A TV brasileira possui inúmeros momentos icônicos durante transmissões ao vivo e um deles se deu dentro do programa de Márcia Goldschmidt na Band. Na ocasião, a artista apresentava o programa Jogo da Vida nas tardes de domingo da emissora.
VEJA ESSA
Desfrutando de muito sucesso no canal, a atração ajudava as pessoas e foi exibida entre 2003 e 2005. O dominical mostrava histórias de amor, jogos de conquistas e entrevistas.
No ano de 2004, no entanto, o Jogo da Vida viveu um momento de tensão ao vivo. O vendedor de carros Moacir Camargo Borges, desempregado, pai e com 32 anos na época, invadiu armado a Band, situada no bairro do Morumbi, na Zona Oeste de São Paulo.
Em 17 de outubro de 2004, armado com um revólver calibre 38, Camargo rendeu um vigia da emissora por volta das 17h44, bem na hora em que a atração estava ao vivo no ar, com a apresentadora ao lado do cantor Waguinho, que pensou ter caído em uma pegadinha.
O desempregado rendeu um segurança na portaria da emissora e o obrigou a acompanhá-lo até o estúdio 1 da emissora. O homem entrou ao vivo na tela da Band e, ameaçando Márcia e cantor, pedia que seu problema fosse resolvido.
Percebendo que não se tratava de uma brincadeira ao ser avisada no ponto eletrônico pela direção do programa, Márcia tentou mediar a confusão e pediu calma para que o rapaz falasse o que desejava naquele lugar.
Rapidamente, o programa foi retirado do ar e foi para um intervalo comercial, mas não retornou mais e foi encurtado em mais de uma hora em meia. Para dar uma satisfação ao público, a Band trouxe o jornalista Guilherme Bentana (1979-2006) e, depois, Mauro Wedekin para darem as primeiras notícias sobre o fato e dizer que Goldschmidt estava abalada com o ocorrido, mas passava bem.
Após 6 longos minutos de muita confusão, Moacir foi dominado por um policial militar à paisana que estava na plateia. O detido foi encaminhado ao 34º Distrito pelos policiais do Grupo de Operações Especiais (GOE).
Confira:
Durante o intervalo comercial, Moacir suspeitou que o programa havia sido cortado, porém, a produção mostrou um videoteipe da atração e o homem acreditou que estivesse ao vivo ainda. A produção, conforme a Band informou na ocasião, temia que Moacir cometesse suicídio.
Versão da Band
De acordo com a emissora, ninguém se machucou durante o acontecimento. Conforme noticiado no site da Folha de S.Paulo, em 18 de outubro ode 2005, “o delegado titular do 34º DP, Guaracy Moreira Filho, o vendedor foi autuado em flagrante por porte de arma. De acordo com o delegado, ele estava muito emocionado e não quis falar nada”. Em nota, a Band “lamentou” o fato ocorrido.
Confira a íntegra da nota:
“Às 17h44 deste domingo ( 17/11) o vendedor Moacir Camargo Borges, de 32 anos, invadiu o palco do Jogo da Vida , da Band, armado com um revólver. Naquele momento, a apresentadora Márcia Goldschmidt estava no ar, ao vivo, ao lado do cantor Waguinho.
Totalmente descontrolado e mostrando a arma para a plateia e para a apresentadora, Moacir começou a dizer palavras desconexas e fazer apelos para que sua mulher o deixasse ver os filhos. Moacir também exigia que o programa permanecesse no ar. Márcia Goldschmidt tentou acalmá-lo, enquanto a produção providenciava a ação dos seguranças. Moacir ficou seis minutos no ar, até às 17h50, quando a exibição do Jogo da Vida foi suspensa e o vendedor dominado. Logo depois a plateia foi liberada e ninguém se feriu.
Há cerca de um mês Moacir Camargo Borges havia procurado o Jogo da Vida pedindo ajuda para se reconciliar com a mulher. Há três semanas , ele foi informado pela produção que não seria possível a participação dele, já que a esposa se recusava a ter qualquer contato com o ex-marido. Moacir foi levado ao 34º Distrito Policial, onde a ocorrência está sendo registrada. A Band lamenta o ocorrido”.
Pena criminal
Após a invasão ao programa Jogo da Vida, de Márcia Goldschmidt, Moacir Camargo Borges foi condenado a dois anos de prisão em um regime aberto pelo ato de invasão.
Detido, Camargo foi solto após seu advogado apresentar um habeas-corpus emitido em 9 de novembro 2004 pelo Tribunal de Alçada Criminal. No entanto, Moacir foi condenado, em 2005, ao cárcere e multa por, também, perturbação de serviço de telecomunicações, violação de domicílio e perigo de vida ou saúde.
A pena foi transformada em uma prestação de serviços para a comunidade e teve a entidade indiciada pelo Juízo das Exceções Criminais, pelo tempo de dois anos. Ouve o pagamento de uma multa no valor de um salário mínimo que, conforme a Lei nº 11164, de 2005, avaliado em R$ 300,00.
O crime julgado e que condenou Borges foi pelo porte ilegal de arma de uso permitido. A decisão da juíza Erica Regina Colmenero Coimbra Ponchio, da 20ª Vara Criminal Central da Capital paulista acatou os argumentos da defesa, feita pelo advogado Cid Vieira de Souza Filho, que atuou como assistente de acusação e representou a Band.
De acordo com o canal, um mês antes da invasão, o vendedor buscou o programa e pediu ajuda para reencontrar os filhos. Ele queria, também, fazer um reconciliação com a mulher no quadro Hora do Perdão e gravou um vídeo para isso.
Dias depois da busca pela ajuda, Camargo foi informado pela produção do programa que não seria possível a participação porque a mulher, detentora de seus filhos, recusava ter qualquer contato com ele. Diante disso, o vendedor resolveu invadir a TV por conta própria.
“Não brincaríamos com algo tão violento”
À Folha, de 19 de outubro de 2004, Márcia Goldschmidt contou sobre o fato e disse que tudo foi real. A apresentadora afirmou que no início ficou muito assustada com o acontecimento e não entendeu do que se tratava.
“Acho que nunca estaria, porque seria de uma irresponsabilidade… Foi um susto. Minha primeira reação foi pensar que era alguém que estava atrás do Waguinho [pagodeiro que ela entrevistava no palco]”.
Márcia contou o que aconteceu depois que o programa saiu do ar, mesmo com Moacir pedindo que a atração fosse mantida ao vivo. “Pois é, [o programa] não podia sair [do ar] pra ele. Porque a ameaça era: “Se tirarem do ar, eu atiro”. Deixou bem claro: “Não tira do ar!”. E apontava a arma. Minha preocupação era preservar a vida das pessoas. Tinha plateia, fiquei com medo de que ele atirasse nas meninas do balé. Meu instinto foi: “Estando aqui, posso fazê-lo se acalmar”, explicou.
“Do switcher [ilha de edição], me falavam [pelo ponto eletrônico]: “Sai daí, esse cara vai atirar!”. Mas eu não podia. Se eu me afastava dele, ele vinha para cima. Comecei a voltar a atenção dele para a câmera. Falei para ele falar com a câmera. Quando ele se viu no monitor, começou a se envolver. Nós tiramos o programa do ar, mas continuamos mostrando ele no monitor, em videoteipe. Só que houve um lapso e ele percebeu. Gritou: “Vocês me tiraram do ar”. Ele continuou falando. Nessa hora eu saí do estúdio, a plateia também. Foi uma correria. Não vi ele ser desarmado”.
Goldschmidt ainda revelou que não conseguiu mais voltar ao ar após o susto. “Estava passada. Na hora, você tem o instinto de segurar a situação. Mas depois você acha que isso não aconteceu. Só sosseguei quando falaram que tinham tirado a arma dele. Aí baixou uma crise de choro”, contou.
Sobre o julgamento das pessoas acerca de o acontecimento ter sido uma armação, Márcia disparou: “As pessoas insistem em falar bobagens. Onde já se viu uma situação tão constrangedora, tão violenta, ser objeto de uma brincadeira num programa? Não tem sentido. Foi surreal”.
Confira:
Ver essa foto no Instagram
Reuber Diirr é formado em jornalismo pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Integrante do 17º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta (Globo ES), teve passagens pela Record News ES, TV Gazeta ES e RedeTV! SP. Além disso, produz conteúdo multimídia para o Instagram, Twitter, Facebook e Youtube do RD1. Acompanhe os eventos com famosos clique aqui!