Há 25 anos, Globo batia recordes de audiência com acidente de gêmeas em “Mulheres de Areia”; relembre
Todo mundo conhece o remake de “Mulheres de Areia”, escrito por Ivani Ribeiro a partir do sucesso homônimo, também de sua autoria, exibido em 1973 na Tupi – somado a “O Espantalho”, outra de suas inúmeras obras, veiculada em 1977 pela Record. O que quase ninguém lembra é que há exatos 25 anos, a Globo exibia uma das cenas cruciais para o desenrolar da narrativa deste clássico das 18h! Bora revisitar a grade da emissora em 27 de abril de 1993?
O “Telecurso 2º Grau” abria a programação do canal às 6h30. Na sequência, o “Bom Dia Brasil” (7h00), celebrando dez anos no ar, sem grandes novidades. Antônio Augusto apresentava o telejornal, então gerado de Brasília. Logo após, 7h30, os telejornais locais – “Bom Dia São Paulo”, com Carlos Tramontina, e “Bom Dia Rio”, com Marcos Hummel.
Concebido para suprir a ausência de Xuxa Meneghel e seu ‘Xou’, extinto em 1992, a “TV Colosso” (8h00), que estreou na semana anterior (19 de abril), logo emplacou com a garotada! Eram 28 bonecos, confeccionados pelo grupo Cem Modos, do proprietário da emissora canina, JF, e seu “secretário” Capachão à produtora Priscila, convertida em grande estrela da atração. Em meio a quadros que satirizavam todas as redes de TV – do ‘Jornal Colossal’ com Walter Gate à novela mexicana ‘Os Filhos da Cadela’ –, o infantil exibia desenhos como “Taz-Mania” e “Capitão Planeta”. Animações da Disney também marcavam presença; inclusive na faixa “Disney Club”, no ar aos domingos, com os então inéditos “Tico e Teco” e “TaleSpin”, spin-off do longa-metragem “Mogli – O menino lobo” (1967), estrelado pelo urso Baloo.
Nomes como Cléber Machado, Léo Batista e Mylena Ciribelli se revezavam na apresentação do “Globo Esporte” (12h30). O noticiário esportivo era curtíssimo! Às 12h40, os jornais locais invadiam a programação. Augusto Xavier e Cláudia Cruz – a esposa do político-presidiário Eduardo Cunha –, dentre outros, conduziam o “RJTV”; já Carlos Nascimento respondia pelo “São Paulo Já”.
Na terra da garoa, aliás, o jornal local consumia também o horário do “Jornal Hoje” (13h00), que passou por uma reforma geral em 1993. Uma pesquisa preparada um novo matinal – que acabou não vingando – norteou as mudanças do noticiário, que passou a contar com pautas sobre beleza e saúde. No comando, William Bonner e Cristina Ranzolin (hoje na afiliada da Globo no Rio Grande do Sul).
Nas chamadas de divulgação, a Globo enalteceu os feitos de “Sinhá Moça” (1986) no exterior. Então exportada para mais de 50 países, a trama de Benedito Ruy Barbosa – hoje em reprise no VIVA – desembarcava no “Vale a Pena Ver de Novo” (13h25) para uma reprise tão editada quanto a atual, “Celebridade” (2003). Os 168 capítulos originais foram reduzidos para 80 – com apenas 55 minutos no ar, incluindo intervalos comerciais. Naquele 27 de abril de 1993, a “Sessão da Tarde” (14h20) exibiu “Os heróis não tem idade” (1984) – sobre um garotinho (Henry Thomas), muito inventivo, desacreditado até mesmo pelo próprio pai quando afirma ter testemunhado um crime.
Também em reprise, às 16h15, estava “Vamp” (1991), a mais famosa novela de Antônio Calmon. A vampira roqueira Natasha (Cláudia Ohana) e o temido Conde Vlad (Ney Latorraca) não pintaram na faixa “Sessão Aventura”, embora esta informação seja difundida, erroneamente, internet afora. A trama foi exibida, de janeiro a abril, logo após as séries da ‘Sessão’, antecedendo a “Escolinha do Professor Raimundo”. E passou a ir ao ar na sequência da “Sessão da Tarde” com a estreia de “Radical Chic”, em 19 de abril – nesta época, a “Sessão Aventura” foi temporariamente engavetada, voltando ao ar com o término de “Vamp”.
Com a reapresentação do vampiresco folhetim, a Globo pretendia, obviamente, seduzir o público infanto-juvenil, alvo do game-show “Radical Chic” (17h00). Conduzido por Maria Paula, a partir de esquetes da personagem criada pelo cartunista Miguel Paiva – em versão “carne e osso” by Andréa Beltrão –, ‘Radical’ enfrentou problemas com a 1ª Vara de Menores do Rio de Janeiro, o que acabou inviabilizando a participação de menores de 18 anos no quiz sobre namoro e sexo. A atração não foi além da primeira temporada, mesmo batendo, com larga vantagem, seu principal concorrente: o “Programa Livre”, de Serginho Groisman, no SBT.
Clássicos das tardes globais na década de 1990, a “Escolinha do Professor Raimundo” (17h30) trouxe novidades para a sala de aula naquele 1993. Caso de Grace Gianoukas – hoje no ar em “Orgulho e Paixão”, às 18h – como Maninha Marrom e Carlos Roberto Isaías “Escova”, que parodiava Boris Casoy, âncora do “TJ Brasil” (SBT) e Silvio Santos. Também, cenas em novos cenários, como a casa do Seu Boneco (Lug de Paula) e de Dona Cacilda (Cláudia Jimenez).
Eis o capítulo 74 de “Mulheres de Areia” (18h00), em que Raquel (Gloria Pires), flagrada em adultério por Marcos (Guilherme Fontes), volta para a casa dos pais, na Prainha, em Pontal D’Areia, e acaba sofrendo um acidente de barco. Na confusão, Ruth (Gloria) acaba assumindo, numa traquinagem de Tonho da Lua (Marcos Frota), o lugar da irmã gêmea, dada como morta. Naquele dia, ‘Mulheres’ atingiu seu maior índice desde a estreia, 53 pontos. E chegou a 51,1 de média semanal! O capítulo também trouxe o quase divorciado e quase viúvo Marcos liderando a cooperativa de pescadores; o vilão Virgílio Assunção (Raul Cortez) contando ao pai das gêmeas, Floriano (Sebastião Vasconcelos), sobre o divórcio de Raquel e seu filho; e as investidas de Tônia (Andréa Beltrão) para conquistar Vitor (Oscar Magrini).
Já “O Mapa da Mina” (18h55) apostava no romantismo para conter a fuga de audiência – a novela derrubou 10 pontos de “Mulheres de Areia”, mesmo repetindo o número atingido em sua estreia, em 29 de março, 43 pontos. No capítulo em questão, a ardilosa Wanda (Malu Mader), apaixonada por Rodrigo (Cássio Gabus Mendes) – de quem pretendia surrupiar valiosos diamantes –, bateu na porta da casa dele, interessada em conhecer a rival Elisa (Carla Marins). Para tristeza desta, ainda vivendo como noviça, Rodrigo tapeou Wanda e acabou de namorinho no portão com ela. Desilusão também para Tatiana (Eva Wilma), que teve seu caso com Ivo (Paulo José) – pai de Rodrigo e cúmplice de Rodolfo (Mauro Mendonça), seu marido, no roubo dos diamantes – descoberto pelo chantagista Vicente (Gianfrancesco Guarnieri).
Os jornais locais (19h45) antecediam o “Jornal Nacional” (20h00), ainda a cargo de Cid Moreira e Sérgio Chapelin. Às 20h30, tempos difíceis para os filhos de José Inocêncio (Antonio Fagundes) em “Renascer”. O enjeitado João Pedro (Marcos Palmeira) foi coagido a casar com Sandra (Luciana Braga), filha de Teodoro (Herson Capri), desafeto da família – que insistia em dizer a quem quisesse ouvir que sua menina havia sido desonrada pelo caçula do “coronel”. Já José Venâncio (Taumaturgo Ferreira) padecia com Eliana (Patrícia Pillar). Enlouquecida pelo peão Damião (Jackson Antunes), a doidivanas pretendia tomar as terras de Inocêncio que cabiam ao ex. Caso ele não concordasse em abrir mão do patrimônio, Eliana revelaria ao “coronel” que Buba (Maria Luísa Mendonça), a nova pretendente de Zé Venâncio, era “travesti” – na verdade, hermafrodita. Naquele dia, “Renascer” também atingiu sua maior audiência até então: 63 pontos.
A faixa “Terça Nobre” (21h30) abrigava a turma do “Casseta & Planeta, Urgente” – na qual Reinaldo se destacava satirizando o então presidente Itamar Franco. O humorístico dividia as terças-feiras com outras atrações mensais, como o musical “Som Brasil”, adaptações literárias em “Caso Especial” e “Retrato de Mulher”, série estrelada por Regina Duarte.
Pode-se dizer que a minissérie “Contos de Verão” (22h30) foi um projeto “em família”. O texto de Domingos de Oliveira era dirigido por Roberto Farias, em parceria com os filhos Lui e Mauro, e estrelado por Reginaldo Faria. A trama partia do escritor Cabral (Reginaldo), casado com a jovem Glorinha (Vera Zimmermann), testemunha de histórias de amor transcorridas na paradisíaca Búzios, litoral do Rio de Janeiro. Nomes como Ângelo Paes Leme, Antônio Calloni, Bia Seidl, Deborah Secco, Jece Valadão, José Lewgoy, Lúcia Alves, Maitê Proença, Márcia Cabrita, Nuno Leal Maia, Othon Bastos, Reynaldo Gonzaga, Rubens Caribé e Vera Gimenez.
Após dois anos no SBT, Lilian Witte Fibe voltou à Globo para editar e apresentar o “Jornal da Globo” (23h30). Foi a primeira vez que a emissora transmitiu um telejornal produzido em São Paulo para todo o Brasil. Também a estreia do âncora fora da bancada – Lilian se deslocava até uma parede de monitores para apresentar dados que complementavam as reportagens. A grade “chegava ao fim” com filmes; nas terças-feiras, a sessão “Campeões de Bilheteria”, que, naquela noite, apostou em “Um Agente na Corda Bamba” (1984), com Clint Eastwood.
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Duh Secco é "telemaníaco" desde criancinha. Em 2014, criou o blog Vivo no Viva, repercutindo novelas e demais atrações do Canal Viva. Foi contratado pela Globosat no ano seguinte. Integra o time do RD1 desde 2016, nas funções de repórter e colunista. Também está nas redes sociais e no YouTube (@DuhSecco), sempre reverenciando a história da TV e comentando as produções atuais.