Ex-governador do Paraná, Roberto Requião acusou a Globo de ter condenado antecipadamente as sete pessoas que hoje são consideradas inocentes no caso do sumiço de Evandro dos Santos Caetano em Guaratuba. A declaração do político foi feita no episódio extra do Caso Evandro, disponível no Globoplay.
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“Em determinado momento, eu não tive interesse em dar entrevista alguma para um troço ligado à Globo”, atacou o governador do Paraná entre 1991 e 1994.
Em 1992, durante coletiva de imprensa, Requião parabenizou o trabalho da polícia do Paraná e criticou “setores da imprensa”. No documentário, ele disse que a Polícia Militar não pode investigar e que não sabia das torturas cometidas pelo grupo Águia, a elite da PM paranaense na década de 1990.
“Não é possível que se ponha a Polícia Militar a investigar, isso é uma distorção completa do processo. Quando eu tomei consciência do que acontecia com esse grupo [Águia], eu extingui esse grupo”, recordou.
“Isso foi no meu segundo governo [entre 2003 e 2006], no primeiro governo eu não tinha bem consciência do que esse grupo estava fazendo e como extrapolava as suas funções. É um grupo de bandidos dentro da polícia, é a milícia, completamente desvinculado da estrutura institucional”, esclareceu.
Roberto Requião ressaltou que só soube das torturas aos sete investigados por conta da série. O ex-governador culpou toda a imprensa, sobretudo a Globo, pela condenação antecipada dos inocentes.
“Eu tomei conhecimento das torturas agora, com o levantamento que vocês fizeram. É de uma boçalidade, de uma irracionalidade absoluta. Enquanto governador, eu não tive notícia disso, até porque o que eu via na mídia dizia exatamente o contrário, que [os policiais] eram os heróis combatendo a bruxaria assassina. O que eu sabia era pela Globo. Não era pela mídia, era pela Globo mesmo”, comentou.
Ali Kamel, diretor de Jornalismo da Globo, assinou a seguinte nota sobre o assunto. Confira na íntegra:
“Culpar a imprensa, e a Globo em particular, tornou-se o recurso daqueles que não têm explicação para os seus erros. Toda cobertura jornalística é passível de críticas, especialmente uma de três décadas atrás, quando o preconceito em relação às religiões de matriz africana não era percebido – e denunciado – como hoje. Mas nada justifica que sete inocentes tenham sido torturados para confessar um crime que não cometeram. E é espantoso que Roberto Requião, ao mesmo tempo em que reconhece que o caso teve enorme repercussão, diga que não se ocupou dele, ‘porque tinha mais o que fazer’. É, ao menos, uma confissão: a de grave omissão”.
Confira:
Paulo Carvalho acompanha o mundo da TV desde 2009. Radialista formado e jornalista por profissão, há cinco anos escreve para sites. Está no RD1 como repórter e é especialista em Audiências da TV e TV aberta. Pode ser encontrado nas redes sociais no @pcsilvaTV ou pelo email [email protected].