que toda sua família seja alimentada.
Esta senhora que mantém a existência da maior rede de comunicação do país não tem a educação para seus filhos e não tem saúde que o governo deveria obrigatoriamente dar de graça para toda família e não tem a segurança que seu marido trabalhador deveria ter quando fosse trabalhar.
Ao menos durantes algumas horas da noite a dona de casa sonha viver a vida da TV. Ao restante do dia, num país que dá poder a uma infinidade de políticos sem vergonha e canalhas, a dona de casa não pode esperar outra coisa a não ser o que não lhe é oferecido e acreditar que no fim tudo dá certo do jeito que está nas novelas.
