Uma novela sem medo de ser novela. Foi assim que o diretor artístico Luiz Henrique Rios definiu Além da Ilusão, que a Globo lança no próximo dia 7, às 18h. A autora Alessandra Poggi, fã confessa do gênero, propõe uma trama sobre o amor, mas não apenas o do casal que se apaixona à primeira vista. O sentimento mais nobre domina todas as ações dos protagonistas, Davi e Isadora, defendidos por Rafael Vitti e Larissa Manoela – também encarregada de Elisa, na primeira fase do folhetim.
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Nos capítulos iniciais, a jovem Elisa, herdeira de Matias (Antonio Calloni) e Violeta (Malu Galli), conhece Davi, mágico de rua. A paixão avassaladora culmina com o assassinato da moça, pelo qual o rapaz é condenado, injustamente, a 20 anos de prisão. “O amor engloba encantamento, paixão, planos, sonhos, vontades, desejos. A nossa história tem tudo isso. E tudo acontece porque eles dois se apaixonam perdidamente e decidem viver esse amor, apesar de tudo que vai contra”, adianta Rafael.
O tempo passa e Davi consegue fugir da cadeia, disposto a provar sua inocência. É quando um acidente de trem o reaproxima da família de Elisa. Cercado por policiais, ele rouba os documentos de uma suposta vítima do desastre e segue para a Tecelagem Tropical. Qual não é a surpresa do rapaz ao descobrir que Violeta é a responsável pela fábrica e que Isadora, a irmã caçula de Elisa – defendida na primeira fase por Sofia Budke – é a imagem e semelhança da primogênita dos Tapajós?
“A Isadora cresceu com a dor da morte da irmã, o que a deixou, de certa forma, fragilizada. Ou melhor: ela é firme em seus objetivos, mas não passa pelo amor, porque a Elisa viveu isso e teve um fim trágico. Quando o Davi aparece, e a Dora não sabe quem ele é, ela passa por essa mudança dentro dela”, analisa Larissa, radiante com a possibilidade de levar todo romantismo das décadas de 1930 e 1940 para o público que a acompanhou nas produções infanto-juvenis do SBT, como Carrossel (2012) e Cúmplices de um Resgate (2015):
“É do amor que a gente tá falando. Do sentimento verdadeiro, que pulsa. É a entrega, é o amor à primeira vista. Algo que a minha geração pouco fala, mas que precisa resgatar”.
Autora e diretor artístico: os bastidores da criação
Além da Ilusão está em curso há dois anos. A pandemia protelou os trabalhos e, consequentemente, a estreia. Durante o período de paralisação, o diretor artístico Pedro Vasconcelos deixou a Globo. Luiz Henrique Rios assumiu o projeto quando as escalações de Rafael Vitti e Larissa Manoela estavam sacramentadas: “O Rafa e a Lari tinham sido escolhidos pelo Pedro, que foi extremamente feliz. Os dois estão muito bem! Vai ser lindo se deparar com esses dois serezinhos lidando com a grandiosidade desses personagens”.
Rios, responsável por êxitos como Totalmente Demais (2015) e Bom Sucesso (2019), também enaltece o trabalho de Alessandra Poggi, em sua estreia como titular solo após a parceria com Angela Chaves em Os Dias Eram Assim (2017). “A Alê faz uma novela sem medo de ser novela. Ela trabalha num registro muito interessante de imaginar o clichê não como repetido e velho, mas algo consciente e próximo. E a gente foi buscar esse lugar, da novela moderna, com uma linguagem contemporânea, mas que só quer ser novela”, garante.
O caráter romântico da trama, contudo, veio da observação das movimentações sociais nos anos 1930 e 1940. “O meu ponto inicial foi o livro que eu recebi de uma amiga sobre a Tecelagem Bangu. Aquele livro, distribuído internamente, contava a história de uma fazenda de algodão que virou uma fábrica e depois um bairro”, ressalta Alessandra. Na ficção, Violeta assume o comando do engenho do pai, Afonso Camargo (Lima Duarte), e, numa parceria com o investidor Eugênio (Marcello Novaes), cria a Tecelagem Tropical, que desencadeia a vila operária.
Outras transformações do período retratado ajudaram a compor o eixo central e as paralelas de Além da Ilusão. “O fim da era Getúlio Vargas, o movimento feminista ganhando força, a mulher buscando lugar no mercado de trabalho, o movimento de classes… A gente usa todo esse universo como pano de fundo para contar a minha história. Tem personagens, por exemplo, que vão pra Segunda Guerra, mas não vamos fazer disso um documentário”, salienta a autora, destacando os amigos Bento (Matheus Dias) e Lorenzo (Guilherme Prates).
O diretor artístico complementa, estabelecendo paralelo com a realidade atual, com todos impactados pela pandemia de Covid-19, que, aliás, não deve inviabilizar o lançamento: “De alguma maneira, falar das transformações do passado fala um pouco do que vivemos agora. As personagens estão muito impactadas pelo tempo delas, como nós estamos. […] Este tempo é respeitado, mas não é limitante”.
Uma das referências apontadas por Luiz Henrique foi Bridgerton (2020), série da Netflix que, embora de época, trazia visões atuais em todas as discussões que suscitou. A Globo vem passando por este movimento há tempos, especialmente às 18h; como exemplos, a abordagem da homossexualidade de Lucino (Juliano Laham) e a força das irmãs Benedito e de Julieta (Gabriela Duarte) em Orgulho e Paixão (2018) e o final feliz de dona Lola (Gloria Pires) em Éramos Seis (2019), condenada à solidão nas quatro versões anteriores do folhetim.
Tal condução influi, obviamente, na produção de Além da Ilusão. “A gente quis trabalhar um registro de passado mais colorido, com luzes mais altas, que falasse de um passado que fosse encantador. […] Eu diria que essa novela é uma fábula temporal, onde a gente usa o tempo pra falar de agora”, conclui Luiz Henrique.
Duh Secco é "telemaníaco" desde criancinha. Em 2014, criou o blog Vivo no Viva, repercutindo novelas e demais atrações do Canal Viva. Foi contratado pela Globosat no ano seguinte. Integra o time do RD1 desde 2016, nas funções de repórter e colunista. Também está nas redes sociais e no YouTube (@DuhSecco), sempre reverenciando a história da TV e comentando as produções atuais.