Vai uma Tele Sena? Privatização dos Correios com digitais do genro de Silvio Santos é irônica demais
A Câmara dos Deputados aprovou nesta quinta-feira (5) o texto que abre caminho para a privatização dos Correios. O projeto seguirá para análise do Senado.
Para justificar a privatização da empresa, que tem mais de 90 mil empregados, o governo federal afirma que há uma incerteza quanto à autossuficiência e capacidade de investimentos futuros por parte dos Correios.
Na avaliação do Governo Bolsonaro, isso reforça a necessidade da privatização para evitar que os cofres públicos sejam responsáveis por investimentos da ordem de R$ 2 bilhões ao ano.
Porém, segundo o UOL, os Correios têm histórico de lucros. Nos últimos 20 anos, geraram ganhos de R$ 12,4 bilhões e repassaram 73% desse valor ao seu único acionista: o governo federal.
Ao lado da Anatel, EBC e Telebras, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (Correios) é uma das quatro entidades veiculadas ao Ministério das Comunicações, cuja pasta tem como ministro Fabio Faria, esposo de Patrícia Abravanel e genro de Silvio Santos.
Presentes em todo o Brasil, os Correios são responsáveis pela execução do sistema de envio e entrega de correspondências no país. Também executa a distribuição de encomendas em todo o território nacional, bem com presta outros serviços de apoio ao Governo – em todas as esferas – e de apoio à população, como nas eleições.
Além das peculiaridades que rondam essa privatização, por muito tempo os Correios serviram como ponte entre as “colegas de auditório” e o sogro do ministro. Sim, centenas de milhares de cartas e telegramas eram enviados aos programas do SBT, em especial aos da principal estrela do canal, Silvio Santos.
A privatização da estatal sob Fabio Faria é de uma ironia absurda. E esta coluna ama uma ironia. O genro do maior comunicador do país insere suas digitais em um processo que porá fim a um dos símbolos da comunicação do Brasil como conhecemos hoje.
Além de cartinhas e telegramas, os Correios serviram por muito tempo como posto de entrega das mercadorias do Baú da Felicidade. Talvez o Fabio não saiba o que venha a ser o Baú da Felicidade, afinal, pouco importa, tá ok? Com o avanço da internet, essas “coisas” caíram em desuso. No entanto, até hoje os Correios vendem a Tele Sena. Sim, o tão fundamental título de capitalização para manter o SBT de pé esses anos todos.
Em seu site, a emissora informa: “A Tele Sena é um título de capitalização que dá prêmios em dinheiro. Os consumidores podem adquirir sua Tele Sena em casas lotéricas ou agências dos correios por R$ 10,00 e após um ano, pode resgatar 50% do valor pago, com juros e correção monetária”. Que irônico, não?
Mas vem cá, alguém ainda compra Tele Sena em pleno 2021? Azar do SBT, que depende do título de capitalização, em franca decadência desde o início da década passada. Se bem que para quê agências dos Correios e lotéricas, né? É só pendurar um varal com umas Tele Senas na entrada de toda loja Havan. Faz arminha, Fabio!
João Paulo Dell Santo consome TV e a leva a sério desde que se entende por gente. Em 2009 transformou esse prazer em ofício e o exerceu em alguns sites. No RD1, já foi colunista, editor-chefe, diretor de redação e desde 2015 voltou a chefiar a equipe. Pode ser encontrado nas redes sociais através do @jpdellsanto ou pelo email [email protected].