A Globo deveria aproveitar a ampliação do catálogo do Globoplay para reparar uma injustiça histórica cometida no último capítulo da novela América (2005). Executivos da emissora mandaram, de última hora, cortar o “beijo gay” (uma expressão antiquada, aliás) gravado entre os personagens Júnior (Bruno Gagliasso) e Zeca (Erom Cordeiro).
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A trama de Glória Perez marcou época ao retratar em horário nobre pela primeira vez um casal gay com naturalidade, sem apelações caricatas e outras ridicularizações impostas para personagens LGBTQIA+ na teledramaturgia. No decorrer da trama, o público acompanhou o romance do filho sensível da durona fazendeira Neuta (Eliane Giardini) com o peão.
A cena existe e está escondida nos arquivos da emissora. Na época, a própria Globo repercutiu a expectativa para o beijo em reportagem do Fantástico, fazendo um verdadeiro “carnaval” em cima de um tema que hoje é corriqueiro tanto em produções da própria casa como em filmes e séries no mundo inteiro.
“Passamos a cena para a diretoria toda, daí resolveu-se cortar. Ficamos todos frustrados. Eu vi uma ansiedade muito grande das pessoas na rua que queriam que aquilo acontecesse. Não era um beijo que acontecia do nada, tinha toda uma história entre aquelas duas pessoas”, declarou Glória na época.
O último capítulo marcou uma média de 68 pontos, a maior audiência final da década de 2000. Grande parte desse público esperava que o beijo acontecesse. Em recente entrevista ao programa Lady Night, do Multishow, Bruno Gagliasso também lamentou o corte. “Foi climão. Toda a novela estava na expectativa, foram colocados telões nas ruas… Foi difícil. Demorou pra cacete para isso acontecer”, disse.
No dia seguinte ao corte, a imprensa de entretenimento criticou pesadamente a emissora. Sônia Abrão dedicou longos minutos para discorrer sobre o assunto no extinto vespertino Sônia e Você (Record) e condenar a atitude. O primeiro beijo da faixa das 21h só aconteceu 9 anos depois, em Amor à Vida (2013-2014), igualmente cercado de polêmica. Hoje, cenas do tipo são corriqueiras em todos os horários.
Portanto, a Globo, que já revisitou outros erros históricos, poderia disponibilizar para o público a cena inédita.
Henrique Brinco é baiano, formado em Comunicação Social pela Unijorge, de Salvador. Atua no jornalismo desde 2008, passando pelas editorias de política, cidades, cultura e entretenimento em diversos portais de notícias, locais e nacionais. É colaborador do RD1 desde 2012, onde já foi responsável pela editoria de Famosos e autor da coluna Por Trás da Mídia. É fã número 1 de reality shows. Fala besteira no Twitter (@brinco) o dia todo também!