Sobre “Deus Salve o Rei”: Cabe a Ricardo Linhares a experiência que falta a Daniel Adjafre

Ricardo Linhares, supervisor de “Deus Salve o Rei” (Imagem: Bárbara Lopes)

O capítulo de “Deus Salve o Rei” exibido na última segunda-feira (23) indicou um “novo tempo” para a novela das 19h. Com a prisão de Afonso (Rômulo Estrela) – em confronto direto com o irmão Rodolfo (Johnny Massaro) –, e a perseguição de Catarina (Bruna Marquezine) a Amália (Marina Ruy Barbosa), o folhetim de Daniel Adjafre pareceu, enfim, ter encontrado uma história: a dos rebeldes, sensíveis às mazelas dos plebeus, que tentam destituir nobres com sede de poder.

É bem verdade que o enredo sempre foi este. Talvez tenha faltado ao autor, em seu primeiro trabalho como titular, habilidade para contá-lo. Os episódios mais recentes da trama explicitaram ações de personagens que, de certa forma, não ficaram suficientemente claras no desenrolar da narrativa – os motivos pelos quais Amália abandonou o castelo de Montemor, levando Afonso a abdicar do trono para acompanhá-la, por exemplo.

Já submetida a alterações anteriormente – a interpretação robótica de Bruna Marquezine foi “desativada” pelo diretor artístico, Fabrício Mamberti –, ‘Deus Salve’ agora está sob supervisão do tarimbado Ricardo Linhares. E talvez seja esta “intervenção” a responsável pelo conteúdo apresentado atualmente, mais atrativo do que o dos primeiros meses de exibição. Linhares é um dos mais experimentados autores da emissora.

De colaborador de Aguinaldo Silva em “O Outro” (1987) a colega na titularidade em clássicos como “Tieta” (1989) e “A Indomada” (1997), Ricardo passou por praticamente todas as faixas de teledramaturgia da Globo. Também dividiu os roteiros com Gilberto Braga. Foi redator do “Caso Verdade”, em 1983, e do “Viva o Gordo”, em 1986. Colaborou em minisséries como “O Tempo e o Vento” (1985) e “Anos Rebeldes” (1992). E implantou a até hoje exitosa “Malhação” (1995).

Também experimentou insucessos. Seus projetos próprios não foram constituídos, propriamente, em êxitos – embora “Agora é Que São Elas” (2003) tenha elevada a média do horário das 18h, preparando terreno para a bem-sucedida “Chocolate com Pimenta” (2003), de Walcyr Carrasco. Coautor da controversa “Babilônia” (2005) e supervisor da problemática “A Lei do Amor” (2016), Linhares é alvejado por críticas nas redes sociais. Bobagens de quem não conhece (ou admite) sua vitoriosa trajetória.

Fosse o supervisor de “Deus Salve o Rei” desde o início, Ricardo Linhares talvez tivesse aparado as muitas arestas do texto de Daniel Adjafre – relativamente “novo” no que tange às novelas, com apenas duas colaborações em obras de Lícia Manzo. Caso de Amália desmemoriada logo após o casamento com Afonso; do perfil cômico de Rodolfo, inapropriadamente convertido em carrasco; e de Lucrécia (Tatá Werneck), uma das figuras centrais do enredo, “jogada para escanteio” em um convento.

Há, obviamente, quem não encontre deslizes na novela das 19h – e é bem verdade que “O Outro Lado do Paraíso”, às 21h, demanda mais atenção do departamento de teledramaturgia diária da Globo (leia-se Silvio de Abreu), com sua trama inconsistente, personagens contraditórios e merchandisings sociais falhos. Acontece que ‘Outro Lado’ só cresce. ‘Deus Salve’ foi de 25,4 de média em janeiro para 25,2, no mês seguinte, e 24,7 em março, aproximadamente. Em algumas praças, já sente o “fungar” de “Os Dez Mandamentos” (2015), reprise da Record, em seu “cangote”.

A Globo acertou em aliar os diálogos ricos de Daniel Adjafre às habilidades de Ricardo Linhares como novelista. “Deus Salve o Rei”, um acerto em termos de produção (de figurinos a efeitos especiais) desde o primeiro capítulo, agora parece “ensaiar” uma boa história. O horário das 19h demandava este “respiro criativo” – desde que bem feito. Resta saber se o público ainda reserva esperanças sobre a novela.

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Duh Secco
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Duh Secco

Duh Secco é  "telemaníaco" desde criancinha. Em 2014, criou o blog Vivo no Viva, repercutindo novelas e demais atrações do Canal Viva. Foi contratado pela Globosat no ano seguinte. Integra o time do RD1 desde 2016, nas funções de repórter e colunista. Também está nas redes sociais e no YouTube (@DuhSecco), sempre reverenciando a história da TV e comentando as produções atuais.