No SBT, vitória de Bolsonaro é dada como certa; 2023 promete…

João Paulo Dell Santo

25/09/2022

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Jair Bolsonaro durante participação no Programa Silvio Santos (Imagem: Divulgação / SBT)

Autor de Dom Quixote, Miguel de Cervantes anotou nas linhas do tempo que a ingratidão é filha da soberba. 406 anos depois da morte do romancista espanhol, a frase ganhou tons sbtistas com as Eleições 2022.

No SBT, reforçando a lógica, tudo o que parece, é!

A emissora de Silvio Santos vem dando a entender que a reeleição de Jair Bolsonaro (PL) são telesenas contadas. Mais do que isso, tapa os ouvidos quando o contraditório ressoa.

No Twitter, sem medo de ser feliz, um dos três executivos mais poderosos do canal distribui curtidas em ataques de Bolsonaro ao seu principal adversário, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

No Instagram, assessores da emissora acusam Lula de amarelar ao não comparecer ao debate presidencial do último sábado (24).

No boteco maquiado com ares de sabatina, Ratinho, cujo filho é governador do Paraná e candidato à reeleição com o apoio do presidente da República, age feito um personagem palaciano.

E, por mera coincidência do destino, Fábio Faria acumula o posto de genro do proprietário com o de ministro das Comunicações, ministério de onde os aviõezinhos levantam voo rumo ao auditório.

Ao fechar com o capitão e bater continência, o SBT veste a fantasia da ingratidão.

O episódio é bem conhecido, começa com Banco e termina com Panamericano, e remete a 2009, muito antes de Silvio Santos mandar exibir slogans e músicas da ditadura nos intervalos e suspender uma edição do SBT Brasil, a fim de não dar destaque à famosa reunião ministerial de 22 de abril de 2020, quando a interferência à Polícia Federal foi servida como prato principal.

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Silvio Santos ao lado do então presidente Lula, em encontro no Palácio do Planalto, em Brasília, em 22 de setembro de 2010 (Imagem: Ricardo Stuckert / Divulgação)

Naquele ano, Lula ainda desfilava com a faixa presidencial no peito, e agia para que a Caixa Econômica Federal comprasse 35,5% do Panamericano, cujo rombo chegou a R$ 4,3 bilhões. O empresário perdeu o banco, mas evitou maiores problemas ao Grupo Silvio Santos, o que levaria a demissões em massa no principal ativo do conglomerado, o SBT.

Em 22 de setembro de 2010, com Lula prestes a deixar a presidência e Dilma Rousseff às voltas de faturar seu primeiro mandato, Silvio foi a Brasília encontrar com o petista. Na saída, questionado por jornalistas, disse que foi “convidá-lo” para a edição daquele ano do Teleton. Rsrsrs…

Doze anos e uma virose bolsonarista depois, Silvio Santos age como se o passado não existisse. Certamente, deve ser atualizado diariamente pelo genro com pesquisas feitas em grupos de WhatsApp, onde Jair Bolsonaro dispõe de 80% de aprovação, a Terra é plana, temos a mais pujante das economias mundiais, ninguém passa fome e todo o resto é culpa da Globo lixo.

Quando a realidade bater à porta e a ficha cair, 2023 tende a ser um ano e tanto para o SBT e os negócios do seu proprietário. Aguardemos.

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João Paulo Dell Santo

João Paulo Dell Santo consome TV e a leva a sério desde que se entende por gente. Em 2009 transformou esse prazer em ofício e o exerceu em alguns sites. No RD1, já foi colunista, editor-chefe, diretor de redação e desde 2015 voltou a chefiar a equipe. Pode ser encontrado nas redes sociais através do @jpdellsanto ou pelo email [email protected].