Quando se fala sobre assédio sexual e Globo, certamente o nome de Marcius Melhem vem à mente. Dessa vez, os acusados são outros e colocam a emissora numa posição delicada, numa investigação ao fato de que o cenário traumático vem se repetindo nos bastidores.
VEJA ESSA
Tudo começa no dia 25 de maio, quando a 36ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro acatará uma ação pública contra o Grupo Globo, proposta pelo procurador Francisco Carlos da Silva Araújo, prevendo uma possível punição pela falta de ações mais efetivas para evitar tais episódios.
Em 2016, quatro anos depois do episódio com Melhem, Esmeralda Silva (nome fictício) chegou à Globo São Paulo e conquistou a vaga dos seus sonhos, como engenheira de sistema de TV II, que ficasse responsável pela transmissão de jornalísticos, esportivos e eventos especiais como Lollapalooza e o Carnaval.
A consolidação da vaga para a engenheira e radialista se deu em janeiro de 2017, após entrevistas em três idiomas. “Quando entrei por aquele portão, parecia que eu estava chegando no céu. Era a realização do maior sonho da minha vida”, disse ela à revista Piauí.
Relatos de assédio sexual dentro da Globo causam choque
Foi daí que tudo mudou, de acordo com o relato de Esmeralda à revista, ouvindo frases como: “Uma mulher gostosa como você, com esse bundão, não tem como ficar sozinha. Você faz um homem perder o juízo”.
A grosseria virou hábito e o veterano usou o seu longo tempo no Grupo Globo para intimidá-la numa possível denúncia, que sua verdade teria mais credibilidade.
Um segundo técnico, com 35 anos ali, aproveitou que estava a sós com Esmeralda no Centro de Transmissão e Recepção de Sinais, avançou a cadeira em direção à estreante e pôs as mãos em suas pernas, chegando ao vestido/saia em outras oportunidades.
“Ele me dizia assim: ‘Não adianta fazer caras e bocas porque ninguém vai te ver nem ouvir’”, esclareceu a denunciante, que ouviu que o acusado até se masturbava pensando nela.
Mesmo pedindo respeito, Esmeralda Silva não deixou de ser assediada, inclusive por um terceiro homem que roçava as partes íntimas na altura de seus ombros, quando estavam perto.
Por causa de uma falha num link ao vivo, também veio assédio moral com xingamentos xenofóbicos e imitação de seu sotaque — e termos — nordestinos, gerando um clima insustentável.
Outras frases como “Empina a bunda, sua gostosa, porque eu estou doido para te comer de quatro” foram ouvidas, o autor da fala levou um tapa na cara da reação e conseguiu até sexualizar esse ato. Toques integralmente íntimos, na vagina e a fricção do pênis voltou a assombrá-la:
“Fiquei com muito nojo de mim mesma. Lavei várias vezes as minhas mãos com o sabonete. Depois fui para o jardim. Me sentei e chorei, chorei e chorei (…) Voltei à sala depois de mais de meia hora. Por sorte, havia outras pessoas por lá. Ele me olhou e não falou nada, era como se eu não estivesse ali”.
Resultado dos episódios traumáticos custou caro à Globo
A vaidade de Esmeralda sumiu com o decorrer do tempo e as denúncias dela surgiam medrosas, com o receio do desemprego. Como resultado, episódios de depressão e síndrome do pânico.
O primeiro assediador foi demitido e quase que Silva teria o mesmo destino, barrado pelo psiquiatra com o quadro da saúde mental da empregada. Ainda assim, a volta física à Globo foi insustentável.
A entrevistada chegou a tentar suicídio, mas depois foi orientada por advogados trabalhistas a mover uma ação, que resultou numa indenização de R$ 80 mil. Reanálises fizeram o valor subir para R$ 2 milhões. A emissora tentou um acordo de R$ 500 mil, mas foi recusado.
Oficialmente redator desde 2017. Experiências como editor e social media. Já escrevi sobre famosos, TV, novelas, música, reality show, política e pauta LGBTQIA+. Vídeos complementares no YouTube, no canal Benzatheus.