Antes de qualquer coisa, é preciso registrar: nota de falecimento não é furo. O limite tênue entre o furo jornalístico e a falta de ética de alguns veículos de comunicação ficou evidente na noite desta quinta-feira (21), com as informações desencontradas a respeito do estado de saúde de Gugu Liberato. As primeiras informações davam conta que o apresentador da Record foi internado em estado grave após sofrer uma queda do telhado, nos Estados Unidos.
VEJA ESSA
O colunista social Amaury Jr foi o primeiro publicar cuidadosamente a informação checada e apresentando fontes primárias para embasar a matéria. Rapidamente, o assunto inundou as redes sociais e tomou conta dos programas de fofoca vespertinos, que derrubaram as pautas do dia para repercutir o assunto.
Uma nota oficial divulgada por Esther Rocha, assessora e amiga pessoal de Gugu, passou a ser exaustivamente explorada. No texto, aliás, Esther já previra o show de horrores que se sucederia. “Gugu Liberato sofreu um acidente em sua casa em Orlando e encontra-se internado em observação por 48 horas. Voltaremos a informar assim que um boletim médico for emitido e contamos com o profissionalismo de todos os amigos da imprensa”, escreveu.
O desejo pela “primeira cavada na cova” se fez presente em algumas redações. O que se viu no fim da tarde e início da noite foi o desespero de veículos querendo dar a primeira “cavada de cova”, se equiparando às tão criticadas fake news que circulam nos aplicativos de mensagens.
Uma colunista de celebridades conceituada de jornal cravou no título a morte do apresentador, mas dentro do texto creditou a informação a outro veículo de comunicação que já tinha desmentido a informação. Não bastasse dar a notícia sem confirmação, ainda se apoiou uma fonte frágil. Minutos depois, passou a tratar o caso como “irreversível”. Outros sites também que não se deram o trabalho de ligar para o hospital ou para a Record seguiram o mesmo caminho fúnebre, manchetando o suposto óbito (muitos sem nem sequer apresentar fontes).
A imprensa precisa ser cautelosa em momentos como esse. Lembremos que existe uma família no meio. E ainda que não houvesse, o interesse jornalístico não dá liberdade especulações em casos como esses. Muitas vezes, publicar uma informação apurada e de maneira segura traz muito mais credibilidade ao veículo que toma esse cuidado.
Poucos dias antes, aliás, o próprio Gugu havia sido vítima de uma “fake news” sobre sua morte, que foi desmentida em seguida. O jornalismo profissional não pode se rebaixar ao nível de Instagram de fofoca. E o leitor precisa redobrar o cuidado antes de repassar conteúdos como esse.
Henrique Brinco é baiano, formado em Comunicação Social pela Unijorge, de Salvador. Atua no jornalismo desde 2008, passando pelas editorias de política, cidades, cultura e entretenimento em diversos portais de notícias, locais e nacionais. É colaborador do RD1 desde 2012, onde já foi responsável pela editoria de Famosos e autor da coluna Por Trás da Mídia. É fã número 1 de reality shows. Fala besteira no Twitter (@brinco) o dia todo também!