Jean Wyllys revela motivo pelo qual optou pela militância em vez da fama

Jean Wyllys

Jean Wyllys fala sobre fama pós-BBB (Imagem: Reprodução / Instagram)

Jean Wyllys é jornalista, professor, escritor, ativista político e ex-BBB. Para quem não se lembra, ele foi o grande campeão do BBB 5, mas, diferente da maioria dos ex-participantes do reality, escolheu não sucumbir à tentadora fama.

Em entrevista ao podcast Efeito Tsunami, de Andréa Alves, o baiano, que atualmente mora em Barcelona, na Espanha, falou sobre a sua trajetória.

Sempre fico um pouco constrangido, envergonhado, com a coisa da leitura do currículo. Eu não sei lidar com o elogio, sabe? Que coisa curiosa. Fiquei sem graça com você lendo o meu currículo (risos). Ele é mérito da minha mãe (Nalva), da igreja católica, das professoras que cruzaram meu caminho e viram meu potencial. Desde muito pequeno eu desperto o interesse das minhas professoras por ser um garoto diferente. Não só porque atravessava essas fronteiras de gênero, mas também porque eu era muito inteligente e sensível. Elas prestavam atenção em mim“, iniciou.

Em seguida, Jean contou sobre seus posicionamentos: “Esse sou eu, essa pessoa que ao mesmo tempo é uma pessoa destemida e segura do que quer fazer, não tem muito medo do julgamento, das avaliações. Por isso, corro riscos que para mim são importantes correr. No início da minha carreira acadêmica e também na curva ascendente do meu prestígio como jornalista na Bahia decidi me inscrever no BBB. Correndo todos os riscos“.

O jornalista deixou o Brasil após receber uma série de ameaças, resultantes dos seus posicionamentos políticos. Wyllys, que também é ex-deputado pelo PSOL, disse que a carreira de ativista foi o principal motivo para dizer não à fama de ex-participante do programa global.

No auge da popularidade do BBB, eu decidi dizer ‘não’ a isso e bancar uma postura de um ativista que eu era sempre. Ou seja: recuperar meu passado ativista e enfrentar essa popularidade, não ceder a essa popularidade. Esse sou eu. E acredito que serei sempre. É esse interesse por conhecer, por saber, por me compreender. Por compreender a vida humana, a subjetividade“, ponderou.

Claro que o capitalismo e, sobretudo, o capitalismo na sua face mais perversa, que é o neoliberalismo, tende a tratar as pessoas como porcos ou como escravos a quem se nega o direito à experiência do belo, a fruição estética. E num país continental como o Brasil, superpopuloso, com muita gente pobre, com concentração de renda muito grande, com a escola e um sistema de educação pública deficitária, a televisão cumpre um papel“, continuou.

Declarado apaixonado pela cultura popular, Jean Wyllys indicou. “Nós, seres humanos, gostamos de histórias, gostamos de contar histórias. Somos seres que fabulamos, para usar as palavras de Umberto Eco, escritor italiano. Então, a Globo entendeu isso. E as telenovelas, o folhetim… Mas os folhetins eram elitistas porque demandavam que a pessoa lesse, soubesse ler. E num país de muitos analfabetos a telenovela não demandava leitura. Essa é a minha compreensão. E essa compreensão minha vem do fato de que venho daí. Eu venho daí. Sempre tive uma fome maior e busquei matar essa fome. E aí eu entendo inclusive como isso impacta na gente, que está do lado de lá. Sem paternalismos e sem folclore, né? Porque tem um certo folclore na glamourização da pobreza. Não glamourizo a pobreza mas sei o quanto ela pode resistir e produzir bens simbólicos“, explanou.

Jean ainda lembrou quais eram os seus sonhos de criança, que já indicavam que a Bahia seria pequena para o que ele se tornaria. “Engraçado… Eu sempre tive uma coisa interna minha de que eu não ia ficar na cidade, de que eu sairia. Tinha o sonho de ser escritor e me tornei escritor. Não da maneira que eu esperava me tornar. Me tornei escritor com uma relação ligada à fama , à imagem. Depois meus sonhos de menino, de justiça, estava desde cedo ligados a isso. Olha: é tão cruel a pessoa desejar uma coisa e não ter condições de ter. Da coisa mais simples, que é comer, desejar comer e não ter garantia de comida, até a vontade de ter um lápis de cor na escola, que eu não tinha. Essas duas fomes se engendraram juntas. E elas não vão parar porque o mundo é incorrigível“, concluiu.

Da Redação
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