Os bastidores de “Mulheres de Areia”; clássico das 18h estreou há 26 anos

Mulheres de Areia

Vivianne Pasmanter (Malu), Guilherme Fontes (Marcos) e Gloria Pires (Ruth), em “Mulheres de Areia” (Imagem: Divulgação / Globo)

Há 26 anos, a Globo exibia o primeiro capítulo de “Mulheres de Areia”, a novela das 18h de maior audiência na década de 1990. Para celebrar esta data, trago aqui para meu blog no RD1 esta matéria sobre os bastidores da produção, revista e atualizada, publicada originalmente no blog “Vivo no Viva”, do Canal Viva, extinto em 2017.

– “Mulheres de Areia” nasceu radionovela, apresentada sob o título “As Noivas Morrem No Mar”, na Rádio São Paulo, em 1965. A versão para a TV foi concebida em 1973, via Tupi.

– A autora Ivani Ribeiro buscou inspiração no filme “Uma Vida Roubada” (Stolen Life), de Curtis Bernhardt, rodado em 1946. No longa-metragem, Bette Davis interpreta as gêmeas Kate e Pat. A primeira se apaixona por Bill (Glenn Ford), mas é a segunda quem desperta o interesse do rapaz. Kate, então, entra em depressão. Até que um acidente de barco lhe dá a chance de tomar o lugar da irmã e viver sua paixão por Bill.

– Em “As Noivas Morrem No Mar”, a atriz Marisa Fernanda era quem pontuava as diferenças de comportamento das gêmeas, tendo a voz como único recurso.

– Na televisão, Eva Wilma emprestou sua imagem a Ruth e Raquel. “Mulheres de Areia” estreou em 26 de março de 1973, às 20h20, logo após o primeiro capítulo de “A Volta de Beto Rockfeller”, às 20h00. Para combater as novas produções da concorrente, a Globo exibiu um capítulo especial de “Cavalo de Aço”, de Walther Negrão, com 90 minutos de duração.

– Em pouco tempo, o folhetim elevou os índices da Tupi, de 5% para 29%. Com isso, o esticamento se tornou inevitável. “Mulheres de Areia”, que durante sua exibição migrou para o horário das 19h45, batendo de frente com o “Jornal Nacional”, chegou ao fim após 253 capítulos, em 5 de fevereiro de 1974, dividindo a faixa nobre da programação com sua substituta, “Os Inocentes” (também escrita por Ivani Ribeiro).

– O sucesso da primeira versão pode ser medido não só em números, mas também pela influência na sociedade brasileira de então. O texto, que denunciava a exploração comercial sobre pequenos pescadores, motivou a criação de cooperativas destes em Itanhaém, onde a novela foi gravada. Também incentivou a campanha de alfabetização difundida pelo governo militar, o MOBRAL, Movimento Brasileiro de Alfabetização, através da professora Ruth e da analfabeta Alzira (Ana Rosa).

– Itanhaém, aliás, registrou um assustador aumento no número de turistas durante a exibição da novela. Todos interessados em conhecer os locais de gravação e ver seus ídolos de perto. A polícia era constantemente acionada para conter a “fúria” dos visitantes. Ainda assim, não foi possível impedir que os fãs de Eva Wilma virassem o Fusca que abrigava a atriz, na tentativa de se aproximarem dela.

– Como agradecimento pelo destaque dado ao município, a prefeitura de Itanhaém inaugurou em 1976, na praia dos Pescadores, uma estátua representando Eva Wilma.

– Outras curiosidades marcam a primeira versão para a TV de “Mulheres de Areia”. Dentre elas, a participação de Adoniram Barbosa como Chico Belo, vivido por Joel Barcellos no remake da Globo. E as rusgas de Eva Wilma e Carlos Zara. Ela, a atriz principal; ele, o diretor (em parceria com Edison Braga) e protagonista, Marcos. Vivinha e Zara viriam a se casar, anos depois. E repetiriam o par romântico em produções como “A Barba Azul” (1974), versão original de “A Gata Comeu” (1985), e “Mulher” (1998).

– Eva Wilma deu um verdadeiro show como Ruth e Raquel! O visual das gêmeas contribuiu para que o público as distinguisse: Ruth repartia o cabelo de lado, com uma fivela, e não usava batom. Raquel usava cabelos desgrenhados e maquiagem carregada.

– A técnica de duplicação da atriz era bastante primitiva: tampava-se um lado da lente da câmera para as gravações das cenas de uma gêmea; depois, cobriam o outro lado da lente para as tomadas com a outra personagem. Uma das sequências, em que Ruth e Raquel se encontram na praia (uma saindo do mar, a outra esperando na areia), fora batizada, internamente de “Ruth e Raquel, secas e molhadas”.

– Eva Wilma levou o prêmio APCA de melhor atriz por seu desempenho em “Mulheres de Areia”. Já o Troféu Imprensa daquele ano ficou com Regina Duarte, pela Cecília, de “Carinhoso”. A atriz abdicou do prêmio, em reconhecimento ao trabalho de Vivinha.

– A atualização de “Mulheres de Areia”, em 1993, contou com elementos de outra trama de Ivani Ribeiro, “O Espantalho”. A novela de 1977 nasceu após a saída da autora da TV Tupi e de sua contratação pelos Estúdios Silvio Santos. Silvio Santos, na época lançando o seu canal de televisão no Rio de Janeiro (a TVS), era acionista da TV Record, que exibiu “O Espantalho” para o estado de São Paulo. A novela ganhou uma reexibição nos últimos meses de atividade da Tupi, em 1979.

– “O Espantalho” não foi um grande sucesso, mas chamou a atenção pelo estilo cinematográfico imprimido às suas cenas externas.

– Entre esta novela e “Mulheres de Areia” apenas um ponto em comum: as gravações em Itanhaém. Segundo o jornalista Ted Sartori, muitas das cenas de “O Espantalho” foram rodadas na praia do Suarão.

Mulheres de Areia

Daniel Dantas (Breno), Vivianne Pasmanter, Susana Vieira (Clarita) e Thaís de Campos (Arlete), em “Mulheres de Areia” (Imagem: Divulgação / Globo)

– A união de “Mulheres de Areia” e “O Espantalho”, certamente, foi fundamental para o sucesso do remake da TV Globo. Entretanto, houve dissonâncias entre as duas obras.

– Muitos telespectadores questionaram os motivos pelos quais os turistas de Pontal D’Areia não podiam frequentar a praia poluída (tema extraído de “O Espantalho”), enquanto os pescadores continuavam suas atividades tranquilamente (tema extraído de “Mulheres de Areia”). A autora Solange Castro Neves, que dividia o roteiro com Ivani Ribeiro, teve de vir a público explicar que o fato de uma praia estar poluída não implica, necessariamente, na poluição de toda a orla; e que a pesca, em alto-mar, era permitida, porque os riscos de contaminação por doenças como cólera eram menores.

– Por fim, a poluição das águas que parecia jogar contra a verossimilhança do roteiro contribuiu para o merchandising social de “Mulheres de Areia”. Na época, o país vivia um surto de cólera, o que levou a veiculação de uma campanha de conscientização estrelada por Renato Aragão, ensinando a prevenir e diagnosticar a doença. Oportunamente, Ivani Ribeiro inseriu o tema em cenas da novela.

– Antes, entretanto, de unir “Mulheres de Areia” e “O Espantalho” para conceber a “nova” trama, a autora recebeu a incumbência de adaptar apenas a novela das gêmeas. A produção, por vários motivos, não foi adiante.

Mulheres de Areia

Marcos Frota (Tonho da Lua), em “Mulheres de Areia” (Imagem: Divulgação / Globo)

– Em 1990, Ivani Ribeiro não estava plenamente satisfeita com o resultado da regravação de “O Terceiro Pecado”, exibida na TV Excelsior em 1968 e reeditada pela TV Globo em 1989 como “O Sexo dos Anjos”. Por isso, a princípio, reescrever “Mulheres de Areia” não lhe pareceu uma boa ideia. O projeto acabou engavetado.

– Em 1991, o assunto voltou à tona, diante da escalação da autora para o horário das seis, substituindo “Felicidade”, de Manoel Carlos, em abril de 1992. Surgiu então a ideia de transformar “Mulheres de Areia” e “O Espantalho” em uma única novela.

– De imediato, Ivani Ribeiro manifestou o desejo de contar com Eva Wilma no elenco. A atriz, no entanto, já estava no ar, como a Hilda Pontes, de “Pedra Sobre Pedra”.

– Glória Pires era a única opção de Ivani Ribeiro para as gêmeas Ruth e Raquel. Grávida, Glorinha não pode aceitar o convite. Cogitaram então os nomes de Lúcia Veríssimo e Maria Padilha, recém-saída de “O Dono do Mundo” (1991), onde vivia a antipática Karen. Mas a autora bateu o pé… Ou era Glória Pires ou não tinha novela!

– O projeto foi adiado mais uma vez e “Felicidade” acabou esticada em quase 50 capítulos. Walther Negrão foi então chamado pela direção da Globo. Recebeu a planta baixa da cidade cenográfica de “Mulheres de Areia” e a incumbência de conceber uma novela em tempo recorde, dentro daquele espaço, já em construção. Assim nasceu “Despedida de Solteiro” (1992) – que contou com Lúcia Veríssimo como protagonista, Flávia.

– Os diretores Reynaldo Boury (hoje em “As Aventuras de Poliana”, SBT) e Carlos Manga Filho (de “Se Eu Fechar os Olhos Agora”, do Globoplay) estavam à frente de “Mulheres de Areia” quando foram remanejados para “Despedida de Solteiro”.

Raul Cortez (Virgílio Assunção) e Gloria Pires (Raquel), em “Mulheres de Areia” (Imagem: Divulgação / Globo)

– “Mulheres de Areia” entrou em pré-produção, novamente, no momento em que Wolf Maya voltava de suas merecidas férias, após exaustivos meses a serviço de interminável “Barriga de Aluguel” (1990). Aí, a novela, enfim, ganhou sua forma e nossa tela. Wolf já havia dirigido duas produções de Ivani: “Final Feliz” (1982) e “Hipertensão” (1986). O sucesso de “Mulheres de Areia” levou a outra parceria, “A Viagem” (1994).

– Na primeira lista de elenco, Cecil Thiré e José Wilker apareciam como candidatos a intérprete de Virgílio Assunção (Raul Cortez). Marcos Frota, confirmado como Tonho da Lua em 1992, desta vez teve de se submeter a testes, enfrentando Ângelo Antônio, Eduardo Moscovis e Irving São Paulo. Os dois últimos participaram da novela, vivendo, respectivamente, o pescador Tito e o médico Zé Luís.

– Autora e diretor concordaram, logo de cara, com relação à protagonista: Ruth e Raquel eram de Glória Pires. Mas a atriz havia acabado de dar à luz. Reticente, Glória demorou a aceitar o convite. Com isso, outras atrizes foram sondadas: Malu Mader, Cláudia Abreu e Carolina Ferraz, na época, apresentadora do “Fantástico”.

– Glória cedeu após ler e reler a sinopse, a pedido de Paulo Ubiratan, diretor artístico da novela. Em contrapartida, conseguiu liberação para amamentar a filha no estúdio, obedecendo aos horários já estabelecidos em sua rotina como mãe.

– Dividindo com Glória Pires a árdua tarefa de interpretar Ruth e Raquel estava Graziela de Laurentis. A atriz, que já havia aparecido em frente às câmeras, em “Brilhante” (1981) e “Amor com Amor se Paga” (1984), surgia em “Mulheres de Areia” apenas de perfil ou de costas. Para as gravações, porém, Graziela decorava todo o texto. Ela “batia” as falas com Glória nas cenas em que Ruth e Raquel contracenavam.

– É claro que essa “divisão de papeis” obrigou Graziela e Glória a determinados esforços. Foi preciso, por exemplo, muito trabalho da equipe de caracterização para que os cabelos das duas atrizes chegassem a tons idênticos.

– Graziela de Laurentis não foi o único caso do tipo “atuou em ‘Mulheres de Areia’ sem aparecer no vídeo”. O mesmo aconteceu com Cláudio Boeckel, que surgia sempre fantasiado, como o espantalho que atormentava Virgílio Assunção em seus devaneios.

– Já o codiretor da novela, Ignácio Coqueiro, viveu Gilberto, o falecido namorado de Malu (Vivianne Pasmanter). O diretor e a atriz, que se conheceram nas gravações de “Felicidade”, eram namorados na “vida real”. Além de atuar em flashbacks, Ignácio emprestou uma de suas fotos para a produção de arte compor o cenário de Malu.

– Da trupe de Malu fazia parte o fotógrafo Tavinho (Luciano Vianna). Mesmo aparecendo em pouquíssimas cenas ao longo da novela, o autor se tornou um dos campeões de cartas da Globo naquele ano.

Mulheres de Areia

Evandro Mesquita (Joel) e Andréa Beltrão (Tônia), em “Mulheres de Areia” (Imagem: Divulgação / Globo)

– Dayse Tenório, escalada para viver Alice, a governanta da família Assunção, faleceu em janeiro de 1993, por conta de um aneurisma cerebral, antes da estreia da novela. As cenas já gravadas com a atriz, para os primeiros capítulos, foram mantidas.

– Gabriela Alves (a Glorinha) estreou oficialmente em “Mulheres de Areia” após participar do primeiro capítulo de “Despedida de Solteiro”, como Salete, a prostituta assassinada durante o bota-fora de João Marcos (Felipe Camargo). Também Karina Perez (a Andréa), que vinha de uma breve aparição no último capítulo de “As Noivas de Copacabana” (1992), como uma provável vítima do maníaco Donato (Miguel Falabella).

– Isadora Ribeiro, a Vera, havia sido convidada por Carlos Manga para viver Salete em “Agosto”. Com o adiamento do projeto, a atriz foi remanejada para “Mulheres de Areia”. Pouco depois, Letícia Sabatella assumiu o posto de protagonista da minissérie.

– Já Andréa Beltrão, a Tônia, se revezava entre os estúdios de “Mulheres de Areia” e os de “Radical Chic”, game-show que a Globo lançou em 1993 mirando o público jovem das tardes. No programa, Andréa interpretava a personagem do cartunista Miguel Paiva, em esquetes que dialogavam com o jogo de perguntas e respostas comandado por Maria Paula, na fase pré-“Casseta & Planeta” (1992), em um auditório.

– Se Andréa Beltrão foi um dos hits de “Mulheres de Areia”, o mesmo não se pode dizer do seu, a princípio, par romântico, Evandro Mesquita. Dizem que Ivani Ribeiro não gostou do tom que o ator imprimiu ao gaiato Joel. De início, aventaram a hipótese de retorno do personagem, afastado no capítulo 64, o que acabou não acontecendo. Tônia terminou por se envolver com Vitor, primo de Joel que surge para tocar o restaurante que este abandonou, vivido por Oscar Magrini, que havia acabado de estrear na TV com um pequeno personagem em “Deus Nos Acuda” (1992).

– Já Giovanna Gold chegou a demonstrar, publicamente, sua insatisfação com o final de Alzira. Ivani Ribeiro decidiu então rever o caso e dar à personagem um desfecho mais coerente com sua trajetória (ela termina à espera de Tonho da Lua, que parte de Pontal D’Areia com o circo).

– Carlos Zara, ator e diretor da versão original de “Mulheres de Areia”, esteve no elenco do remake, como Zé Pedro, pai de Tônia, personagem extraído de “O Espantalho”. Numa das primeiras gravações da novela, Zara, emocionado, abraçou Guilherme Fontes, o Marcos de 1993, como se estivesse “passando o bastão”.

Mulheres de Areia

Paulo Goulart (Donato), em “Mulheres de Areia” (Imagem: Divulgação / Globo)

– Entretanto, nem só de elementos humanos vive um grande sucesso, como foi “Mulheres de Areia”. A tecnologia esteve a favor da produção, bem como as belíssimas paisagens que abrigaram muitas das belíssimas cenas da novela.

– Além do chroma-key, técnica de sobreposição de imagens, e da câmera travada, recurso que permitiu a duplicação de Eva Wilma na primeira versão da novela, “Mulheres de Areia” contou o memory-head, um microcomputador acoplado à câmera, capaz de comandar os movimentos desta. O dispositivo era utilizado nas cenas que exigiam maior movimentação de Glória Pires, ora como Ruth, ora como Raquel. Uma câmera sobre trilhos, também ligada ao memory-head, foi adquirida pela Globo especialmente para a novela, que contou ainda com o auxílio do ultimate, software que permitia um recorte mais preciso na fusão de cenas, em especial as externas.

– Mesmo como todo esse aparato tecnológico, Glória Pires precisou repetir onze vezes a cena em que Ruth estapeia Raquel, no ar no capítulo 168.

– Glorinha marcava todo o cenário com fita crepe. Tais marcações serviam para indicar o ponto para o qual ela precisava olhar, como se estivesse vendo sua “irmã gêmea”, e o momento de executar movimentos necessários às cenas. O ponto eletrônico também servia de guia; através dele, Glória sabia o exato momento de dar suas falas.

– As gravações eram sempre trabalhosas. As cenas do casamento de Raquel e Marcos consumiram mais de 11 horas de gravação. Carlos Magalhães, o mais habilidoso em sequências envolvendo as gêmeas, fora o responsável pelas tomadas realizadas na Capela da Reitoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

– Também foi difícil registrar o acidente de barco que levou todos a acreditarem na morte de Raquel. Lanchas e helicópteros a toda velocidade ajudaram a criar as fortes ondas que fizeram a embarcação virar. Nesta sequência, Glória Pires contou com duas dublês: Denise Só e Márcia Romão (que já havia assumido o posto de protagonista no banho de mar que Raquel toma no primeiro capítulo).

– O ator Ricardo Blat, cujo personagem, Marujo, teve um dos braços arrancado por um tubarão, também cortou um dobrado em suas cenas. A princípio, a equipe de caracterização confeccionou um colete de algodão que não cumpriu bem a função de esconder o braço “amputado”. Optaram então por uma cinta de emagrecimento, na qual o braço, posto para trás, ficava rente ao corpo. Ricardo se submetia a uma série de alongamentos para evitar a sensação de dormência no membro. E suas cenas, por orientação médica, eram gravadas em apenas 20 minutos, para evitar prejuízos à musculatura. O resultado disso tudo? O incrível trabalho de Ricardo Blat!

– Wolf Maya conduziu a direção de maneira espirituosa. Nas cenas da quermesse de Pontal D’Areia, em que alguns moradores tomam partido de Breno (Daniel Dantas), o prefeito, e outros de Virgílio, o vice (na questão relacionada às águas poluídas), Wolf pediu que os figurantes do signo de água (Câncer, Escorpião e Peixes) gritassem a favor de Breno e os de terra (Touro, Virgem e Capricórnio) a favor de Virgílio.

– As gravações da lua de mel de Marcos e Raquel, em Nova York, por pouco não foram interrompidas por conta do primeiro atentado a bomba ao World Trade Center, que matou seis pessoas e deixou mais de mil feridos. A equipe havia deixado a cidade no dia anterior, após registros no Central Park, na Quinta Avenida e no Hotel Plaza. Glória Pires aproveitou a viagem de trabalho para se divertir com o marido, Orlando Morais e as filhas Cleo e Antônia, aos seis meses de idade. Cleo, aliás, aparece em um dos capítulos, patinando no gelo, sob os olhares de Raquel e Marcos.

– A novela também contou com externas na praia de Tarituba, próxima a Parati, e em Angra dos Reis, mais precisamente no Hotel do Frade (na ficção, o hotel de Virgílio).

– Uma sequência na praia de Grumari, a festa de Iemanjá, mobilizou 31 médiuns de quatro terreiros do Rio de Janeiro. O sociólogo e estudioso da cultura afro-brasileira, Fernandes Portugal, prestou consultoria à equipe, alterando falas e ensinando gestos utilizados nos rituais de adoração feitos por Donato (Paulo Goulart).

– Uma casa no Alto da Boa Vista, Rio de Janeiro, alugada por US$ 1 mil por dia, serviu de locação para o núcleo dos Assunção. Já a fazenda de Virgílio, uma propriedade de 103 alqueires, ficava em Massambará, distrito de Vassouras, também no Rio, e havia abrigado, anteriormente, cenas de “O Salvador da Pátria”.

– Em “O Salvador da Pátria”, aliás, a dupla Chitãozinho & Xororó cantava em um show em homenagem a Sassá Mutema (Lima Duarte). Em “Mulheres de Areia”, os cantores surgem como atração de uma competição de esculturas na areia, da qual Tonho da Lua participa. Na versão original, o jogador Pelé foi um dos jurados da disputa. Em 1993, além de Chitãozinho & Xororó, a jogadora de vôlei Isabel e o locutor de rodeios Asa Branca marcaram presença na bancada do júri.

– Quem também participou da novela foram os artistas do Grande Circo Popular do Brasil, de propriedade de Marcos Frota. O espetáculo promovido por Vera, a esposa do vice-prefeito, visava a arrecadação de agasalhos. Alguns figurantes, desavisados, levaram peças, que foram doadas para uma campanha liderada por Herbert de Souza, o Betinho.

– O ator Serafim Gonzales, o Alemão da versão 1973 e o Garnizé da versão 1993, era o responsável pelas esculturas de areia, atribuídas, na ficção, a Tonho da Lua. Foi Serafim quem sugeriu a autora, sua amiga, dar ao personagem o ofício de escultor. Serafim e seu filho, Daniel, chegavam a fazer quatro esculturas por dia, para atender a demanda das cenas, e estavam a postos, em média, três horas antes da chegada da equipe. O trabalho, que consumia meio caminhão de areia, começava com a formação do montante de areia (realizada pelos escultores, em virtude da complexidade do trabalho). Alguns detalhes das esculturas eram finalizados por Marcos Frota, em cena.

– A banda Easy Rider, que cantava um dos temas de Malu, ‘Dirty Game’, também participou da novela. Na sequência, Malu organizava a gravação de um clipe da música, assessorando os integrantes da banda durante as tomadas.

– Sobre a trilha sonora, aliás, uma curiosidade: corre o boato de que Ivani Ribeiro vetou a execução de temas internacionais, tamanho o seu apreço pelos temas nacionais. Algumas faixas, no entanto, foram executadas durante a lua de mel de Raquel e Marcos, como ‘Easy’, de Faith no More. A vilã também ganhou tema internacional, ‘No Ordinary Love’, na voz de Sade. O mesmo para Malu e Alaor (Humberto Martins), com ‘Bed of Roses’, de Bon Jovi.

– Grande parte da trilha internacional pode ser ouvida na vinheta de encerramento da novela. Em 1993, a Globo deixou de apresentar o tema de abertura durante os créditos finais. Os temas nacionais e internacionais, antes restritos às cenas do próximo capítulo (também extintas), passaram a encerrar “Mulheres de Areia”, “O Mapa da Mina” e “Renascer”.

Mulheres de Areia

Laura Cardoso (Isaura), em “Mulheres de Areia” (Imagem: Divulgação / Globo)

– “Mulheres de Areia” estreou com 46,3 pontos, três a mais do que o primeiro capítulo de “Despedida de Solteiro”, em junho de 1992. A audiência da primeira semana superou não só a antecessora, como também “Felicidade” e “Salomé” (1991): 43,5 pontos de audiência!

– Os números cresceram ao longo da trama. No capítulo em que Raquel e Virgílio se reencontravam, os índices superaram os de “Renascer”, a maior audiência do horário da oito na década de 1990. A novela também bateu o “Jornal Nacional”, em várias ocasiões.

– O último capítulo chegou a impressionantes 70 pontos de pico, feito inédito para o horário das seis. O então vice-presidente de operações da Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, chegou a emitir um memorando felicitando a equipe de “Mulheres de Areia” pelo sucesso.

– Quem faturou, involuntariamente, como todo esse sucesso, foi a fabricante de eletrônicos Sharp. Em 1993, a Globo havia implantado um novo modelo de merchandising, no qual o anunciante tinha o direto de exibir sua logomarca durante a veiculação de filmes (algo que se repete até hoje, com o anunciante da “Tela Quente”, por exemplo, tendo sua marca exposta no início de cada bloco do longa-metragem em cartaz). Por um erro técnico, a logomarca da Sharp surgiu durante um dos capítulos de “Mulheres de Areia”, mesmo não sendo a empresa patrocinadora da trama.

– Tamanho sucesso levou os executivos da TV Globo a arrancarem os cabelos na busca por uma substituta à altura de “Mulheres de Areia”. A princípio, cogitaram regravar “Irmãos Coragem”, inicialmente prevista para substituir “O Mapa da Mina”. Sérgio Marques responderia pelo roteiro; a imprensa já apontava José Mayer, Leonardo Vieira e Maurício Mattar como os protagonistas João, Jerônimo e Duda.

– O remake de “Irmãos Coragem” foi protelado, em virtude da semelhança de temas – a exploração de garimpos – com a próxima novela das oito, “Fera Ferida”. A partir daí, duas sinopses passaram a disputar a vaga: “Mãe e Filha”, de Alcides Nogueira, que posteriormente serviria de embrião para “O Amor Está No Ar” (1997); e “Alto da Serra”, trama de cunho abolicionista desenvolvida por Flávio de Campos e Marcílio Moraes.

– A Globo acabou escolhendo outro remake, concebido a partir de duas tramas de Teixeira Filho: “A Pequena Órfã” (1968) e “Ídolo de Pano” (1974) se uniram para dar origem a “Sonho Meu”, de Marcílio Moraes.

– Cogitou-se ainda a possibilidade de encurtar a novela das sete, “O Mapa da Mina”, marcada pelo insucesso, e alterar o horário de “Mulheres de Areia”, que passaria a ser exibida mais tarde. A medida fora descartada após a elevação dos números de “O Mapa da Mina”, que ganhou reforços no elenco e mudanças na direção.

– Antes, porém, para conter a fuga de telespectadores para o “Aqui Agora”, do SBT, a Globo diminuiu o tempo de arte de “O Mapa da Mina”, aumentando a duração dos capítulos de “Mulheres de Areia” em 15 minutos.

– Uma curiosidade: os atores Eva Wilma e Gianfrancesco Guarnieri, da versão original de “Mulheres de Areia”, se reencontraram em “O Mapa da Mina”; ela, como Tatiana, uma milionária; ele, como Vicente, um vigarista.

Mulheres de Areia

Paulo Betti (Wanderley), em “Mulheres de Areia” (Imagem: Divulgação / Globo)

– “Mulheres de Areia” não foi sucesso só no Brasil. A novela também fez história no exterior. Um anúncio publicado pela Globo em revistas da Europa, para estimular as vendas de “Mulheres de Areia”, foi premiado pela revista TV World, como melhor campanha de mídia impressa de 1993. Dividido em três páginas, o cartaz trazia as características de Ruth, as de Raquel e a disputa das irmãs por Marcos.

– A versão internacional da novela, 130 capítulos de 60 minutos, fora exibida em países como Turquia, Suíça, Líbano, Israel, Indonésia, Grécia e Bélgica.

– Na Rússia, Mulheres de Areia foi apresentada como uma espécie de continuação de “Tropicaliente” (1994), que fez muito sucesso por lá sob o título de “Tropikanka”. A história de Ruth e Raquel, “Secret Tropikanki” (algo como “o segredo da mulher tropical”), era veiculada às oito da manhã.

– Na Rússia, o voto não é obrigatório. O canal que veiculava “Mulheres de Areia”, na intenção de incentivar eleitores a não viajarem e comparecerem às urnas, exibiu, no dia das eleições presidenciais, um capítulo especial da novela, com três horas de duração. As chamadas do canal induziam o telespectador a acreditar que aqueles seriam os últimos capítulos da novela; tratava-se, na verdade, da penúltima semana da trama. Em uma das zonas eleitorais, na cidade de Tambov, fora instalado um aparelho de TV, para que os fãs não perdessem a exibição. O aparelho, entretanto, explodiu, ferindo algumas pessoas e irritando aqueles que pararam para ver a novela.

– Um dos candidatos à presidência, Boris Iéltsin, chegou a divulgar que Glória Pires torcia por sua vitória. A atriz ainda enfrentou problemas com uma editora russa que publicou, sem autorização, diversas fotos de “Mulheres de Areia”, em um livro de 478 páginas que repercutia a trama da novela. Os editores sequer possuíam ligação com a emissora que veiculou “Mulheres de Areia” em território russo.

– Em 1994, a RTP exibia “O Dono do Mundo”, às oito e meia da noite. A novela fora substituída por “Mandala” (1987), enquanto na concorrente, SIC, “Mulheres de Areia” estreava. A SIC promoveu uma intensa divulgação, visando capturar o público que “ficou órfão” de Glorinha na concorrência. A estratégia deu certo. Visando retomar a liderança, a RTP estreou às pressas, com uma campanha publicitária arrasadora, “Fera Ferida”, que só entrava no ar quando “Mulheres de Areia” terminava. Pouco depois, diante da supremacia de “Mulheres de Areia”, inverteu os horários de “Mandala” e “Fera Ferida”. Ainda assim, a SIC continuou líder absoluta.

– Em 2002, a TV Globo cogitou produzir uma versão em espanhol de “Mulheres de Areia”, em parceria com a rede hispânica Telemundo, dos Estados Unidos. A adaptação disputava vaga com “Anjo Mau” (1976), de Cassiano Gabus Mendes, e “O Astro” (1977), de Janete Clair. Entretanto, o insucesso da primeira parceria Globo-Telemundo, uma versão de “Vale Tudo” (1988) para o mercado hispânico, levou ao engavetamento do projeto.

– “Mulheres de Areia” quase foi exibida pelo Canal Viva em sua estreia, em 2010. A Globo, na época, não liberou a novela, uma vez que pretendia reprisá-la no “Vale a Pena Ver de Novo”.

– A trama já havia ganhado reprise na faixa vespertina, entre 25 de novembro de 1996 e 25 de abril de 1997. Esse repeteco bombou! Os capítulos exibidos entre 03 e 09 de fevereiro de 1997 fizeram de “Mulheres de Areia” o quinto programa mais visto da Globo em São Paulo, com média de 31 pontos, estando assim à frente da trama das seis, “Anjo de Mim”, e a apenas um ponto do cartaz das sete, “Salsa e Merengue”. A novela também dividiu a grade com “O Rei do Gado” (1996) e “A Indomada” (1997), às oito, e “O Amor Está no Ar” (1997), às seis.

– Aliás, a Globo esticava ao máximo os capítulos de “Mulheres de Areia”, compensando assim a queda de audiência no horário nobre, principalmente na faixa de “Anjo de Mim”. A novela das seis passou a entrar no ar às seis e meia e o “Vale a Pena Ver de Novo” foi estendido, ocupando essa meia-hora de “atraso” na grade.

– Por conta dos índices de “Mulheres de Areia” – o mais alto dentre as reapresentações da década de 1990, 28 pontos, empatada com “Vale Tudo” (1988 / 1992) e “Tieta” (1989 / 1994) –, a Globo optou pela reprise de “A Viagem”, outro sucesso de Ivani Ribeiro, para substituí-la.

– Em 2011, veio a reprise que inviabilizou a exibição de “Mulheres de Areia” logo na estreia do Viva. Essa segunda reapresentação foi justificada como uma homenagem da Globo aos 60 anos de teledramaturgia no Brasil. A comemoração contou ainda com “O Astro”, de Janete Clair, adaptada por Alcides Nogueira e Geraldo Carneiro, inaugurando um novo horário, o das onze, e um novo formato de teledramaturgia.

– Em seu site, na mesma nota em que anunciava a reexibição da novela, a Globo informava que a abertura passaria por modificações. A nudez de Mônica Carvalho seria atenuada por não ser “compatível com os padrões morais atuais do país”.

– Não foi a primeira vez que a Globo alterou a vinheta de uma novela para exibi-la no “Vale a Pena Ver de Novo.” Em 1994, a abertura de “Tieta” foi escurecida e os créditos apareciam subindo a tela, como os de encerramento, ofuscando a nudez de Isadora Ribeiro. Em 1996, a abertura de “Mulheres de Areia” também foi modificada, mas de forma sutil, quase imperceptível ao telespectador mais desatento.

– O que muita gente não sabe é que a abertura de “Mulheres de Areia” já havia sofrido modificações em 1993. A versão exibida no “Fantástico”, no dia anterior a estreia, foi alterada três horas antes do primeiro capítulo ir ao ar. Tomadas em que os seios e os pelos pubianos de Mônica Carvalho eram expostos foram substituídas por sequências em que a então modelo aparecia quase que totalmente coberta pela areia. A decisão de suprimir tais cenas partiu de Boni, que alegou que a vinheta, tal qual fora exibida no dominical, “fugia da proposta da novela” (em entrevista à Folha de São Paulo, em 06 de fevereiro de 1993).

– A segunda reprise de “Mulheres de Areia” foi exibida entre 12 de setembro de 2011 e 09 de março de 2012. Neste período, a Globo levou ao ar as novelas “Fina Estampa”, às nove; “Morde & Assopra” e “Aquele Beijo”, às sete; “Cordel Encantado”, “A Vida da Gente” e “Amor Eterno Amor”, às seis.

– “Mulheres de Areia” só deu as caras no Canal Viva em 2016, às 15h30, dividindo a grade com “Laços de Família” (2000) e “Pai Herói” (1979) às 23h45; e com “Cambalacho” (2016), “Meu Bem, Meu Mal” (1990) e “Torre de Babel” (1998) às 14h30.

– O capítulo do dia era reapresentado à 01h30, após “Cambalacho”. Com o término desta, “Mulheres de Areia” passou a entrar na sequência de “Laços de Família”, por volta de 00h45, empurrando “Meu Bem, Meu Mal” para mais tarde.

– A novela assegurou o segundo lugar entre as mais vistas às 15h30, atrás apenas de “Tieta” (1989). O curioso é que o folhetim de Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares, baseado na obra de Jorge Amado, fora escalado, a princípio, para inaugurar o Canal Viva, em 2010, formando dobradinha com “Mulheres de Areia”. A reprise, porém, acabou vetada por questões de direitos; com isso, “Quatro por Quatro” (1994) e “Por Amor” (1997) foram os primeiros títulos exibidos pelo canal.

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Duh Secco é “telemaníaco” desde criancinha. Em 2014, criou o blog “Vivo no Viva”, repercutindo novelas e demais atrações do Canal Viva. Foi contratado pela Globosat no ano seguinte. Integra o time do RD1 desde 2016, nas funções de repórter e colunista. Também está nas redes sociais e no YouTube (@DuhSecco), sempre reverenciando a história da TV e comentando as produções atuais.

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Duh Secco

Duh Secco é  "telemaníaco" desde criancinha. Em 2014, criou o blog Vivo no Viva, repercutindo novelas e demais atrações do Canal Viva. Foi contratado pela Globosat no ano seguinte. Integra o time do RD1 desde 2016, nas funções de repórter e colunista. Também está nas redes sociais e no YouTube (@DuhSecco), sempre reverenciando a história da TV e comentando as produções atuais.