Em quase 10 anos de história, o Canal Viva programou e reprogramou muitas novelas. A mais recente troca envolve Ti-ti-ti (1985) e Brega & Chique (1987), ambas escritas por Cassiano Gabus Mendes. Ti-ti-ti foi anunciada como substituta de Selva de Pedra (1986); ontem (7), porém, o Viva comunicou a estreia de Brega & Chique no próximo dia 19, às 14h30 – com reapresentação por volta de 0h45 e a todo momento no Globosat Play.
VEJA ESSA
Mudanças como esta são comuns. E competem não só ao Viva. O canal “licencia” conteúdo da Globo. Só exibe, óbvio, o que a emissora libera. Para o lançamento, em maio de 2010, a equipe esperava contar com Mulheres de Areia (1993) e Tieta (1989). Não deu. A honraria coube a Quatro Por Quatro (1994) e Por Amor (1997). Cinco anos depois, a Globo decidiu pela exibição de Cambalacho (1986) em detrimento a Sassaricando (1987) – conforme destacado em nota da jornalista Patrícia Kogut.
Acontece que todo este processo sempre foi feito às claras, através da imprensa ou de notas do canal.
Quando Renascer (1993) foi liberada, o Viva avisou que, por conta do número de pedidos do público, exibiria primeiro a trama de Benedito Ruy Barbosa, empurrando A Próxima Vítima (1995) para o ano seguinte. Nas duas ocasiões em que o remake de Pecado Capital (1998) foi rejeitado pelos telespectadores, comunicados e consequentes anúncios das substitutas Anjo Mau (1997) e Tropicaliente (1994) – esta eleita por enquete. O mesmo se deu com A Viagem (1994), deslocada de 0h (hoje 23h) para 14h30 e substituída por Dancin’ Days (1978).
Em 2017, o Canal Viva passou por reestruturação, como aconteceu nos últimos em todo mercado audiovisual. A transparência deixou de existir.
A primeira trinca sob nova direção foi anunciada com muita antecedência: Explode Coração (1995), Sinhá Moça (1986) e Jogo da Vida (1981). Esta última preterida por Bebê a Bordo (1988), sem explicações. A situação piorou com os cortes, também não esclarecidos, na comédia de Carlos Lombardi. E novas trocas, mal explicadas: Roda de Fogo (1986) por A Indomada (1997) e Terra Nostra (1999), Brega & Chique por Baila Comigo (1981), Força de um Desejo (1999) por Porto dos Milagres, Chocolate com Pimenta (2003) por Cabocla (2004).
Evidente que nem tudo o que é discutido nos bastidores pode ser exposto. Ti-ti-ti é um desses casos. Nem Globo, nem Viva vão querer comentar, claro. Mas apurei com mais de uma fonte que o empecilho para a reprise na TV fechada está relacionado à íntegra da novela. Por questões de economia, ou por desleixo com a memória da televisão, a Globo deixou de preservar algumas de suas produções em versão original. Ti-ti-ti, inclusive.
A trama está disponível apenas na versão internacional, com 130 capítulos de 50 minutos. A Globo poderia reeditar a produção, “remontando” os 185 capítulos originais de 35 minutos cada – como aconteceu, guardadas as devidas proporções, com Dancin’ Days. Não houve interesse. E entre exibir um folhetim “editado” e um em versão integral, o Viva optou pela segunda opção. Evitou assim o falatório que dominou a exibição de Terra Nostra, em versão internacional de 150 capítulos por conta dos direitos relacionados à trilha sonora.
Ainda que a edição para o mercado exterior de Ti-ti-ti não tenha causados tantos prejuízos à integra quanto a de Terra Nostra, a repercussão negativa, certamente, seria grande. Maior do que a da troca – já que Brega & Chique, quase da mesma época, era ansiosamente aguardada desde a primeira previsão, há dois anos. Este bastidor o Viva, com certeza, não poderia trazer ao público. Mas o canal há de convir que é possível tornar a escolha de seus títulos menos conturbada e mais clara.
Duh Secco é "telemaníaco" desde criancinha. Em 2014, criou o blog Vivo no Viva, repercutindo novelas e demais atrações do Canal Viva. Foi contratado pela Globosat no ano seguinte. Integra o time do RD1 desde 2016, nas funções de repórter e colunista. Também está nas redes sociais e no YouTube (@DuhSecco), sempre reverenciando a história da TV e comentando as produções atuais.